sábado, 8 de junho de 2013

Análise 12/13

ARTUR - depois duma 1ª época muito boa (contrariando a ideia que tinha dele) e onde terá valido alguns pontos (mas longe dos 9/10 que os keepers de eleição costumam garantir por Campeonato), Artur teve um segundo ano regular, com falhas graves em momentos chave. Se na primeira época recordamos defesas do outro mundo frente ao Twente (por exemplo), este ano fica marcado por frangos frente ao Porto (2 jogos), Nacional fora, Estoril em casa e na Final da TP. No dia dessas falhas não vencemos nenhum jogo... É que as falhas de um GR notam-se mais que qualquer outro jogador, porque normalmente resultam em golos sofridos. Na 1ª época lembro-me de um frango, na Luz, numa vitória frente ao Guimarães, este ano, já o escrevi acima, há vários. Fez bom jogos frente ao Barcelona (costuma jogar melhor na Europa...) e tem uma defesa descomunal (à Gordon Banks) em Vila do Conde no último minuto, mas não se viram muito mais dessas. O nível dele no ano passado pareceu tão bom que os rumores da canarinha se acentuaram..e não sei se esse sonho terá contribuído para a sua desconcentração deste ano, mas não tivemos o mesmo Artur. 11/20

PAULO LOPES - como se esperava jogou pouco. Recordo 2 jogos nas Taças, em Freamunde e Moreira de Cónegos, onde teve boas intervenções e jogou bem. Terá sido contratado porque é formado localmente e oferecia algumas garantias caso fosse chamado a jogar. 10/20

ANDRÉ ALMEIDA - sempre vi futebol no André, mas não esperava que rendesse tanto como esta época. E para ser justo, sempre achei que tinha muito mais futuro a médio-centro que a defesa lateral. Achava que como médio podia ter uma carreira interessante, mas como lateral não lhe via grandes capacidades para ser mais do que medíocre. Pois bem, e apesar de ter feito uma belíssima partida no centro do terreno frente ao Spartak, na Luz, foi na lateral que "arrancou" os seus melhores jogos. E terá sido mesmo na lateral esquerda onde assinou os melhores registos, recordo o jogo na Luz frente ao Fenerbahçe, o jogo no Dragão ou até a final da LE. Mostrou ser um bom valor e conto com ele no plantel do próximo ano, Jesus tem aqui um menino para moldar e fazer crescer. 14/20

MAXI - já o escrevi inúmeras vezes, o Maxi é, de todo o plantel, o jogador mais à Benfica que temos connosco. Tem aquela raça uruguaia que tão bem casa com os valores do Benfica, aquela coisa do antes quebrar que torcer. É um atleta que dá tudo durante 90 minutos (não raras vezes, e quando o marcador já passa dos 80', vemo-lo a fazer sprints até à linha de fundo) ou 45, ou apenas 5, para o Maxi nunca há jogo a feijões, ele veste aquela camisola e sabe que vai para a guerra, e na "guerra do Maxi" desistir nunca é opção. Se um dia tivéssemos 11 Maxis...seríamos quase imbatíveis. Mas isto não me impede de reconhecer que esta não foi a melhor época futebolística do uruguaio. Começou num aparente descontrolo táctico onde estava em todo o lado (ou queria estar) menos na defesa da lateral direita. Ainda me perguntei se era pura anarquia táctica ou, visto que o lateral esquerdo não subia, teria permissão para aquelas posições tão avançadas (deixando o Benfica com uma defesa a 3). Com o final da época viu-se que Jesus preferiu controlar o risco de ter um lateral direito demasiado ofensivo em certos jogos e sentou-o. Houve muitos jogos que lhe correram mal, mas a "bicicleta" frente ao Beira-Mar (num jogo muito complicado depois do desgaste físico ocorrido frente ao Barça) evitou a perda de pontos, e o golo frente ao Estoril (onde já havia "falhado" um..) ainda alimentou o sonho. Esperava-se mais de Maxi, a sua entrega incondicional não foi suficiente este ano. 12/20

