domingo, 1 de dezembro de 2013

Os Arcos do Triunfo

O jogo mais difícil da nossa Quaresma (e não me refiro ao facto de Miguel Quaresma acompanhar Raul José no banco, mas sim à ausência do nosso Jesus) era esta deslocação ao Estádio dos Arcos, senão veja-se que nos últimos 5 anos contamos dois empates e três vitórias (sempre pela margem mínima - 1-0 ; 1-0; 2-1) na casa do Rio Ave.

Acresce a estes dados o vírus Champions, que transforma o jogo seguinte à mais difícil prova do Mundo de Clubes numa incógnita face ao desgaste acumulado. O Rio Ave, apesar do mau momento em casa, é uma boa equipa, com bons jogadores e bem orientada.

O jogo foi morno na primeira parte com destaque apenas para o nosso golo, Rodrigo desmarca Lima na esquerda, este cruza tenso para a área, onde, após falha do GR adversário, o mesmo Rodrigo que havia iniciado a jogada conclui sem dificuldade. 0-1 para nós e Rodrigo, outra vez a marcar.

No segundo tempo sofremos o empate por falta de concentração; cruzamento largo, André Almeida (hoje defesa esquerdo, mas muito competente) tentou fechar ao centro e não conseguiu desviar a bola com eficácia, o seu cabeceamento falhado cai nos pés de Ukra (sorte deste) que bateu Artur (saiu rápido da baliza mas não evitou o golo).

Depois do empate o Benfica voltou a "carregar" e viveu os seus melhores momentos no jogo. O empate seria quebrado por um golaço de Lima, que num livre directo rematou num arco perfeito e com a bola a entrar ao ângulo. Uma assistência e um golo para Lima e outro golo de Rodrigo, dois jogadores que viviam uma época apagada face ao brilho de Cardozo, e que nos deram a vitória neste difícil encontro.

Depois do 1-2 o Benfica continuou a jogar bem e chegaria ao terceiro. Desta vez inverteram-se os papéis em relação ao 1º golo: Rodrigo assistiu Lima (que minutos antes havia falhado um golo feito) e este, de primeira, fez o resultado final. A liderança do Campeonato já não escapava.

Rodrigo & Lima foram os artífices desta vitória (ambos com uma assistência), com 2 golaços de Lima e um "fácil" de Rodrigo, mas no geral gostei da atitude de toda a equipa. Fejsa parece-me ser um cabeça de área muito interessante, numa função similar a de Javi Garcia, pode ainda não ter a contundência do espanhol, mas parece-me melhor no primeiro passe de construção.

Enzo Pérez nunca joga mal, e, hoje por hoje, é o grande motor da equipa. André Almeida está um senhor jogador e é opção válida para qualquer um dos corredores (será um crime se não fizer parte dos eleitos para o Mundial do ano que vem).

Segue-se o Arouca em casa já na sexta-feira (gostei que Matic tivesse levado amarelo no final do jogo, cumprindo assim o castigo num jogo mais "simples" como o próximo e repousando para a última jornada da Champions, além de estar disponível, e não condicionado, para jogos mais importantes do Campeonato) e na terça seguinte, o PSG na Luz, para vencer e perceber se o nosso trajecto europeu em 2014 continuará na LC ou na LE.

P.S. - grande jogo do Benfica B (3-1 ao Porto B) que está recheado de grandes atletas, o nosso futuro passa por ali.

P.P.S. - salientar o minuto de silêncio de Benfica e Rio Ave face à morte do pai de Fábio Coentrão, a ele e à família as minhas sentidas condolências.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Destino nos nossos pés

Jesus teve um "intervalo" no castigo, voltou ao banco e... decidiu. Ok, tirar dois dos melhores em campo (Enzo e Gaitán) para que entrassem Sulejmani (praticamente sem jogar desde Agosto) e Rodrigo (numa forma horrível e a quem tudo parecia sair mal) não pareciam golpes de génio, mas resultaram numa vitória inédita no terreno do Anderlecht, portanto kudos JJ.

Mas voltemos ao início do jogo. O Anderlecht estava a 3 pontos do Benfica e via uma chance única para entrar na disputa pelo 3º lugar e consequente qualificação para a Liga Europa. Renascidos com o empate conseguido no Parque dos Príncipes (na jornada anterior), os belgas agarraram-se com unhas e dentes a esta última oportunidade. Têm uma equipa jovem recheada de bons valores (Praet, Mbemba, Bruno, Mitrovic e Suárez que não jogou por lesão) e com muito potencial, mas falta-lhes ordem e disciplina táctica.

O Benfica entrou melhor mas viu-se cedo a perder. Depois do 1-0, o Anderlecht chegou a ter uma linha de 6 defesas, num atípico 6-3-1, onde tinha 3 jogadores no centro do terreno e Mitrovic como "corpo estranho", o avançado isolado. Nós tínhamos muitas dificuldades em trocar a bola criando perigo e sucediam-se as perdas de bola infantis. Também não houve as solicitações às diagonais de Markovic, portanto furar aquela linha de 6 só surgiria numa bola parada.

E foi Matic a fazer golo de novo. Livre bem batido por Enzo Pérez (enorme jogador) para a zona entra a defesa e o GR, e Matic a cabecear para o empate. A equipa pareceu acreditar nela própria e este desafio estava longe de ser resolvido. No início da segunda parte, Gaitán (transfigura-se na Champions, e ontem via-se que queria fazer "estragos", estava com fome de bola) tem um grande lance, onde acaba por ser desarmado pelo último adversário - devia ter solto a bola antes desse momento - e estatela-se. A bola sobra para o omnipresente Enzo, Gaitán levanta-se e cria uma linha de passe para o compatriota, Pérez faz um passe simples e directo e deixa Nico Gaitán na frente do GR. Estando descaído para a direita, Gaitán não pode visar a baliza com o seu pior pé, faz então uma rotação ao mesmo tempo que domina a bola, preparando o remate com o pé esquerdo, que executa de seguida, a bola ainda bate num adversário antes de entrar na baliza. Com 52', o Benfica passa pela primeira vez para a frente do marcador.

Tudo parecia encaminhar-se para uma vitória tranquila e para um avolumar do resultado, mas falta classe a este Benfica, que não só não soube matar o jogo como permitiu o empate com menos de 15 minutos para o final. Esse golo entrou pelo poste que cabia a Artur, mas a violência do mesmo talvez sirva de desculpa, não se pode é desculpar a fraca pressão defensiva dos jogadores benfiquistas, sobretudo a Vanden Borre, que, a passo, escolheu onde e a quem meter a bola.

Se a nossa exibição já vinha perdendo cor, a perda da vantagem (e consequente adeus à Champions) parecia ser o nosso fim. Teria JJ poupado Gaitán (por Sulejmani) demasiado cedo? O argentino parecia capaz de, num lance de génio, fazer o check mate aos belgas e o sérvio Sulejmani nada tinha acrescentado.

Nova bola parada. Se há coisa em que Sulejmani é bom é a cruzar e a bater bolas paradas. Cruzamento perfeito do sérvio a isolar Luisão em jogada de laboratório (Luisão colocou-se no vértice da área, apareceu Markovic a bloquear - no limiar da falta... - o marcador de Luisão) mas o capitão falhou inexplicavelmente o cabeceamento sem ninguém a importuná-lo.

Com pouco engenho mas muita adrenalina, o Anderlecht também criava frisson na nossa área (bem Artur nesta fase) e apesar da forma atabalhoada (e de muitos erros nossos) ameaçava marcar. É na sequência de um desses lances que Maxi (hoje muito pouco afoito ofensivamente, ordens de Jesus certamente) dá um "charuto" na bola e Lima vai disputá-la sobre a linha divisória. E é este o momento decisivo para mim - o lance de Lima - porque é no cabeceamento excelente de Lima que se constrói o golo da vitória. Ofensivamente o Benfica disputa poucas bolas aéreas (Lima, Cardozo e Rodrigo ganham poucas, mas disputam menos lances destes do que os que deviam), os nossos avançados parecem ter pouca confiança neste gesto muitas vezes fundamental. Mas neste caso Lima encheu-se de fé e procurou uma bola perdida, aliviada por Maxi, a sua crença permitiu-lhe não só ganhar o lance como ainda deixar a bola redondinha nos pés de Sulejmani. O sérvio deu dois passos e isolou Rodrigo com um passe simples, o malogrado Rodrigo (entrado há 3 minutos apenas havia feito uma falta, inexistente diga-se) estava isolado em frente ao GR belga, no minuto 90 da partida.

O hispano-brasileiro deu um toque na bola (o seu 1º no jogo) preparando o remate com o pé esquerdo... (por momentos pensei no seu falhanço de Nou Camp...) e o seu segundo toque na partida foi o remate para a baliza. Um remate como têm sido as suas prestações: desajeitado, trapalhão e sem grande objectividade. Mas esse remate "tosco", além de bater nas pernas do desamparado Proto, deu golo! Deu golo, deu a vitória, deu 1M de euros e sabe-se lá se não terá sido o início da tragédia grega...para os gregos (que mais ou menos nessa altura sofriam o 2-1 que os derrotava em Paris).

Não satisfeitos com a improbabilidade de uma vitória nos últimos suspiros de um desafio, os benfiquistas em campo ainda acumularam 2 ou 3 erros de bradar aos céus nos restantes minutos de compensação. Parecia que queriam mesmo "animar o ambiente" até ao último segundo. Último segundo que aconteceu quando 2 jogadores nossos iam isolados para a baliza belga apenas com o GR como oposição, mas o urso do árbitro decidiu apitar, um tal de Daniele Orsato, pois...

Fejsa mostrou que é um bom elemento e vai ser muito útil. Artur falhou num cruzamento mas de resto pareceu-me concentrado (no lance do 2-2 tem atenuantes). Enzo e Matic são craques, têm muita classe mas...são apenas 2 jogadores. Markovic é um génio mas precisa compreender rapidamente que não vai ter lances maradonianos todos os jogos. Lima fez um bom jogo, competente e Rodrigo esperemos que tenha acabado com o péssimo momento que atravessava.

No final uma coisa me chamou a atenção, Matic disse algo como «também podemos ganhar jogos no último minuto». O que mostra que os jogadores ainda não estão (ou não estavam) refeitos dessa praga de sofrer golos no fim. Mas talvez se tenha invertido uma tendência neste jogo.

P.S. - muito difícil e importantíssimo o jogo que se segue frente ao Rio Ave. Nunca temos facilidades naquele campo e quando vencemos são sempre jogos duríssimos com vantagens magras. Ora vindo nós de um jogo de Champions (e o Rio Ave é uma das boas equipas da Liga) a dificuldade aumenta...mas é imperioso vencer! Por isso, todos ao Estádio dos Arcos apoiar o Maior!!!

sábado, 23 de novembro de 2013

Nemanja Matic 1-0 Braga

Regresso do Benfica ao Campeonato depois dos 2 únicos bons jogos da época, e após pausa das selecções (que por norma nunca são benéficas aos clubes vencedores). Se isso não era handicap suficiente, tivemos um Benfica sem 2 pedras cruciais: Cardozo (lesionado) e Jesus (castigado 30 dias). O prenúncio não era bom, mas havia a hipótese do crescimento da equipa continuar neste jogo, difícil, frente a um Braga que "cresce" nos jogos connosco.

O que se viu foi uma equipa com pouca motivação (que se tinha visto em Atenas e no derby para Taça de Portugal) e a jogar pouco, em esforço e com muita pouca inspiração. O Braga acumula várias derrotas seguidas no Campeonato e ocupa um lugar a meio da tabela mas é um adversário de valor e complicado de bater. Os nossos jogadores não pareceram entender isso e disposeram-se como se do outro lado estivesse a Naval (mais cedo ou mais tarde já marcamos...). Sem Jesus no banco falta a voz que dá intensidade e não permite relaxamento aos jogadores e a sua falta notou-se...

Entrámos lentos e lentinhos chegámos ao final dos primeiros 45 minutos. Da intensidade que asfixiou Sporting e Olympiakos nem sombra. Uma única chance de golo, num ressalto depois de um canto, com Matic a rematar ao lado em posição privilegiada perto da pequena área. Entretanto o Braga já tinha enviado uma bola à trave (Artur defendeu) por Éder (grande jogador, ponta de lança robusto, mas móvel e bom tecnicamente, tanto rende sozinho na frente como acompanhado) e tinha demonstrado saber tapar todos os caminhos da sua baliza sem grande esforço. Jesualdo teve a bênção de Cardozo não estar em campo, mas estudou bem a lição e não se vislumbrava forma de derrubar os bracarenses.

