terça-feira, 14 de maio de 2013

Benfica de barba rija

No dia que perdemos na Turquia decidi não fazer mais a barba. Só a volto a cortar se vencermos as 3 competições ou quando perdermos qualquer uma dessas três.

Fezada, superstição, refúgio psicológico, chamem-lhe o que quiserem. A verdade é que tinha (e tenho!) confiança suficiente no Benfica para "pagar as minhas promessas". Depois do último clássico no Dragão perdi alguma fé nestas coisas do Bem VS Mal. Se o Benfica vencer a Liga Europa, a Taça de Portugal, a Supertaça Portuguesa e a Supertaça Europeia SEM vencer este Campeonato, aquele remate aos 92' vai demorar anos a desaparecer na minha memória.

Aquela derrota é a mais dolorosa que vi do Benfica (e vivi o período mais negro da nossa História, com muitas derrotas humilhantes, como os 7 de Vigo, por exemplo). Foi um castigo demasiado pesado da forma como tudo aconteceu.

Talvez o destino nos tivesse virado as costas ao minuto 19 do Benfica-Estoril. Com aquela lesão de Enzo Pérez - um craque dos pés à cabeça -, o Benfica, que até aí tinha sido avassalador (como havia sido com os turcos, dias antes) pareceu eclipsar-se. Para ironia do Destino, o seu substituto, Carlos Martins, acabaria expulso com 2 amarelos completamente ridículos.

Com Enzo em campo atropelámos o Estoril e falhámos umas 3 ocasiões de golo claríssimas; sem Enzo, a equipa desceu do Purgatório ao Inferno. Mas este não era o Inferno de 65.000 fiéis em apoio, era o Inferno de deixar de ser a única equipa dependente de si para ser Campeã, com um clássico logo a seguir.

A pressão, para mim, estava toda no Porto, eles é que tinham de ganhar, eles é que não podiam falhar. E viu-se como não lidaram bem com isso (habituados a disputar estes jogos com grandes almofadas pontuais). Por sua vez, o Benfica sabia que ainda controlava o seu destino e "apertou a faca com os dentes" e foi para a "guerra".

O primeiro golo sofrido (estranhíssimo; tanto a "abordagem" de Maxi - de costas - como a não-defesa de Artur) e ainda por cima 5 escassos minutos depois de nos colocarmos em vantagem, impediu que o pânico se instalasse verdadeiramente no reduto do adversário.

Continuámos a lutar, a nossa confiança crescia a cada minuto, por oposição ao desespero crescente do Porto. Até que a 2 minutos do 33º, um golpe de sorte (há tanta coisa incrível neste lance....começa com um lançamento lateral nosso (!) no meio-campo ofensivo; há várias probabilidades de interceptar o lance; há uma equipa subida (em demasia?) tentando afastar o perigo da nossa área; há uma tentativa de intercepção de Maxi que, a resultar, teria sido perigosíssima para o adversário, um lateral mais comedido teria feito contenção, marcado zona em vez de tentar ser feliz com um roubo de bola; o passe de Liedson é mau, não é feito no espaço e leva demasiada força; o domínio desse mau passe permite a Kelvin pontapear a bola no ar (rasteira, a bola nunca teria aquela colocação ou força) como último recurso; até este momento - e mesmo com alguns erros mencionados - o lance não demonstra qualquer perigo (para quem o vê e para quem está no terreno), mesmo o remate parece ter zero chances de criar perigo, talvez esse "relaxamento" (de Aimar entre outros que não "foram até ao fim" ainda no meio-campo; de Roderick que fez "zona" quando podia ter feito "homem" e cedido canto por exemplo - talvez o mesmo Roderick pensasse ser preferível permitir um remate dali a ceder um canto que poderia trazer mais perigo, mas um defesa não pode nunca ter esse "pensamento"-; de Artur que também terá pensado que "dali nunca entra" e que se terá lançado "tarde") tenha resultado num castigo excessivo.

Diz-se que só o Porto procurou ser feliz e que foi compensado por essa predisposição. Tudo bem, mas quantas e quantas vezes somos nós que arcamos com as despesas do jogo e não vencemos ?? Mais, raramente temos mérito nesses desafios, pois a nossa imprensa realça a boa "estratégia" adversária ou o clássico defenderam bem.

O Benfica terá traído os seus princípios de jogo por troca de um título (que acabou por não chegar), mas fê-lo de forma raçuda, compacta e unida. Mostrou atitude e união. Mas fomos traídos pela sorte, porque perder daquela forma não revela grande mérito ou jogada táctica, foi uma sorte descomunal, e acontecer aos 92' é castigo demasiado pesado.

Restam-nos 2 finais. Mas sem o mesmo sabor, falta tempero, porque a última derrota foi dura demais para podermos "ainda" festejar o melhor. E essas vitórias que podemos alcançar parecem ter perdido algum relevo face à última derrota.

Mas a minha barba continua aqui rija, ainda não perdemos nada. Que os nossos jogadores e o Benfica mostrem também a sua face mais dura nos compromissos que faltam. Já vi o Benfica em finais europeias, mas nunca vi uma vitória nessas decisões, pode ser amanhã ?

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