Lima batalha muito e corre kms, mas não se fixa na zona 9 (do PL), era comum vê-lo descair nas alas e não termos um único jogador na área. A única sensação de perigo vinha das diagonais de Markovic que apareceu algumas vezes isolado na cara do GR, mas ou o passe era mau, ou falhava a recepção, ou estava em fora de jogo. A única maneira de penetrar a organização defensiva eram mesmo as desmarcações do prodígio sérvio, mas a qualidade do nosso passe, no jogo de hoje, foi abaixo da média; quando comparada com o último jogo (VS Sporting) então ficou muito abaixo mesmo.

Com facilidade em anular o Benfica, o Braga voltou a enviar uma bola à trave na 2ª parte e mostrou que podia mesmo marcar e deixar-nos em muito maus lençóis, pois a nossa parte ofensiva chegava a ser caricata. Djuricic, Rodrigo e Lima mostraram que os números que apresentam não são fruto do acaso ou de qualquer "birra técnica". Djuricic teve UM lance de registo - já na 2ª parte - quando fez um passe para Markovic atirar por cima da barra, já dentro da área. Um jogador da qualidade de Filip Djuricic não pode passar 50 minutos "escondido" em campo e a acumular erros atrás de erros, más decisões atrás de más decisões, foi mau demais. Fica a certeza, não acho que Djuricic volte a fazer um jogo tão fraco como o de hoje.

Rodrigo então, nota-se que está completamente fora de forma desde o primeiro toque na bola. Há alturas em que um jogador faz golos de qualquer maneira e feitio (está en racha) e outras em que nada sai, Rodrigo está num desses momentos horríveis onde falha passes de metro e meio e parece um corpo estranho. Rodrigo tem a desculpa de em determinado momento ter passado a jogar no flanco esquerdo e as preocupações tácticas e defensivas o terem "limitado" ainda mais, mas o péssimo momento de jogo de Rodrigo já se arrasta há muito...e oportunidades não lhe faltaram.

Lima está um jogador banal. Lá está, é esforçado e batalhador, mas esta época parece ter perdido a estrelinha da época passada onde facturava consecutivamente. Hoje, com um Éder do outro lado (em condições tácticas semelhantes) Lima pareceu pequenino...

Posto isto...ainda conseguimos vencer o jogo. Como ? Matic. Porquê ? Nemanja Matic. O sérvio voltou a ser a aranha e parecia omnipresente enchendo o campo. Se no primeiro tempo foram as arrancadas de Enzo Pérez (não sabe jogar mal) a dar alguma electricidade à equipa, na segunda metade Matic decidiu fazer o trabalho dele e de mais 2 ou 3 e depois de roubar a enésima bola, foi por ali fora e fez o golo da vitória num bom remate de pé esquerdo. E esse lance é a analogia perfeita do jogo, teve que ser Matic a fazer tudo sozinho: a roubar a bola ao adversário; a transportar a equipa para a frente; a rematar; e até a fazer o golo!

E a grande memória deste jogo vai mesmo para a celebração de Nemanja Matic com os adeptos após o golo (fez-me lembrar o golo de Coentrão, no último segundo frente ao Marítimo). Diz-se que pode estar perto da saída (a confirmar-se a eliminação da Champions é garantido - para mim - que o Benfica venderá um jogador em Janeiro) o que me parece um cenário nefasto para o Benfica, Matic é, hoje por hoje, um dos três melhores '6' do Mundo e o melhor jogador do plantel. Arriscaria mesmo dizer «vendam quem quiserem, menos o Matic!». A economia, o défice, o passivo são terríveis, mas perder Matic em Janeiro era hipotecar muito do futuro desportivo (que com ele entre nós pode ser de sucesso e consequentemente um desanuviar no capítulo financeiro), portanto, a termos que vender alguém em Janeiro considerem o Matic intocável. O sérvio é um fabuloso jogador mas é também um tremendo ser humano e devia ser baseado no Matic que o futuro do Benfica se devia escrever, já sei que a economia é madrasta e que clubes mais poderosos tornam quase impossível a sua continuidade por muito mais tempo, mas um jogador do perfil de Nemanja Matic merece todos os esforços.

A vitória foi fundamental, mas o entusiasmo voltou a arrefecer devido à prestação medíocre da equipa, segue-se uma dura batalha, 4ª feira em Bruxelas. Se vencermos poderemos ter um fim de ano civil em grande, perdendo será um grave passo atrás no espírito e moral da equipa. Mas nós somos o Benfica, resta-nos esperar pelo melhor e acreditar sempre nos nossos. E PLURIBUS UNUM

domingo, 10 de novembro de 2013

Do Pireu ao Casual

A época 13/14 do Benfica chegava a Novembro sem uma única goleada (0-3 à Académica é algo trivial) e, pior ainda, sem uma grande exibição. A depressão do final da época passada teimava em prolongar-se num jogo sem chama nem inspiração, a equipa "apenas" sobrevivia, parecendo desconhecer os rasgos de génio do passado.

Foi preciso chegar o dia 5 de Novembro de 2013 para o Benfica "engatar" finalmente a primeira grande "jogatana" da época. Em Atenas vimos talvez o Benfica mais demolidor e autoritário, em jogos fora, na Champions. Talvez só o confronto do Nou Camp, na época passada, possa ficar próximo. Mas tal como nesse jogo, não vencemos. E, muito provavelmente, despedimo-nos desta edição da Liga dos Campeões (cuja final será no nosso Estádio).

Os gregos, como locais, são sempre um ambiente e equipa difíceis, mas desta feita devem ter agradecido aos deuses vencerem um jogo onde foram esmagados durante 90 minutos. O Olympiakos deve ter feito uns 3 remates (apenas 2 no alvo) durante toda a partida (o que lhes rendeu um golo), enquanto nós desperdiçámos mais de meia dúzia de ocasiões flagrantes.

As oportunidades de golo sucederam-se durante todo o jogo, e quase todas escandalosamente falhadas. Sim, Roberto fez um bom jogo e teve algumas defesas soberbas, mas também houve demérito nosso noutras ocasiões. O empate era injusto, a derrota um escândalo.

Mas ficou a primeira grande exibição da época, uma atitude inexcedível do primeiro ao último segundo, arrisco dizer que se tivéssemos demonstrado sempre aquela vontade, raça e ambição...esta estaria a ser uma época fabulosa. Mas infelizmente, o jogo jogado de Atenas foi a excepção numa época amorfa. E posto isto, dificilmente não dissemos adeus à Champions, precisamos vencer em Bruxelas e derrotar o PSG na Luz (e mesmo assim, com esses 10 pontos, podemos estar fora). Acho que vamos derrotar os franceses, com maiores ou menores dificuldades o Benfica é melhor equipa que estes "novos ricos" da Cidade Luz, e jogando em casa somos muito difíceis de bater. O que me preocupa é o desafio com o Anderlecht, porque além de terem excelentes jogadores, o empate que obtiveram frente ao PSG devolveu-lhes as esperanças e, se vencerem o Benfica ficam com os mesmos pontos que nós (4), portanto vão dar tudo para nos derrotar. Vencer em Bruxelas vai ser muito, muito difícil.

Depois de Atenas (e da sensação agridoce) seguia-se o Sporting para a Taça de Portugal. Voltámos a entrar muito bem, e o jogo parecia uma continuação de Atenas, roubávamos bolas atrás de bolas e sufocávamos o adversário que pura e simplesmente não conseguia jogar. Sílvio e Amorim tinham sido excelentes surpresas em Atenas, ambos realizando excelentes exibições (confesso-me bastante mais surpreendido com o Sílvio porque o achava desnecessário - sempre é melhor que o Cortez... - mas o português fez questão de me desmentir arrancando 2 grandes jogos: muito seguro a defender, competente nos duelos individuais e a associar-se ao ataque com propósito e frequência) que confirmaram no derby. Aliás, a saída de Ruben Amorim por lesão (mais uma, possivelmente grave) abanou significativamente a equipa, que até aí tinha sido imperial.

Mas voltemos ao derby. Houve um pormenor que me chamou a atenção, num centro de terreno bastante povoado, o Benfica tinha uma posse de bola com muita qualidade, fazendo trocas de bola sucessivas entre os seus atletas com bastante precisão. Não se viam alívios disparatados ou passes para a zona, houve muito critério, mesmo nos desarmes de bola os nossos jogadores deixavam a bola jogável para um companheiro, e para mim esse é um dado que revela confiança, trabalho táctico e que não se deve ignorar. Num jogo como um derby é natural que um jogador não queira falhar e as defesas tentam ser mais implacáveis que "bonitas", portanto foi muito interessante ver a classe dos nossos jogadores e a preocupação em "fazer bem", em manter a bola jogável em nossa posse.

Cardozo fez o primeiro cedo mas a equipa continuou autoritária e dominadora não cedendo qualquer veleidade ao Sporting. O empate surgiria contra a corrente do jogo. Uma perda de bola infantil e raríssima até então, fez deslocar Luisão da área, surgiu um excelente cruzamento (e cuidado que Capel pode estar offside nesse momento, tentem rever melhor esse lance) e Capel, sozinho (o seu marcador, André Almeida, foi fechar ao meio na falta de um central) empatou o jogo.

Mas a equipa não abanou e continuou a jogar bem, com personalidade. Apareceu então Gaitán e....Oscar Cardozo que fez um hat-trick em 45 minutos com 2 golaços ambos a passe do Nico. Um cabeceamento irrepreensível no ângulo e um tiraço à Cardozo sem chance de defesa. Chegava o intervalo com justíssima vantagem de 3-1 e mais uma excelente exibição.

O Benfica estava compacto e não permitia veleidades ao adversário, até surgir o 3-2 (de canto outra vez, tal como em Atenas) e a lesão de Amorim. O jogo ficou equilibrado mas sem grandes chances. Só no final dos 90 minutos o Sporting se aproximou, primeiro com Slimani isolado a atirar ao poste e depois, já nos descontos, o mesmo jogador a empatar, de cabeça, em mais uma bola parada. Em jogo jogado, o Sporting foi muito inferior e só nas bolas paradas chegou ao golo, acho que até mais por demérito nosso (começa a haver frisson quando temos que defender esses lances e o psicológico dos jogadores, de ambas as equipas, reflecte-se no terreno) do que por alguma genialidade do outro lado. Aliás, a falta que origina o empate já nos descontos, é de uma infantilidade atroz do Ivan Cavaleiro (é um bom jogador, mas não é nenhum fora de série e ontem terá acusado alguma pressão). Um jogador de costas para a baliza não é um perigo eminente, o Ivan só tem que contemporizar e proteger o espaço, não precisa atropelar o adversário, não fazem sentido faltas destas em alta competição.

Com 90 minutos de Atenas nas pernas (recorde-se que o Sporting joga de semana a semana; e agora nem isso...), o prolongamento não se previa risonho. Primeiro porque animicamente o Sporting ganhou um alento gigantesco e, inversamente, os nossos jogadores sofreram um golpe (mais um) duríssimo; e depois, na parte física, nós vínhamos de um jogo da Champions em Atenas e eles do cansativo hobbie de meio da semana: ver o Benfica na TV.

Mas o prolongamento traria justiça e a passagem do Benfica à próxima eliminatória da Taça de Portugal. E foi Luisão (mais uma vez) a dar a vitória num jogo épico. É um frango monumental, mas a verdade é que Luisão cabeceou mesmo a bola e deu-nos a vitória num dos lances mais caricatos que há memória. Curiosamente, dois dos ódios de estimação dos lagartos (Cardozo e Luisão) voltaram a dizer olá. É comum eles dizerem que nenhum dos dois jogam nada e que não tinham lugar no Sporting, eu até os percebo, um não para de lhes fazer golos atrás de golos, o outro não faz muitos, mas quando marca...isso significa o adeus do Sporting a uma competição, portanto eu até entendo a azia descomunal que eles sentem para dizer tamanhas barbaridades.

Por fim o árbitro. Este senhor Duarte Gomes apitou o último derby na velha Catedral, derby famoso pelo derrube do ar a Jardel, numa das mais patéticas marcações de penalty que há memória. O Benfica empatou 2-2 esse jogo, e chegou a fazer o 2-0 reduzido a 10, mas Duarte Gomes empatou a contenda. Portanto de árbitros assumidamente benfiquistas estamos conversados (se Proença não bastasse...).

Mas vamos aos lances do derby. No primeiro golo do Sporting reclamou-se off-side de Montero, mas não existe, só que no momento do cruzamento de Wilson Eduardo, o Capel parece-me ligeiramente adiantado, ou pelo menos adiantado na mesma medida que Cardozo está no 3º golo benfiquista. O braço televisivo do polvo a.k.a. SportTV demorou segundos a traçar uma linha no lance de Cardozo e (largos) minutos no de Montero, porque no tal momento de Capel não só não traçaram linha como não pararam a imagem. "Critérios".

Depois, "chora" a Comunicação Social Parcial (o tal periodismo de camiseta) um penalty sobre Montero. Pois bem, a haver toque de Luisão no sportinguista este é no braço e quando o colombiano já está em queda fruto de uma simulação grosseira. Há até quem diga que houve pé em riste sobre Luisão, mas dando isso de barato, o toque posterior de Luisão não é suficiente para a queda (e se fosse de tal forma impactante que o fizesse cair, ele cairia para trás e não para a frente) como acima de tudo o jogador já vai em queda (simulada) quando esse toque acontece. Pois bem, parece que os senhores "jornalistas" ou nunca jogaram futebol (provável) e nem sequer sabem o que é aquilo que escrevi; ou então esses mesmos "senhores" escrevem mentiras com propósito e intenção (muito provável).

Reclama-se também uma mão de André Almeida, que aconteceu à queima roupa e sem o jogador estar a olhar para o lance. Aceito o penalty, mas estou curioso para ver os comentadores portistas acerca deste lance (coluna vertebral há muito se foi daquelas coordenadas...).

Mas se quisessem mais provas da parcialidade destes artistas do jornalismo desportivo, atente-se nas manchetes do último derby (1-1 em Alvalade). Com um golo obtido em off-side e um penalty do tamanho da Torre dos Clérigos perdoado ao Sporting, certamente que as capas de jornais diriam algo como: errou só para um lado ou influência directa no resultado. Certo ?



Pois...parece que foi tudo tranquilo. Como terá sido a capa de hoje ??



Lendária azia de artistas como Bernardo Ribeiro e António Varela, que não se cansam de ir perdendo crédito graças àquilo que escrevem e à posição que ocupam. Eu sei que é chato mas .... estudasses!

P.S. - menos de 24h depois do 4-3 da Taça de Portugal, mais dois derbys e duas vitórias (34-10 em Rugby e 7-8 em Futsal), obrigado Benfica!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Agnórise...

A Tragédia Clássica vai encontrando paralelismos na vida real, e para o caso, no futebol também. No percurso da Tragédia encontramos a hybris (desafio do protagonista aos deuses) bem espelhada na fantástica campanha do Benfica na época 12/13, onde parecia querer rebentar com toda a ordem estabelecida e superiorizar-se a toda a gente. Um clube mítico, mas não fazendo parte da elite dos mais poderosos, ousou bater o pé a quem lhe aparecesse à frente e recusava-se a perder.

Depois da hybris vem a páthos (sofrimento intenso como como consequência do desafio e capaz de despertar a compaixão do espectador). As imagens do Dragão e da Amsterdam Arena encaixam na perfeição, depois de toda a garra e brio tudo ruiu de forma insuportavelmente dolorosa. A dor usou as lágrimas de milhões de benfiquistas para se tornar visível e lancinante.

A agnórise é o elemento seguinte, trata-se do reconhecimento de um facto inesperado e que irá desencadear o climax (elemento seguinte da Tragédia). E o facto a que me refiro é o empate caseiro com o Olympiakos. Há muitas condicionantes no jogo de ontem, mas a verdade é que duvido que houvesse um único benfiquista que não esperasse a vitória.... A jogar em casa contra uma equipa grega (seja ela qual for) tem que resultar em 3 pontos para nós.

A entrar em Novembro, o Benfica não fez ainda uma única grande exibição (goleadas então parecem coisas de um passado longínquo..) e acumula partidas fracas e mal jogadas umas atrás de outras. Na principal prova, o Campeonato, já tem 5 pontos de atraso, e embora sejam perfeitamente recuperáveis, foram ridiculamente perdidos. Na Europa, onde temos feito algumas das melhores exibições dos últimos anos, o rendimento está a léguas do exigível.

Jorge Jesus não é o mesmo, este ano parece-me receoso (trocar extremo por extremo sem qualquer alteração táctica na equipa e fazer as outras 2 substituições a menos de 10 minutos do fim é de quem está tudo menos confiante e galvanizador) e preocupadíssimo em não perder. Ora isso não só vai contra tudo aquilo que ele pensa sobre futebol e o seu modelo de jogo, como vai contra as raízes do Benfica: nunca desistir e lutar sempre pela vitória.

Talvez a agnórise nem seja afinal o empate grego, talvez o acontecimento mais inesperado seja mesmo a cautela de Jesus. Um treinador que ambicionava trucidar oponentes não pode agora regozijar-se com um quanto baste. A pressão (ou o páthos) fez mossa em Jesus, que além de desorientado, parece já não ter capacidade de se motivar, de motivar os atletas e por conseguinte todos nós. Ele que tinha sido o (único) catalisador dos últimos anos benfiquistas, que fez regressar o espectáculo à Luz e ombreou - desafiando - com os mais potentes clubes da Europa, aparece cada vez mais abandonado, porque a estrutura é inexistente. A "estrutura" do Benfica dos últimos 4 anos resume-se a Jorge Jesus, todos navegaram no seu sucesso e agora todos parecem escudar-se nos seus dias negros. É verdade que Luis Filipe Vieira foi coerente e lhe proporcionou o melhor plantel que há memória mas falta outra figura, com mais presença e preparada para dar o corpo às balas com maior frequência, porque se Jesus cair...todo o castelo ruirá com ele.

O climax - crescendo trágico até à peripécia - é a antecâmara da catástrofe na Tragédia Clássica, naqueles que são os seus principais elementos. O que implica que o pior ainda estará por vir....isto se esta for mesmo uma época de tragédia. O Nacional está aí à porta e não vencer seria trágico, mas como não sou pessimista - nem nunca o serei com o Benfica - penso que é altura de se rasgarem guiões trágicos e datados e se olhar para o Futuro com vontade de o devorar. O futebol, e o Benfica sobretudo, vive de paixões, do 8 ao 80 num segundo, portanto não se pode deitar a toalha ao chão prematuramente, e depois do final da época passada (haverá tragédia maior ??), se continuamos aqui é porque acreditamos na redenção que tanto merecemos.


A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à redenção pelo sofrimento. - Guerra Junqueiro

Quem aplica um castigo quando está irritado, não corrige, vinga-se.  - Montaigne.

sábado, 5 de outubro de 2013

Ai Jesus

Depois de duas más exibições (Belenenses e PSG) com dois péssimos resultados, o Benfica vive dias tensos. Mas pior que isso foram algumas declarações de Jorge Jesus. Entregar a vitória no grupo da Champions à 2ª jornada com 4 jogos para disputar (a 3 pontos do primeiro classificado, que ainda tem que vir à Luz) é tudo menos inteligente ou motivante.

JJ tem sempre o coração ao pé da boca e parece ser incapaz de dominar a arte da comunicação, longe vão os tempos das suas profecias em 09/10, onde concretizava muito do que dizia. Hoje por hoje parece ter perdido a capacidade de "abanar" a equipa e fazê-los jogar bom futebol. E marcar golos já agora.

A imagem da entrada de Rodrigo em campo (a passo, sem nervo, sem dinâmica) quando a equipa estava empatada frente ao Belenenses, para mim é sintomática. Parece que deixou de ferver o sangue aos jogadores e, pior que tudo, à equipa técnica também. O Benfica parece viver num perigoso limbo que pode hipotecar prematuramente uma época que TEM que ser vitoriosa.

Comum plantel de luxo (reitero que é o melhor que já vi), de longe o melhor dos últimos 20 anos, a equipa joga um futebol triste e sem rasgos de genialidade. Mesmo tendo perdido o maior desequilibrador do plantel (Salvio) exige-se muito mais a estes jogadores, e claro, ao treinador também. Já passou um mês desde o fecho do mercado e a equipa parece muito longe de estar estável ou em crescimento.

Nuvens negras pairam sobre o Benfica agora que se aproxima o jogo frente ao Estoril. Não tenho dúvidas que vamos vencer, mas duvido imenso que se faça um grande jogo. Espero ver sobretudo uma exibição de raça e fibra, caso contrário o futuro será mesmo negro. Só por uma vez achei que os jogadores quiseram fazer a cama ao Jesus, foi em Israel, na derrota frente ao Hapoel. O desempenho dos atletas depois disso mostrou empenho e que estavam unidos, não sei se será o caso deste grupo actual, mas quero acreditar que sim, e que o seu profissionalismo não permitirá beliscar o prestígio do Benfica, mas cabe a Jesus também, fazer das tripas coração para o bem comum. Porque a sua aparente descontração com aquilo a que temos assistido...preocupa-me.

JJ costuma responder no campo, mas este ano nem resultados nem nota artística, terá sofrido erosão ele também ?? A única hipótese de diminuir a pressão e construir confiança é fazer uma longa série de vitórias consecutivas, mas já era assim depois de Guimarães e começa a ficar tarde para uma "remontada" no destino do Clube.

E uma vitória na Amoreira significará pouco, segue-se uma pausa para selecções que impedirá que se capitalize esse bom resultado. A pressão manter-se-á, pode é ser menor durante aqueles 15 dias vencendo amanhã. E não sei até que ponto uma diminuição dessa mesma 'pressão' será boa para o grupo, relaxados já eles se têm apresentado consecutivamente.

Ou a coisa entra nos eixos ou pode haver um descarrilamento tremendo. De qualquer forma tem a palavra Jesus, porque não acredito que o despeçam no decorrer da época e muito menos que ele coloque o cargo à disposição (é demasiado orgulhoso para isso).

O futuro do Benfica parece estar a ser carregado nas costas de um só homem, não sei é se ele terá força para suportar essa cruz e ressuscitar, ou se terminará crucificado. A bem do Benfica, espero que JJ vença, era sinal que seríamos Campeões já, porque muito dificilmente uma chicotada psicológica durante esta época teria efeitos proveitosos.


domingo, 22 de setembro de 2013

E o Benfica 13/14 ?

Na última época estivemos às portas do Céu e caímos de forma imparável no Inferno. Uma longa época brilhante, cheia de vitórias e futebol espectacular terminou no pior cenário possível, as poucas derrotas de 11 meses chegaram para zero títulos conquistados. Apesar da brilhantez exibida, nunca no consulado de Jesus o Benfica havia terminado sem a conquista de qualquer título.

A paixão das últimas semanas da época tornaram as derrotas num pesadelo inimaginável, em pouco mais de 15 dias passou-se de uma tripla conquista a uma infinita desilusão. Com o "requinte" da época acabar com uma deselegância feia de Óscar Cardozo (amado e odiado) com o treinador (ainda mais amado e odiado). Não podia ter sido pior.

A pré-época foi a mais sensaborona e indiferente para as bandas da Luz que eu guardo memória. A ferida estava longe de estar cicatrizada e havia pouca vontade de sonhar depois da dura - e fresca - realidade se ter abatido sobre nós. Todos.

O Benfica de Jesus teve um hit na época 09/10 e tentou fazer 3 remakes consecutivos. Já se sabe que, por norma, os remakes ficam aquém do original...e apesar da 3ª versão ter tido mais "receitas" que o primeiro filme, o final deixou a desejar e nenhum grande filme se pode dar ao luxo de não ter um final em grande. Para não abandonar os termos cinematográficos, nesta época, era necessário um reboot, Jesus não pode esperar os mesmos resultados se não têm os mesmos actores (Ramires, Saviola ou Aimar) ou o mesmo argumento. Portanto - e partindo com as expectativas mais baixas de sempre e a pressão mais elevada que nunca - Jesus tem actores e argumento não para um remake mas sim um reboot de uma película vencedora.

O Benfica 13/14 tem o melhor plantel dos últimos 30 anos (pelo menos), só me lembro de um plantel que podia rivalizar, o de 92/93 (com Futre, JVP, Rui Costa, Paulo Sousa, Mozer, Paneira, etc., etc.) e mesmo que esse tivesse mais estrelas não era, de todo, tão completo como este. Na minha opinião, este Benfica actual tem todo o tipo de soluções e abundância para todas as posições, e consegue contar com uma boa meia-dúzia de foras-de-série (Salvio, Markovic, Djuricic, Gaitán, Luisão, Matic e Enzo), todos jogadores de primeira água e que fazem a diferença. Este plantel está apetrechado e repleto de bons valores qualquer que seja a estratégia.

JJ tem então ao seu dispor uma galeria de eleitos como nunca até aqui, tem quantidade e qualidade ímpar para vencer tudo o que disputar em Portugal e ombrear com os maios fortes da Europa. Mas o que está no papel, a teoria não é suficiente para vencer jogos e a disposição psicológica da equipa no início desta época estava longe de ser a ideal. Primeiro porque não se esquece um pesadelo como o da época passada de um dia para o outro, e segundo a instabilidade latente na preparação da equipa (o caso-Cardozo, as saídas de atletas) que ajudou a uma indefinição tremenda para todas as partes. Jesus porque não sabia com quem contar para agilizar e mecanizar processos e vários jogadores que estiveram com a cabeça fora até ao dia 2 de Setembro.

É muito difícil evitar que isto afecte o rendimento, é preciso muito carácter e profissionalismo para continuar a render e a servir o Benfica. Muita gente não o teve. E chegámos à competição oficial com um ar de pachorra e pouca vontade que o Marítimo (com pouco mais que garra e atitude) aproveitou fatalmente. 3 pontos ao ar e finalmente uma wake-up-call que ninguém parecia ter vontade de encarar. É nesta altura que LFV dá uma grande entrevista (terá sido tardia ?) e coloca os pontos nos iis. Esclareceu uma série de situações e redobrou o apoio à equipa técnica e jogadores, apelando a todos os benfiquistas que fizessem o mesmo. Gostei bastante da entrevista, mas se teríamos vencido o Marítimo se ela tivesse sido dada antes ? Ou melhor, haveria entrevista se não tivéssemos perdido ??

São "coisinhas" destas que nos afastam da perfeição (ou de uma estrutura poderosa, vá), porque parece que no Benfica só se chama a polícia depois da bomba rebentar, vão-se usando paninhos quentes no paciente e só se opera quando o osso fica exposto. Há que saber "ler" e agir em antecipação, às vezes estes pormenores também valem pontos... Se calhar tinham valido 3...

No jogo seguinte vencemos o Gil com Alma, porque futebol foi pouco (como se esperava, ninguém passa a jogar maravilhas em 8 dias) mas valeu a atitude demonstrada, a tal raça e querer. Aquilo que faltou e muito na Madeira. Houve ainda dois episódios de realce: Jesus a confortar Maxi Pereira (cujo erro amador ia custando pontos) e Luisão na defesa do grupo perante o gang-do-assobio.

Sobre Jesus e Maxi é aquilo que um líder deve fazer, não se esquecer do Homem Maxi nas horas más e motivá-lo porque ele é fundamental neste grupo e nesta equipa. Quanto a Luisão remeto-me para a semana seguinte em Alvalade. Ele e Markovic foram gigantes. O sérvio porque é o mais parecido com um génio que vi vestir o manto sagrado desde João Vieira Pinto (e tem tanta coisa do menino d'Ouro...até o fazer golões em Alvalade) e Luisão porque é o Capitão com mais carisma do Benfica desde os saudosos tempos de Veloso ou Ricardo Gomes. A forma como ele comanda toda a defesa, como nunca se esconde nos grandes jogos e ainda como é de facto imperial no jogo aéreo defensivo. Não há nenhum defesa tão importante no Benfica actual como Luisão, um veterano com 10 anos de casa e constantemente fidedigno, é muito fácil jogar com Luisão ao lado, ele torna os companheiros melhores defesas e mantém a equipa alerta a todo o instante. É a voz do treinador e é já um símbolo do Benfica, por muito que alguns assobiem as próprias cores.

Markovic é um menino a jogar futebol nas ruas da Sérvia, só que leva o 50 nas costas e o símbolo do Benfica no peito. A forma simples, despreocupada e genial como tira adversários do caminho quase sem uma gota de suor tem muito de JVP, as recepções de costas, orientadas, também, só na velocidade o sérvio ganha (na mesma ordem em que perde para o português no jogo de cabeça). O que ele fez em Alvalade dá a ideia de que assim que dominou a bola só viu o Rui Patrício (nas 2 vezes) e foi direito a ele, ignorando a distância e os adversários que ingloriamente o tentaram parar. Podia ter feito 2 golos do outro mundo, fez um. Nada mau para quem tem 19 anos e jogava o primeiro derby na casa do adversário.

Foi um jogo estranho. Um Sporting renascido depois de um 7º lugar e finalmente com um treinador que sabe organizar uma equipa e coloca-la a pressionar. Este Sporting trabalhou sem qualquer pressão na pré-época (já não faz parte do patamar de Benfica e Porto) e chegou com 2 vitórias ao derby, jogo que, por muito fracos que eles sejam, fazem das tripas coração para nos vencer (basta recordar que os festejos destes sportinguistas na época passada resumiram-se a um golo do Porto, precisamente no dia em que confirmavam a pior classificação da sua História....lagartices, como entender tamanho complexo de pequenez ?) aliás, vencer o Benfica (1 vitória e 2 empates é o melhor que conseguiram no consulado de Jesus) é o título que almejam realisticamente.

Portanto tínhamos uma equipa certinha, a correr muito e super motivada frente a um Benfica altivo e que sabia que era melhor. A maior vontade dos leões conseguiu-lhes um golo (irregular) e algum domínio aparente mas sem criar perigo. O Benfica foi medíocre na 1ª parte mas teve uma ocasião flagrante por Salvio. No segundo tempo, e com a genialidade de Markovic, só deu Benfica, depois do empate os da casa perderam-se completamente e o segundo golo do Benfica estava próximo. Via-se um Sporting partido, desesperado e sucessivas cavalgadas benfiquistas a rondarem a baliza adversária. O Benfica não soube ou não conseguiu (Cardozo inexistente ainda sofreu um penalty de catedral ignorado olimpicamente por um tal de Hugo Miguel) matar o jogo e o Sporting lá conseguiu equilibrar o jogo nos minutos finais.

Com o fim do derby chegou o fim do período de transferências e uma acalmia no plantel e no psicológico do grupo. Vinha aí a Champions e novos desafios. Nesta altura não espero nota artística, o Benfica tem de ganhar jogos mesmo que jogue de forma horrível (mas tem melhorado significativamente), porque as vitórias, nesta altura, serão o complemento ideal, servirão de cola para unir todo o grupo, deixemos as genialidades para depois.

Venceu-se o Paços, o Anderlecht (excelente equipa, para mim mais forte que o Olympiakos) e o Guimarães com 6 golos marcados e 1 sofrido, bom prenúncio para o que se segue. A equipa não dá show ainda mas está mais sólida e tem imenso para crescer, se conseguir fazer esse crescimento vencendo todos os jogos a ilusão voltará e com ela a confiança e autoestima dos jogadores. Esta equipa vai ser muito boa, mas só disputará títulos se não escorregar até Dezembro, se conseguirmos vencer jogos a nota artística e os muitos golos surgirão tranquilamente, mas de momento é hora de apostar na solidez, de arriscar menos e esperar pelo melhor momento de forma sem perder jogos nem pontos.

P.S. - grande Jesus no final do jogo em Guimarães. Vénia. Que aquelas acções demonstrem o seu comprometimento com o Clube.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Reforços 13/14

DJURICIC - é a pérola da nova época, jogador ágil, com uma técnica tremenda, visão de jogo e jogador de equipa. Desenvencilha-se com facilidade dos adversários, faz a equipa jogar (quase sempre em velocidade) sabe assistir e concretizar. Filip Djuricic tem aquele plus, aquela centelha dos génios, não há volta a dar, vai ser craque. No Benfica vai-se deparar muitas vezes com blocos baixos e esquemas defensivos distintos do futebol holandês e é aí que reside a incógnita acerca do seu rendimento, ou melhor, de quanto demorará até encaixar neste futeluso quezilento e trapaceiro. Apesar de franzino é muito ágil o que o ajudará nas movimentações entre linhas no último terço do terreno, ter Matic atrás será importante, mas é na conexão com Lima (ou outro PL) que residirá muito do nosso sucesso ofensivo. Porque se no meio do terreno temos jogadores dotados todos de boa técnica (Enzo, Amorim, Gomes) isso ajudará a que o nosso futebol "deslize" facilmente até Djuricic (e com segurança), mas é importante olear o processo daí em diante. E é nessa fase que as rotinas levam mais tempo e precisam mais trabalho (porque aí haverá mais adversários e, à partida, apenas uma referência - PL - ofensiva). É aqui que poderá acontecer uma "novidade" na nova época, com os "extremos" a serem cada vez mais interiores, auxiliando Djuricic nas linhas de passe, podendo até trocar de posição com o 10. Djuricic tem alguma verticalidade no seu jogo, mas é adepto do futebol apoiado, de toque. Talvez não tenhamos este ano um PL com 30 golos, mas provavelmente os dois extremos/interiores + Djuricic possam atingir os dois dígitos na contabilidade final. Parece ser muita a responsabilidade nos ombros do jovem sérvio, mas isso é algo que não afectará o rendimento de Djuricic, pelo contrário, ele é alguém que adora jogar futebol e adora o "jogo bonito". Será uma das figuras do Sport Lisboa e Benfica 13/14.

MARKOVIC - Lazar Markovic é o segundo génio sérvio (depois de Djuricic) que o Benfica contratou esta época. Tem um pique demolidor, consegue acelerar em curtos espaços de terreno e, normalmente basta-lhe a velocidade para se desembaraçar dos adversários. Tem classe, técnica e superior e, para meu espanto face à sua juventude, é um jogador não-egoísta, joga muitas vezes de primeira e normalmente passa a bola a um colega bem tocado. Com 19 anos e idolatrado no seu país, seria "normal" ver ali tiques de vedeta e um "agarrar-se à bola" como se fosse o craque da rua dele, mas pelo contrário, Lazar Markovic é bastante generoso e demonstra até uma certa "vergonha" dentro de campo. Devido à sua velocidade, técnica e jogo explosivo tem tudo para ser um ala de elite, mas vejo em Markovic (hoje) um ala diferente, porque procura muito zonas interiores. As suas diagonais e o jogo apoiado podem ser letais porque ele demonstra alguma profundidade nas movimentações, mas está pela primeira vez fora do seu país e creio que não vai explodir já (porque os nossos extremos, tacticamente têm uma das missões mais desgastantes e não se podem limitar a atacar, e de Markovic conheço pouco ou nada defensivamente). Mas o Benfica tem aqui matéria-prima de excepção, com paciência e muito trabalho, Markovic pode virar lenda para o 3º Anel, esperemos que a equipa tenha estabilidade nos resultados e que a equipa técnica saiba extrair o melhor deste miúdo, porque no dia que ele perder a "vergonha", quando se sentir confortável na equipa e no Clube...será um caso sério!

LISANDRO - vem rotulado como o melhor central do Campeonato Argentino e já é internacional o que deixa pouca margem para dúvidas. Potente, muita classe no desarme e ainda uma muita interessante taxa goleadora são algumas das suas características. Não é rápido mas tem um belíssimo sentido posicional que permitia que se destacasse no Arsenal de Sarandi. O grande desafio de Lisandro Lopez no Benfica é defender uns bons metros mais à frente que na Argentina, porque enquanto que o seu antigo clube optava por um bloco baixo (o que ajuda os centrais...), no Benfica raramente terá essa postura. Mas é alguém que me dá totais garantias e segurança no futuro, e tendo Luisão ao lado a tendência é melhorar muito. Penso que o Benfica acertou na mouche com mais este argentino.

MITROVIC - não o conhecia de parte alguma e nunca o vi jogar. Mas nas primeiras declarações à Benfica TV impressionou-me verdadeiramente, vi ali um gajo de carácter, muito profissional, humilde e trabalhador. Mas declarações pouco ou nada interessam dentro de campo, mas não deixei de registar positivamente as palavras do sérvio, sinceramente gostei bastante, nada de show-off, apenas atitude e muita garra. Depois dos primeiros minutos com o Manto Sagrado acho que não me enganei, o homem veio mesmo para deixar marca, ainda é cedo, mas o Benfica terá contratado 2 grandes centrais, vénia para a nossa prospecção.

SULEJMANI - é, se calhar, o jogador com mais nome na Europa de todas as contratações do Benfica esta época, mas a mim não me entusiasma por aí além. Tecnicamente é fortíssimo, coloca a bola onde quer e tem uma muita boa visão de jogo, mas acho-o "lento", ou melhor, sem velocidade para ser ala no Benfica. E depois parece-me outro jogador muito melhor no jogo interior que no exterior. Um jogador com a sua habilidade e toque de bola é sempre uma boa arma (ainda por cima se se confirmar a preponderância do jogo interior em 13/14) mas não o vejo, longe disso, como titular indiscutível. Será talvez uma opção/solução em determinados jogos, mas não o vejo com intensidade para dar cartas no Benfica de Jesus.

STEVEN VITÓRIA - foi uma contratação que não percebi, acho por exemplo o Jardel mais útil que ele (e mais rápido já agora) mas chega com o rótulo de goleador e exímio marcador de bolas paradas. Se JJ o pediu ele saberá o porquê, mas a menos que saiam 1 ou 2 centrais...não o vejo com muitos minutos. Alto, forte fisicamente, pode ser uma alternativa interessante, mas não tenho grandes esperanças nele.

SÍLVIO - outro com que não "simpatizo, na direita com Maxi, Cancelo e André Almeida estou tranquilo, na esquerda com Melgarejo e Cortez...talvez tenha mais possibilidades, ainda assim parece-me outra contratação escusada. Regressa como internacional português e bastante experiente na nossa Liga, talvez venha a ser útil. Não é nenhum génio mas também não é cepo, trouxe mais opções ao grupo (faz as duas laterais). Era bom (para ele e sobretudo para nós) que explodisse em ano de Mundial...mas mantenho as minhas reservas, oxalá me engane e Sílvio demonstre qualidade para ser destaque no Benfica.

CORTEZ - lateral esquerdo muito ofensivo e que também tem muito jogo interior. Bom tecnicamente mas fraco no último passe/centro. Penso que para Cortez ter sucesso no Benfica tem que ser "combinado" com um extremo forte no jogo interior também, mas que saiba compensar defensivamente. Markovic é o mais forte no jogo interior mas defensivamente é quase inexistente; Gaitán também é muito bom em zonas interiores e embora tacticamente apoie mais que Markovic também não o acho o parceiro ideal para Cortez; já Ola John é muito bom no jogo exterior e menos forte no jogo interior, logo... Mas o brasileiro não deixa de ser uma alternativa diferente a Melgarejo, menos forte defensivamente que o paraguaio mas com muito mais pendor ofensivo. Se JJ conseguir corrigir tacticamente o brasileiro, o Benfica ganha mais uma arma...ofensiva.

É importante realçar que esta é a opinião que eu já tinha dos reforços ANTES de chegarem ao Benfica (com a excepção de Mitrovic) e que os 2 jogos já realizados não alteraram, primeiro porque são apenas 180 minutos e depois, porque nesta fase da época os jogadores acumulam sobretudo cargas físicas e estão longe do seu fulgor (exceptuando talvez Lisandro que vem de jogar o Torneo Clausura).

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A verdade segundo Jesus

Jorge Jesus costuma destacar-se nas entrevistas, estas, por norma, estão recheadas de soundbytes que farão as manchetes do dia seguinte, mas hoje, para mim, a "estrela", o destaque chamou-se José Eduardo Moniz.

Primeiro destaque vai para o excelente pormenor da entrevista ter decorrido no Museu Cosme Damião (prestes a ser inaugurado e com expectativas enormes quanto ao seu conteúdo e forma), é um detalhe, mas achei que foi uma escolha realmente acertada.

Antes da analisar a entrevista mais ao detalhe, vou procurar transmitir aquilo que EU li nas entrelinhas. Toda a gente sabe quem é o jornalista José Eduardo Moniz, um dos maiores vultos da comunicação social portuguesa e com milhares de horas de entrevistas no seu currículo, mas fiquei impressionado com a forma como se preparou especificamente para esta, irrepreensível.

Muito se falou da divisão que a continuidade de JJ teria provocado nos órgãos decisórios do Clube, e hoje fiquei a perceber isso melhor, inclusive quais os argumentos a favor e contra. Tenho para mim que foi uma decisão de Vieira e ponto (alguém já disse um dia que o Presidente pede opinião e ouve mas que a decisão é sempre a dele). Também não sei se Moniz era dos que se opunha à continuidade do treinador, mas se não era teve a imparcialidade e honestidade de explicitar as razões contrárias e confrontar Jesus com elas. E fê-lo em grande nível, com um a propósito e timing que seriam impossíveis a quem não conhecesse a realidade do Benfica actual. A boa e a má.

Moniz tinha outro trunfo, além de impecável jornalista é vice-presidente do Clube, o que lhe permite ter acesso a vários dossiers da actualidade, do passado e do futuro do Benfica, e manejou de tal forma esse input, que por vezes JJ parecia uma "marionete" nas suas mãos. É difícil discernir onde termina a curiosidade jornalística e começa o "teste" ao "empregado", mas fico com a sensação que Garay (há muito certo no United), Cardozo (difícil, quiçá insustentável continuidade) e Matic estão fora («Gostava mas sei que é quase impossível»).

O único que me preocupa é Nemanja Matic, o MVP da liga passada e um dos melhores médios-defensivos do Mundo hoje em dia. Com vários sérvios (um deles o irmão Uros) no Clube estava muito longe de imaginar a saída do nº21 do plantel nesta época. Depois porque não faz sentido vender Matic por menos do que os 50M da cláusula, visto que o jogador (muito sério e humilde) aceitaria de bom grado continuar mais um ano em Lisboa. E falo dos 50M porque é um valor que o Real Madrid nunca pagará por ele, aliás, Matic só acaba em Espanha se o Benfica quiser. Passo a explicar: com Bale na mira e como contratação-estrela do Verão, o Madrid não vai "estoirar" tantos milhões noutro jogador (e já foram 30 com Isco), depois porque tem alternativas mais baratas (Illarramendi e Kondogbia) que inclusive gozam de maior estatuto entre nuestros hermanos, e já se sabe como eles são nacionalistas....portanto se acham que a cláusula de 30M do basco é alta que diriam dos 50M do sérvio do Benfica ? Já nem falo dos 20M do francês do Sevilla (e o clube andaluz vive uma crise financeira...) ou até dos 25/30 de Verrati (se bem que aqui se fala num "acordo de cavalheiros" do Real Madrid não ir pescar ninguém a Paris...). Ora Matic só acaba no Real Madrid (e o nome do sérvio surge lá devido a Mourinho, não tenho dúvidas nenhumas, já que os espanhóis não costumam apresentar grande prospecção, preferem contratar super-estrelas de créditos firmados) por valores muito abaixo dos 50M e, muito importante este E, se o interesse do Benfica for esse. E porque terá o Benfica interesse em vender ao Real Madrid ? Coentrão. Pelo que sei, o pagamento de Fábio Coentrão foi acordado em 3 tranches de 10M a cada Verão, sendo que a última tranche vence precisamente nesta altura, e esse é mais um argumento para a negociação, visto que há interesse real do Benfica no Caxinas (e as palavras de JJ hoje foram também nesse sentido). Depois, o Real podia abdicar dos 10M da transferência de Garay (referente aos 50% dos direitos económicos sobre o argentino) o que volta a baixar o preço de Matic, que custaria aos cofres madridistas algo como 30M. Já o Benfica receberia Fábio Coentrão + 30M + 10M pertencentes ao Real Madrid na transferência de Garay.

Adorava ter o Fábio Coentrão, ele que é um índio do Benfica e que considero o melhor defesa esquerdo do Mundo, a tesouraria da Luz realizaria um encaixe significativo para fazer face aos investimentos e/ou reforçar o Clube nas variadas áreas (sobretudo a financeira) mas perder Matic é baixar significativamente as minhas expectativas. Parece que Jesus pensa de forma diferente e diz mesmo que difícil foi substituir o Javi...não sei quem é que ele tem na calha para fazer o lugar do sérvio...mas depois da última fabulosa temporada de Matic vai ser muito difícil esquecê-lo e ver aquele meio-campo sem ele...

Pessoalmente tentava o Coentrão com as vendas de Cardozo e Garay e mantendo Matic, mas reconheço que seria difícil para a nossa tesouraria não realizar mais nenhum encaixe (Gaitán) mas esta é - tal como em 09/10 - uma época em que devíamos arriscar e apostar forte, porque a pressão este ano, é maior, não há como fugir...e apesar de ter referido uma frase que lhe foi dita por um clube brasileiro interessado nos seus serviços «hoje no futebol mundial é tão importante ganhar títulos como potenciar jogadores para gerar mais valias para a sobrevivência de uma equipa».

E foi mesmo na Pressão que a entrevista começou. JJ disse e bem, que no Benfica a pressão é sempre a mesma, ganhar, mas a pressão sobre ele está muito acima de qualquer outra época. Mesmo não o admitindo, Jesus sabe que não pode ter uma "simples escorregadela", e mesmo dando uma de Mourinho (que utilizou exactamente o mesmo argumento há poucas semanas) mencionando o ingresso no Pote 1 da Champions (com JJ fomos de 23º a 8º no ranking UEFA) ou a recuperação do prestígio internacional e a brilhantez do futebol ofensivo, está mais que visto que é preciso ser Campeão e esse título, por norma, só se decide em Abril/Maio e há muitos, muitos obstáculos até lá.

O Benfica tem que ganhar e tem que ganhar já! Mas tem que ganhar muito e de forma consistente. Jesus esteve bem no meu entender ao afirmar que «o Benfica está próximo de ganhar a hegemonia nacional». Quando fomos Campeões em 09/10 quebrámos uma hegemonia, mas não assegurámos a nossa porque uma hegemonia constrói-se vencendo títulos consecutivos e não um ocasional. O treinador admitiu e bem que essa falta de títulos é «o grande grão de areia». Contudo defende - e eu subscrevo - que é através do bom futebol o caminho para essa hegemonia e que de facto estamos mais perto de a conseguir assegurar. Mas...depende muito desta época...e se Jesus reafirma (sempre o disse no passado, nunca se escudou ou desviou responsabilidades para quem o contratou) que «o Benfica tem-me dado todas as condições de trabalho» e que este é «um projecto no qual eu acredito muito» só pode estar ciente das reais responsabilidades que estão quase exclusivamente nos seus ombros esta época. Ao fazer uma pergunta fechada aqui, Moniz dirigiu JJ para onde quis e tornou evidente essa dicotomia JJ/Direcção, Jesus "caiu", cabe-lhe agora estar à altura.

De seguida falou na Prospecção. E gostei de ouvir JJ falar na grande equipa que o Benfica tem para detectar talentos, falou sempre em NÓS e não em EU como responsáveis pela descoberta de talento e definiu mesmo o perfil dessas avaliações: «90% são jogadores de 19/20/21 anos, jogadores em formação, jogadores talentosos mas sem expressão internacional». Mencionou o exemplo Matic (ostracizado pelo Chelsea) e referiu que Saviola foi a excepção, visto ser o único consagrado que o Benfica contratou no seu "consulado". E que foi no Benfica que muitos desses jovens talentos se consagraram, que foi aqui que se tornaram estrelas. E por falar em Saviola, referiu que Djuricic vem jogar na posição de El Conejo e não de Aimar (um 10 puro que terá confessado sentir pena por Jesus não o ter treinado quando Pablo tinha 24 anos...). Djuricic (que será a próxima venda estratosférica do Benfica) jogava na Holanda sem grandes responsabilidades defensivas e algumas vezes até pela esquerda, logo parece-me ser mais decisivo quanto mais perto estiver da área e com menos tarefas defensivas (brevemente falarei de Djuricic e dos restantes reforços).

Cardozo. Disse que Cardozo não jogava quando chegou ao Benfica e que este é um goleador que a equipa técnica ajudou a crescer. A verdade é que Quique Flores tinha na dupla Suazo/Aimar as primeiras escolhas e foi só com a lesão do hondurenho que Oscar Cardozo foi titular (e já depois de Quique o ter colocado à parte do grupo e alvo de processo disciplinar...).

«Não tem justificação» Foi assim que JJ definiu a atitude de Cardozo que surpreendeu toda a gente e que ninguém se revê naquele acto (para com o treinador e um colega de equipa). «O Presidente sabe que é um activo do Clube. É uma questão disciplinar».

De seguida reiterou confiança total em Artur, o que, enquanto líder e condutor de homens só lhe fica bem. E refira-se que toda a gente recorda os erros do GR mas poucos mencionam as boas intervenções. Falando de GR, o treinador considera que esta a posição que requer «mais tempo, mais anos, mais experiência» para um jogador e que Oblak não é um GR pronto para o Benfica.

- É difícil ter Oblak na equipa este ano?
- Não. Para mim é difícil ter 2 GR estrangeiros na equipa, o ideal é ter 2 GR portugueses e um estrangeiro.

«João Cancelo é um menino que tem muito potencial. Queremos que trabalhe connosco. Vai ter oportunidade de fazer parte do plantel». Esta é uma boa notícia para mim, Cancelo tem potencial para ser um futuro craque e será uma boa alternativa ao Maxi.

Falando na articulação entre a equipa A e B, Jesus reconheceu o bom trabalho de Norton de Matos referindo que todas as semanas a equipa B fazia um treino com a equipa A e que vários jovens foram chamados a treinar com o plantel principal durante a época. Mencionou a intenção de uniformizar os modelos de jogo de ambas as equipas e que isso só não aconteceu este ano porque era um início de novo projecto e que havia que defender o prestígio do clube evitando cair numa situação desconfortável na tabela, daí o Norton ter projectado ideias próprias na B.

- Alguma vez se sentiu tentado a trocar o Benfica por outro clube português ?
- Essa possibilidade nunca me passou pela cabeça. É um projecto que acredito muito e é um Presidente que acreditou em mim quando era pouco conhecido.

Referiu depois que o Benfica lhe deu o prestígio internacional que hoje granjeia e lhe permite estar no grupo de elite da UEFA e acerca do ordenado que aufere (os famosos 4M ?) disse que é taxado em 60% e que é derivado da qualidade do seu trabalho, visto que subiu a pulso (referindo mesmo que perdeu as "poupanças" de 33 anos de trabalho no célebre caso do Banco português). «Sou bem pago. Sou um homem feliz e tomara muitos portugueses levarem para casa o mesmo que eu».

Moniz fez de "advogado do Diabo" na perfeição quando falou do alto 'rendimento económico' (aqui JJ foi honesto e falou bem), depois da 'vaidade' (não há volta a dar...Jesus é assim, uma pessoa cheia de auto-estima e que se deve considerar dos melhores técnicos portugueses...acredito que em privado diga que é mesmo o melhor, mas falta-lhe vencer mais e ter discursos mais galvanizadores e mais mind-games consoante o momento, só aí chegará ao status de Mourinho) e ainda da 'comunicação' com as várias nacionalidades. 3 temas que costumam ser apontados a JJ e que Moniz conseguiu expôr (sobretudo a vaidade) de forma crua. Apesar de não se ter "queimado" nas respostas, fica a clara sensação que aquelas "falhas" foram detectadas e listadas como argumentos para a não continuidade de Jesus....Moniz sempre a manobrar os cordelinhos...o que levou a um bom comeback (o único ??) por parte de Jesus quando este referiu que entra no Seixal às 8 da manhã e sai ás..20h (dificilmente algum técnico anterior terá passado tantas horas no Clube).

Luis Filipe Vieira = Líder
Moda = Tendências
Dinheiro = Segurança
Pastilha Elástica = Descontração
Vaidade = Auto-Estima
Bola = Paixão
Baliza = Golo
Brasil = Futebol/Samba
Sérvia = Talento
Jornalista = José Eduardo Moniz

Este "exercício" pareceu-me interessante, JEM lançava uma palavra e JJ respondia, também com uma só palavra aquilo que a palavra lhe lembrava. Cada um interprete à sua maneira... Jesus só hesitou na 'vaidade', percebe-se que a "acusação" o começa a incomodar (por muito falada até na CS) mas que na verdade, ele a interpreta por autoestima. Associar golo a baliza parece-me também um pouco da política, da ideia de jogo ofensivo que ele preconiza. A bola como paixão é algo óbvio para quem foi jogador de futebol e passa horas a estudar o fenómeno (é sabido que JJ não gosta de férias e raramente as tira). JEM mencionar 'moda' e 'dinheiro' cheirou-me um pouco a provocação para ver até que ponto o treinador valoriza o essencial do acessório... Tirem as vossas conclusões, a minha foi esta.

No final - e de novo a soar a ajuste de contas - Moniz perguntou-lhe sobre sucessos e insucessos...tendo Jesus respondido que assume principalmente os insucessos. Ficou-lhe bem, esperemos que estas (entre outras) declarações não "lhe façam a cama".

A entrevista acaba e não deixo de ficar com a sensação que Moniz saiu dali com um "documento" precioso caso tenha que despedir Jesus...já ao técnico não lhe resta outro remédio que ganhar. Ganhar já e ganhar tudo! Ao invés daquelas entrevistas galvanizadoras de início de época fiquei com o feeling que a situação de JJ não é de todo estável, resta a bola rolar para a tendência se inverter e a confiança aumentar, mas sou sincero, o ambiente parece-me tudo menos cativante (talvez seja bom prenúncio não ser campeão na pré-época...) e JJ terá tido um reality-check que ninguém lhe havia feito até aqui.

Acabo como comecei, com Moniz, que grande dirigente que aqui temos, que fique muitos e bons anos no Benfica, pessoas competentes nunca são de mais.

Por último, subscrevam a BTV, porque ela e o próprio Clube serão o «que os sócios quiserem fazer...»

sábado, 8 de junho de 2013

Análise 12/13

ARTUR - depois duma 1ª época muito boa (contrariando a ideia que tinha dele) e onde terá valido alguns pontos (mas longe dos 9/10 que os keepers de eleição costumam garantir por Campeonato), Artur teve um segundo ano regular, com falhas graves em momentos chave. Se na primeira época recordamos defesas do outro mundo frente ao Twente (por exemplo), este ano fica marcado por frangos frente ao Porto (2 jogos), Nacional fora, Estoril em casa e na Final da TP. No dia dessas falhas não vencemos nenhum jogo... É que as falhas de um GR notam-se mais que qualquer outro jogador, porque normalmente resultam em golos sofridos. Na 1ª época lembro-me de um frango, na Luz, numa vitória frente ao Guimarães, este ano, já o escrevi acima, há vários. Fez bom jogos frente ao Barcelona (costuma jogar melhor na Europa...) e tem uma defesa descomunal (à Gordon Banks) em Vila do Conde no último minuto, mas não se viram muito mais dessas. O nível dele no ano passado pareceu tão bom que os rumores da canarinha se acentuaram..e não sei se esse sonho terá contribuído para a sua desconcentração deste ano, mas não tivemos o mesmo Artur. 11/20

PAULO LOPES - como se esperava jogou pouco. Recordo 2 jogos nas Taças, em Freamunde e Moreira de Cónegos, onde teve boas intervenções e jogou bem. Terá sido contratado porque é formado localmente e oferecia algumas garantias caso fosse chamado a jogar. 10/20

ANDRÉ ALMEIDA - sempre vi futebol no André, mas não esperava que rendesse tanto como esta época. E para ser justo, sempre achei que tinha muito mais futuro a médio-centro que a defesa lateral. Achava que como médio podia ter uma carreira interessante, mas como lateral não lhe via grandes capacidades para ser mais do que medíocre. Pois bem, e apesar de ter feito uma belíssima partida no centro do terreno frente ao Spartak, na Luz, foi na lateral que "arrancou" os seus melhores jogos. E terá sido mesmo na lateral esquerda onde assinou os melhores registos, recordo o jogo na Luz frente ao Fenerbahçe, o jogo no Dragão ou até a final da LE. Mostrou ser um bom valor e conto com ele no plantel do próximo ano, Jesus tem aqui um menino para moldar e fazer crescer. 14/20

MAXI - já o escrevi inúmeras vezes, o Maxi é, de todo o plantel, o jogador mais à Benfica que temos connosco. Tem aquela raça uruguaia que tão bem casa com os valores do Benfica, aquela coisa do antes quebrar que torcer. É um atleta que dá tudo durante 90 minutos (não raras vezes, e quando o marcador já passa dos 80', vemo-lo a fazer sprints até à linha de fundo) ou 45, ou apenas 5, para o Maxi nunca há jogo a feijões, ele veste aquela camisola e sabe que vai para a guerra, e na "guerra do Maxi" desistir nunca é opção. Se um dia tivéssemos 11 Maxis...seríamos quase imbatíveis. Mas isto não me impede de reconhecer que esta não foi a melhor época futebolística do uruguaio. Começou num aparente descontrolo táctico onde estava em todo o lado (ou queria estar) menos na defesa da lateral direita. Ainda me perguntei se era pura anarquia táctica ou, visto que o lateral esquerdo não subia, teria permissão para aquelas posições tão avançadas (deixando o Benfica com uma defesa a 3). Com o final da época viu-se que Jesus preferiu controlar o risco de ter um lateral direito demasiado ofensivo em certos jogos e sentou-o. Houve muitos jogos que lhe correram mal, mas a "bicicleta" frente ao Beira-Mar (num jogo muito complicado depois do desgaste físico ocorrido frente ao Barça) evitou a perda de pontos, e o golo frente ao Estoril (onde já havia "falhado" um..) ainda alimentou o sonho. Esperava-se mais de Maxi, a sua entrega incondicional não foi suficiente este ano. 12/20

MELGAREJO - um dos estreantes desta época. Vinha de uma belíssima época enquanto extremo esquerdo e com mais de 10 golos no Campeonato pelo Paços de Ferreira (emprestado pelo Benfica). As minhas expectativas eram que pudesse ser o substituto de Gaitán na extrema esquerda visto ser potente, ter um bom pique e livrar-se com facilidade do seu marcador. E além disto tudo tinha golo. Jesus adaptou-o a lateral esquerdo e jogou aí toda a época (8º mais utilizado, 1873 minutos). Pensei que podia ser boa ideia tê-lo a lateral se ele se adaptasse defensivamente, porque na vertente ofensiva acho que ele podia ser tão bom como Coentrão. Não foi isso que aconteceu, Melgarejo poucas vezes ofereceu profundidades ofensiva e mostrou-se sempre muito mais resguardado e recuado que o lateral oposto. Creio que todo esse recato na parte atacante terá partido do banco, que se terá focado em que Melgarejo defendesse bem primeiramente, que aprendesse as rotinas defensivas para que ganhasse confiança na nova posição e que só depois se balanceasse no ataque. Ainda recordo o Melgarejo ofensivo no início de época (frente ao Madrid na Eusébio Cup ou frente a um V.Setúbal com 10 jogadores...), mas depois, o que assistimos com mais destaque foram várias exibições muito competentes defensivamente. Coentrão agarrou a titularidade como lateral perto do final da 1ª volta (Jesus trabalhou-o, sem pressão, até esse momento), Melgarejo não teve esse tempo, fez a sua aprendizagem em competição, quase sem hipótese de errar. E na minha perspectiva fez um traalho muito bom na 1ª época como defesa esquerdo, acho que tem potencial para ser um caso sério, assim lhe permitam continuar a evoluir na posição. 15/20

LUISINHO - o melhor que posso dizer dele é que é o lateral que melhor cruza no plantel, a sua técnica de cruzamento é excelente e uma arma ofensiva cada vez mais importante no futebol moderno. Mas de resto, Luisinho (também com poucas chances) desiludiu. Trapalhão, pouco concentrado e acusar falta de qualidade para estas andanças. Deve sair. 10/20

GARAY - muitíssimo regular. De Garay não se esperam grandes feitos, mas a verdade é que raramente falha nas suas competências: defender. Não tem o carisma ou a liderança de Luisão, mas é um fantástico complemento para qualquer central, joga simples, joga fácil e tem boa qualidade passe (melhor que Luisão por exemplo) para iniciar o processo ofensivo. Faz uma grande época (a falha com Wolfswinkel - onde é ultrapassado de forma risível.. - é das pouquíssimas coisas que lhe posso apontar) e terá sido, certamente, aquele que menos oscilou no seu nível exibicional. Essa regularidade e discrição no cumprimento das suas tarefas levaram-no à titularidade da Selecção Argentina e, mais que provavelmente, ao Manchester United. 16/20

LUISÃO - é o Capitão, estrategicamente é o jogador mais importante da nossa defensiva, quando ele está presente todos jogam melhor, mais concentrados. Luisão esteve castigado 2 meses, o que, forçosamente, terá um grande impacto na sua forma, e logo Luisão que (tal como Cardozo, por exemplo) é um jogador que demora a atingir a sua melhor forma, basta estarem atentos às pré-épocas. Além de Capitão, Luisão tem um "dom", uma espécie de timing para fazer golos decisivos, mas este ano isso não aconteceu... Ainda assim fez uma boa época, foi importante como sempre e raramente cometeu deslizes, a verdade é que se notou menos o seu impacto no terreno este ano. Luisão é fundamental naquele grupo, no balneário e até Jesus o considera um "treinador dentro de campo", e talvez por isso mesmo se espera sempre mais. 15/20

JARDEL - foi o companheiro de Garay durante o castigo de Luisão, e o melhor elogio que lhe posso fazer é que nesses 2 meses só pensei no Capitão uma vez: em Moscovo. Jardel é o central mais rápido do plantel, mas, tal como Garay, não é um líder, é um jogador competente, certinho e excelente profissional. Reconheço-lhe qualidades que me levam a considerá-lo o 3º central do plantel e merece permanecer connosco. Com a saída de Garay, e se não se contratar um central de eleição, Jardel dá-me garantias para assegurar a titularidade, a questão é que se queremos aumentar a exigência e o nível de jogo...precisamos de outro perfil de central, mas mantendo Jardel no plantel. 14/20

MATIC - MVP do Campeonato, melhor jogador do Benfica e provavelmente estará actualmente entre os 10 melhores médios-defensivos do Mundo. Raio de acção inacreditável (ás vezes parecia omnipresente), técnica de avançado, imponente fisicamente, Matic faz tudo e tudo faz bem. De desconhecido JJ transformou-o em referência mundial, um patrão dentro das 4 linhas. A souplesse, a facilidade com que ele "deita" adversários, a forma como transforma uma acção defensiva num contra-golpe, a capacidade de destruir muralhas defensivas com a cabeça levantada tornam-no já numa lenda do Benfica. Podemos vender todos os jogadores menos o Nemanja Matic, o futuro do Benfica passa por este fabuloso sérvio. 18/20

ENZO PÉREZ - o argentino tem todas as características do futebolista moderno: intensidade, raça, pulmão, velocidade, técnica e disponibilidade física. Houve jogos em que os adversários pareciam crianças a defrontar um adulto, sozinho encheu campos e campos por essa Europa fora, um fenómeno. E depois tem atitude, tem aquele feitio argentino que faz dele um jogador de fibra (como Maxi), um médio que tem hoje a Luz a seus pés. Depois de Matic é o jogador mais fundamental na próxima época, e é com jogadores desta estirpe que eu quero que se construa o Benfica, são jogadores assim que se tornarão Lendas na História do Sport Lisboa e Benfica. 17/20

ANDRÉ GOMES - era Capitão dos Juniores e chegou ao plantel principal após alguns jogos na Equipa B. Jogador maduro, tranquilo (foi titular em Camp Nou e Alvalade e parecia um veterano) e que faz da simplicidade de processos a sua maior qualidade. É muito forte fisicamente, protege bem a bola e ainda tem "chegada" à área. Bem trabalhado pode ser um caso sério no futebol português, espera-se que a próxima seja a época de afirmação, entra no "meu" plantel para 13/14. 13/20

PABLO AIMAR - jogou pouquíssimo, foi fustigado por uma longa lesão (antes dele, e com poucas jornadas já liderava o ranking das assistências) e depois disso nunca teve tempo ou espaço para realmente mostrar o seu nível (gostei da sua exibição na Pedreira, para a TL). A verdade é que o nosso futebol ganhava outra dimensão com ele em campo, o jogo passava a ser mais cerebral e mais fluído. Arrisco a dizer que, com o melhor Aimar, este ano tínhamos "dado de calcanhar" em todas as competições. Aquele gerir o jogo de El Mago, as pausas, as triangulações teriam sido o maior aliado de Enzo e Matic (que trio de luxo tinha sido...) formando um centro do terreno fabuloso. Foi pena não poder desfrutar mais de Pablito este ano e "oferecer-lhe" os merecidos títulos nesta sua última campanha entre nós. 11/20

SALVIO - para mim é o jogador que, ofensivamente, mais desequilibra os nossos adversários, porque alia à potência e técnica individual um sentido táctico e colectivo muito importante. E além de criar inúmeras situações de golo, concretiza ele próprio muitas. Depois de Artur e Maxi foi o jogador com mais minutos do plantel e só por aí se vê a importância dele no Benfica actual. Jogador de fino recorte técnico, tem ainda uma capacidade física impressionante, que muitas vezes transportou a equipa às costas para grandes exibições. De Salvio apetece dizer que o melhor ainda está para vir, fará parte dos eleitos da Argentina no Mundial de 2014. 16/20

URRETAVIZCAYA - primeira parte da época em branco (inexplicavelmente não foi inscrito - ou não quis ser - nem na equipa B) e segunda metade com bons jogos na B e curtíssimas aparições na equipa principal (onde fez um golaço de livre na Madeira, frente ao Nacional). Rapidíssimo, sempre pareceu ter potencial a rodos mas sucessivos falhanços nos empréstimos ameçam fazer dele eterna promessa. Quando jogou mostrou vontade e atitude em ajudar mas acabou por não ter continuidade. JJ teve-o sempre por perto (maioritariamente no banco, é verdade) no último trecho do Campeonato, o que me faz pensar que o uruguaio "conta" para a próxima época, mas dos nomes que se falam como possíveis contratações do Benfica, vários seriam concorrentes dele... 12/20

OLA JOHN - é uma pérola, um jogador com um potencial ofensivo fabuloso, tecnicamente quase perfeito mas muito imaturo tacticamente. Jesus traalhou-o no primeiro terço da época para que depois se pudesse apresentar a um bom nível. Internacional A pela Holanda, o jovem nascido na Libéria foi sempre um quebra-cabeças para os laterais adversários, mas espero dele que arrisque mais no 1x1 e que procure o golo mais vezes. Foi a época de ambientação ao futebol português, porque Ola John tem muito mais para dar, é um gajo que, à maneira da escola holandesa, não treme com a bola no pé, sabe sempre o que fazer com ela (mas espero mais verticalidade na próxima época), tem um pique e velocidade muito bons e quando tiver mais confiança será um caso sério e um titular indiscutível. Apesar do primeiro impacto não ter sido negativo, longe disso, Ola John deixou-nos com água na boca acerca do craque que se poderá tornar ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. 15/20

NICOLÁS GAITÁN - respira futebol por todos os poros, é um puro sangue, um craque da cabeça aos pés, tivesse ele maior regularidade e consistência e seria top-mundial, aqui e em qualquer sítio. Gaitán joga no Estádio como se estivesse nas ruas da Argentina, procura um futebol espectáculo, de finta, de passe curto e de jogadas espectaculares. Tem um pique excelente e a forma como consegue embalar com a bola controlada é empolgante e dificílima de parar. Começou mal a época (ou algum companheiro estava a trabalhar melhor) mas terminou muito bem, ainda a tempo de participar nalguns golaços (o calcanhar no Estoril e a jogada do derby no golo de Lima). É capaz de fazer jogadas ao alcance de muito poucos jogadores, de trazer classe e perfume a cada toque na bola, mas depois fica largos minutos sem um lance de destaque ou, pior, com consecutivas más decisões. Gostava que ficasse, porque apesar de tacticamente ainda ser um rebelde, é capaz de oferecer coisas que nenhum outro jogador no plantel consegue. 15/20

LIMA - o joker. O avançado mais versátil, mais lutador e que mais constante foi no seu rendimento. Fazer 30 golos numa primeira época, onde se estreou apenas em Coimbra (saltando do banco para marcar uma "bomba" fora da área) é digno de registo e sinal da sua fantástica temporada. Lutador, pressionante, comativo e sobretudo colectivo, Lima foi preponderante no bom rendimento de todo o ataque benfiquista. Jogando como único avançado ou em dupla, o seu rendimento raramente oscilou, o que demonstra bem a sua produtividade e a importância táctica que ele ganhou. Espero mais e melhor na próxima época. 17/20

RODRIGO - tal como Artur teve uma época passada muito boa e as expectativas acerca dele eram enormes este ano. Infelizmente as coisas não lhe saíram bem e digo-o porque de Rodrigo só esperam grandes feitos, grandes golos e grandes jogos, e este ano ele ficou aquém. Pode ser um avançado que vá marcar a próxima década no futebol europeu, esperemos que seja connosco. 13/20

OSCAR CARDOZO - golo. Falar de Cardozo é isso, falar de golos. Voltou a marcar uma "carrada" deles, para todos os gostos e feitios (parecia mesmo que a chegada de Lima tinha também melhorado o seu futebol), a verdade é que Cardozo decide mesmo. A última imagem é a que fica e é verdade que o comportamento de Cardozo no Jamor é indigno e ultraja o benfiquismo, mas não posso julga-lo apenas pelo seu pior momento com o Manto Sagrado, Cardozo tem milhentas boas memórias que, não apagando o mau gesto, permitem que se demonstre reconhecimento pelo excelente jogador que sempre é dentro das quatro linhas. Na hora da verdade, as nossas preces iam sempre ter com o Tacuara, e a verdade é que ele raramente falhava. Não sei se continua a haver espaço para ele no Benfica, mas se sair vai ser muito, muito, muito difícil substituí-lo, demorará anos até que voltemos a ter alguém que marque tantos golos e de forma tão frequente como Oscar Cardozo. 16/20

Esta é a minha análise a alguns dos jogadores na época 12/13, não todos, mas é o meu registo pessoal à época que terminou.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Acabou-se a MAGIA

Pablo César Aimar Giordano foi um dos maiores jogadores que tive o prazer de ver jogar com o Manto Sagrado. No restrito clube de génios só Valdo, Rui Costa e João Vieira Pinto me encheram as medidas como o Pablito.

De Aimar disse um dia Diego Armando Maradona (o melhor de sempre): «é o único jogador por quem pagaria o bilhete só para o ver jogar». A admiração por Pablo Aimar não se esgota no seu virtuosismo técnico, além do "monstro" de jogador, era um profissional exemplar. Fustigado por lesões, não atingiu tudo o que o seu potencial augurava, tivesse a "sorte" das lesões não o molestarem e teria sido, várias vezes, indigitado para uma Bola de Ouro.

Valdano (das pessoas que melhor escreve sobre futebol no Mundo!) sintetizou assim: «Aimar es un jugador de dibujitos animados, de fantasia (...) com una sensibilidade futbolistica extraordinária y un talento exquisito», mas acaba dizendo que jogar com continuidade é um registo supremo, não podes ser o melhor do Mundo se de 4 em 4 meses estás lesionado ou na fisioterapia.

Pego precisamente noutra citação soberba de Valdano (Ganar queremos todos, pero solo los medíocres no aspiran a la belleza) para associar Aimar à ideia do futebol bonito, da nota artística. Os génios são, não raras vezes, incompreendidos e por vezes faltaram companheiros ao futebol de luxo de Pablo Aimar. Não é novidade para ninguém que foi Javier Saviola (outro craque) quem melhor percebeu o futebol do Mago argentino. E a verdade é que as combinações entre os dois raramente tinham defesa, porque quando duas mentes pensam o mesmo e o executam sem falar...estamos muito próximos da beleza máxima do futebol.

O argentino, apesar de raçudo e extremamente competitivo, tem uma debilidade com a gambeta (drible) e sobretudo com o caño (cueca/túnel), basta recordar as palavras de Maradona após a sua estreia na 1ª divisão argentina (a 10 dias de fazer 16 anos): «perdimos pero hice un caño». Cabrera, o jogador que "sofreu" o primeiro túnel de Maradona na 1ª divisão ficou famoso por isso mesmo, e apesar da derrota, Dieguito estava eufórico com o caño e disse que naquele dia começou a tocar o Céu. Esta simples história é bem exemplificativa de como os argentinos adoram a arte, a tal "belleza" do futebol que falava Valdano.

E só a título de curiosidade, na última chamada de Aimar à Selecção Argentina (treinada então por...Maradona), num treino onde o Mago defrontava os presumíveis titulares, foi um caño deste a Fernando Gago que fez o Pelusa gritar: «Caños No!!» Talvez a mudança radical daquele pibe de 15 anos para o treinador explique alguma coisa nos fracos resultados da albiceleste, ou então demonstre que um treinador não pode perder a fantasia dos tempos de jogador em virtude do resultadismo...

Entre as imagens míticas de Aimar com o Manto Sagrado há também um caño, a Andrea Pirlo do AC Milan (eu não sou argentino, mas confesso que é o gesto técnico que mais me agrada no futebol, e apesar de parecer simples, tem toda uma arte na sua execução) numa edição da Eusébio Cup; há aquele passe de rabona a isolar Suazo para um golaço em Guimarães; o golo na Luz frente ao Paços onde recebe a bola no nosso meio-campo e dribla, sozinho, meia equipa adversária antes de rematar colocado para o fundo das redes; o golo do derby, onde deita Rui Patrício e, debaixo de chuva e com pouco ângulo, coloca a bola, com classe à Aimar, na baliza adversária; a delicatessen frente ao V.Setúbal numa noite gloriosa de golos; e sobretudo o beijo ao escudo benfiquista naquela noite dos 4-1 ao PSV, é precisamente aquele frame de raiva, orgulho e delírio que guardo como A imagem de Aimar.

Costumo dizer que para se apreciar Aimar não bastam vídeos de youtube, é preciso ver um jogo dele ao vivo, apreciar tudo o que representava El Mago. Pablito nunca foi um portento físico, sempre foi um jogador franzino, mas aprendeu a contornar esse handicap no futebol de alta competição com um controlo de bola, uma técnica refinada para esconder o esférico do adversário, que lhe proporcionava poucas perdas de bola no despique directo e muitas faltas sofridas. Depois eram as mudanças de velocidade que eram sublimes. Se no Benfica não tivemos a velocidade do pibe do River e dos primeiros anos de Valencia, continuámos a assistir àquelas mudanças de velocidade que ultrapassavam adversários atrás de adversários. E essa sempre foi uma marca registada do futebol de Aimar. Isso e a capacidade de assistir os companheiros, de os deixar na cara do golo. A visão de jogo, o critério no passe, o "inventar" linhas de passe eram tudo atributos do génio de Aimar, apetece-me dizer que jogar com Aimar é fácil e que quem joga com ele torna-se melhor futebolista.

Foi um orgulho imenso ver um jogador da craveira de Pablo Aimar no Benfica - o ídolo de Lionel Messi - foram 5 épocas que souberam a pouco mas que o tornaram Imortal no meu coração. Gostava de escrever algo mais que OBRIGADO PABLITO, mas acabo com uma citação daquele que um dia o argentino apelidou de «melhor treinador que já tive»:

O Aimar é um génio para quem aprecia o futebol como arte. O futebol tem duas componentes, que são a científica e a arte, e o Aimar tem arte e tem paixão. - Jorge Jesus

terça-feira, 4 de junho de 2013

A decisão que tardou mas finalmente chegou

Jorge Jesus renovou oficialmente o contrato com o Sport Lisboa e Benfica por 2 épocas. Na minha perspectiva é a melhor decisão para o nosso Clube, porque me parece que JJ tem muito mais virtudes que defeitos. O upgrade que o futebol benfiquista conseguiu nestes 4 anos (veja-se o registo no ranking da UEFA, onde, estamos perto de ser a 5ª melhor equipa neste período) é para mim responsabilidade (quase total) do treinador.

Não chegou para vencer títulos, é verdade, e o Benfica existe para vencer TÍTULOS, mas não me parece nada que a míngua de conquistas seja obra do treinador. Conto pelos dedos das mãos as más prestações desta época, aqueles jogos em que o treinador agiu/reagiu mal (de cor, lembro-me de Moscovo, Istambul, Bordéus em casa, os 2 jogos com o Beira-Mar, a final da TP). Não acho que tenha sido má a opção da meia-final da TL, em Braga, onde o Benfica (com mais de meia equipa titular de "fora") realizou uma boa partida e só foi eliminado nas grandes penalidades (depois de um 0-0) porque o árbitro não viu uma penalidade gigante sobre Gaitán perto do fim. E se havia que gerir a equipa (uma das grandes críticas ao JJ de outras épocas) estabelecendo prioridades, fazê-lo ali, na Pedreira, e daquela forma, pareceu-me legítimo e acertado.

O jogo com o Barcelona na Luz terá sido o único em que "vendemos" a nossa identidade e quisemos ser nós a adaptar-nos ao adversário. Correu mal. Mas houve ali uns 20 minutos iniciais (Lima isolado frente a Valdés) que poderiam ter escrito outra história. Jesus vergou-se ao poderio daquele Barcelona ainda antes do jogo e decidiu lutar "inferiorizado" perante, provavelmente, a melhor equipa da História do futebol moderno. Curiosamente, quando nada tinha a perder na Catalunha, decidiu jogar "tu-a-tu" e vulgarizou esse mesmo Barcelona (com vários titulares ausentes, é verdade, mas a nossa disposição táctica foi de tal forma agressiva e assertiva que os catalães passaram largos minutos sem pisar o meio-campo ofensivo). Mas também não venceu.

Lembro-me do Benfica de Koeman ter empatado 0-0 na Luz frente ao Barcelona (que viria a sagrar-se Campeão Europeu nesse ano) e a exibição ter sido bem mais "envergonhada" e triste que a do 0-2 desta época. Mas para a História quase nunca ficam as exibições, mas sim os números que reflectem o placard final.

No "jogo do título", na 29ª jornada, não acho nada que também aí tenhamos "vendido a alma ao diabo". Entrámos personalizados, muito compactos e unidos, e até marcámos primeiro. Defensivamente estivemos sempre com o jogo controlado, não se viram sufocos nem aflições. E isso acontece porque a estratégia dessa noite passava por sermos uma EQUIPA, por tentar ser mais fortes e disciplinados tacticamente. O Benfica foi unido e entregou o controlo do jogo ao adversário, que, sendo aquele o 'jogo do ano' para eles, nunca consegui ser fulgurante ou avassalador. E não o conseguiu por mérito da garra e valentia dos nossos.

A ideia não era jogar ao ataque ali, a ideia era ser compacto e tentar ser eficiente no contra-golpe, jogar com o desespero (que se viu) do adversário. A nossa exiição, no meu entender, foi boa, mas foi tendo aqui e ali (como em todos os jogos e com todas as equipas) algumas pequenas falhas. Falhas essas (posicionais ou de julgamento) que só se tornam evidentes quando acabam em golos sofridos. O Porto faz 2 golos fortuitos, sendo que o último é um claro "chuto no destino" de uma equipa que estava amordaçada de todas as formas pelo Benfica. Reparem nos últimos 15 minutos desse desafio e vejam como a nossa classe e tranquilidade havia tonado impotentes os adversários. Os adversários e o público (que saiu mais cedo e assobiou a entrada de... Kelvin).

Na época passada, no clássico da Luz, houve "inteligências" que questionaram a substituição de Aimar (lesionado) por Rodrigo. Os mesmos que, provavelmente questionaram a ida de Roderick a jogo no Dragão...  Mas é preciso contextualizar ambas as situações.

Na Luz o Benfica havia "virado" um 0-1 para 2-1 e dominava de forma conclusiva o jogo. O Porto estava completamente aos papéis e adivinhava-se (já com Rodrigo em campo) o terceiro golo benfiquista tantas eram as nossas cavalgadas em direcção à baliza adversária. Portanto, o que JJ faz com a entrada de Rodrigo (jogador móvel, rápido, potente) para segundo avançado é manter o esquema táctico e procurar que este seja mais incisivo na área que Aimar, mesmo jogando mais recuado que Cardozo. O Benfica não mudou para 2 avançados, iniciou com um 1+1 (1 segundo avançado/médio ofensivo + 1 ponta de lança) e manteve o mesmo desenho táctico.

Rodrigo não tem a gestão de bola de Aimar, o gerir os tempos de ataque do mago argentino, mas trazia maior explosão à zona de decisão, e numa altura em que o Benfica está por cima, tentou a machadada final com a velocidade do hispano-brasileiro. E repare-se que o tandem defensivo (J.Garcia-Witsel) permaneceu inalterado. Ainda assim, houve quem falasse em Matic em vez de Rodrigo, o que, jogando em casa e na disposição táctica que se vivia naquele momento, me pareceria um erro táctico, ou melhor, seria retirar preocupação defensiva ao Porto (que estava à beira do knockout) e incitá-los a subir linhas (Cardozo seria a única unidade atacante para a marcação).

A verdade é que o resultado final (2-3) não é, claramente, consequência destas alterações. É sim resultado directo de alguns erros graves e inexplicáveis daquela aritragem: expulsão de Emerson DEPOIS de perdoar o vermelho a Djalma com muito maiores razões objectivas; não assinalar um toque evidente em Witsel, passando um livre perigosíssimo e consequente sanção disciplinar para um contra-ataque que acabaria no 2-2; e, a cereja no topo do bolo, validar um golo tão irregular como óbvia foi a irregularidade no final da partida. O Benfica é roubado nesse jogo, não o perde por culpa própria e/ou do Jesus.

Já a substituição de Roderick por Gaitán, este ano no Dragão, tem condicionantes bem diferentes. Primeiro o desgaste de Gaitán (que jogou no meio, tendo duas funções: apoiar Lima no ataque e procurar dar alguma cobertura tamém a Enzo e Matic). Depois estava a jogar fora com o resultado a seu favor, logo não me parecia inteligente arriscar ofensivamente naquele momento. O que JJ procura com Roderick (que, sejamos justos, foi valente e não jogou mal) é libertar mais Enzo (o MVP) colocando-o ao lado de Matic.

A estratégia mantinha-se a mesma, 3 homens na zona central, mas agora a comatividade e corpulência de Roderick face à inferioridade física de Gaitán. JJ não recuou linhas aqui, aliás, os melhores minutos nossos na partida acontecem depois desta substituição porque soubemos controlar mais facilmente o ímpeto (reduzido) do adversário.

Na Luz ele não "alargou" ou partiu a equipa com Rodrigo, manteve a mesma táctica procurando ser mais contundente no ataque. E ali jogava (bem!) em casa, onde a vitória era o único resultado satisfatório, portanto mostrou não ter medo ou vontade de defender o resultado. No Dragão o Benfica não precisava ganhar, estava naquela altura com um resultado que interessava, mas tamém ali não fez a equipa recuar, refrescou-a, deu-lhe mais poder de choque, mas não recuou linhas.

 Haverá ainda quem fale também no jogo com o Estoril na Luz. Se tivesse que apontar o dedo a alguém nessa noite não posso esquecer-me das perdidas de Lima e da dupla irresponsabilidade de Martins. Onde errou JJ nessa noite ? Era o 3º jogo numa semana (Marítimo, Fenerbahçe, Estoril) e devia ter "rodado", poupado jogadores ?? Numa 28ª jornada têm que jogar os melhores, por muito cansados que estejam. Naquela altura do Campeonato já não há gestão ou "rodagem" de atletas, ali é para ir a jogo com os melhores disponíveis.

E digo mais, o Benfica não ganha esse jogo porque Enzo sai lesionado. Até aos 19 minutos (altura da substituição) o Benfica havia jogado de forma avassaladora (uma cópia da 5ª feira anterior, frente aos turcos) e desperdiçado já umas 3 ocasiões claras. E para finalizar...o golo que impede a nossa vitória foi em offside...

JJ tem falhas, claro que sim, só não concordo é com muitas das que lhe apontam. Eu acho que ele tem muitas falhas no discurso, podia ser mais agragador com os nossos e implacável com os nossos rivais, podia ter menos o coração ao pé da boca e optar por alguma reserva em determinadas situações. Ainda não aprendeu quando deve "explodir" e pressionar outros e quando deve "mimar" a própria casa. E ás vezes estes "grãoszinhos de areia" causam muita mossa...

Agora tacticamente é do melhor que passou pelo Benfica. Direi mesmo que só assisti a um melhor desde que vejo o Benfica: o sueco Sven-Goran Eriksson. A forma como ele faz render a equipa, como joga de igual para igual em todos os estádios da Europa e como fez regressar um Benfica temível é notória.

É verdade que estas virtudes e qualidades tendem a esbater-se perante a ausência de títulos importantes, mas para mim o rumo certo é com Jorge Jesus. E repito, se não ganhamos mais e com maior frequência, não é decididamente por causa do nosso treinador. Que não sendo o melhor do mundo, é muito, muito, muito bom tacticamente.

Terá ele arcaboiço para levar o Benfica para o próximo nível ? A resposta segue dentro de 2 meses...