MELGAREJO - um dos estreantes desta época. Vinha de uma belíssima época enquanto extremo esquerdo e com mais de 10 golos no Campeonato pelo Paços de Ferreira (emprestado pelo Benfica). As minhas expectativas eram que pudesse ser o substituto de Gaitán na extrema esquerda visto ser potente, ter um bom pique e livrar-se com facilidade do seu marcador. E além disto tudo tinha golo. Jesus adaptou-o a lateral esquerdo e jogou aí toda a época (8º mais utilizado, 1873 minutos). Pensei que podia ser boa ideia tê-lo a lateral se ele se adaptasse defensivamente, porque na vertente ofensiva acho que ele podia ser tão bom como Coentrão. Não foi isso que aconteceu, Melgarejo poucas vezes ofereceu profundidades ofensiva e mostrou-se sempre muito mais resguardado e recuado que o lateral oposto. Creio que todo esse recato na parte atacante terá partido do banco, que se terá focado em que Melgarejo defendesse bem primeiramente, que aprendesse as rotinas defensivas para que ganhasse confiança na nova posição e que só depois se balanceasse no ataque. Ainda recordo o Melgarejo ofensivo no início de época (frente ao Madrid na Eusébio Cup ou frente a um V.Setúbal com 10 jogadores...), mas depois, o que assistimos com mais destaque foram várias exibições muito competentes defensivamente. Coentrão agarrou a titularidade como lateral perto do final da 1ª volta (Jesus trabalhou-o, sem pressão, até esse momento), Melgarejo não teve esse tempo, fez a sua aprendizagem em competição, quase sem hipótese de errar. E na minha perspectiva fez um traalho muito bom na 1ª época como defesa esquerdo, acho que tem potencial para ser um caso sério, assim lhe permitam continuar a evoluir na posição. 15/20

LUISINHO - o melhor que posso dizer dele é que é o lateral que melhor cruza no plantel, a sua técnica de cruzamento é excelente e uma arma ofensiva cada vez mais importante no futebol moderno. Mas de resto, Luisinho (também com poucas chances) desiludiu. Trapalhão, pouco concentrado e acusar falta de qualidade para estas andanças. Deve sair. 10/20

GARAY - muitíssimo regular. De Garay não se esperam grandes feitos, mas a verdade é que raramente falha nas suas competências: defender. Não tem o carisma ou a liderança de Luisão, mas é um fantástico complemento para qualquer central, joga simples, joga fácil e tem boa qualidade passe (melhor que Luisão por exemplo) para iniciar o processo ofensivo. Faz uma grande época (a falha com Wolfswinkel - onde é ultrapassado de forma risível.. - é das pouquíssimas coisas que lhe posso apontar) e terá sido, certamente, aquele que menos oscilou no seu nível exibicional. Essa regularidade e discrição no cumprimento das suas tarefas levaram-no à titularidade da Selecção Argentina e, mais que provavelmente, ao Manchester United. 16/20

LUISÃO - é o Capitão, estrategicamente é o jogador mais importante da nossa defensiva, quando ele está presente todos jogam melhor, mais concentrados. Luisão esteve castigado 2 meses, o que, forçosamente, terá um grande impacto na sua forma, e logo Luisão que (tal como Cardozo, por exemplo) é um jogador que demora a atingir a sua melhor forma, basta estarem atentos às pré-épocas. Além de Capitão, Luisão tem um "dom", uma espécie de timing para fazer golos decisivos, mas este ano isso não aconteceu... Ainda assim fez uma boa época, foi importante como sempre e raramente cometeu deslizes, a verdade é que se notou menos o seu impacto no terreno este ano. Luisão é fundamental naquele grupo, no balneário e até Jesus o considera um "treinador dentro de campo", e talvez por isso mesmo se espera sempre mais. 15/20

JARDEL - foi o companheiro de Garay durante o castigo de Luisão, e o melhor elogio que lhe posso fazer é que nesses 2 meses só pensei no Capitão uma vez: em Moscovo. Jardel é o central mais rápido do plantel, mas, tal como Garay, não é um líder, é um jogador competente, certinho e excelente profissional. Reconheço-lhe qualidades que me levam a considerá-lo o 3º central do plantel e merece permanecer connosco. Com a saída de Garay, e se não se contratar um central de eleição, Jardel dá-me garantias para assegurar a titularidade, a questão é que se queremos aumentar a exigência e o nível de jogo...precisamos de outro perfil de central, mas mantendo Jardel no plantel. 14/20

MATIC - MVP do Campeonato, melhor jogador do Benfica e provavelmente estará actualmente entre os 10 melhores médios-defensivos do Mundo. Raio de acção inacreditável (ás vezes parecia omnipresente), técnica de avançado, imponente fisicamente, Matic faz tudo e tudo faz bem. De desconhecido JJ transformou-o em referência mundial, um patrão dentro das 4 linhas. A souplesse, a facilidade com que ele "deita" adversários, a forma como transforma uma acção defensiva num contra-golpe, a capacidade de destruir muralhas defensivas com a cabeça levantada tornam-no já numa lenda do Benfica. Podemos vender todos os jogadores menos o Nemanja Matic, o futuro do Benfica passa por este fabuloso sérvio. 18/20

ENZO PÉREZ - o argentino tem todas as características do futebolista moderno: intensidade, raça, pulmão, velocidade, técnica e disponibilidade física. Houve jogos em que os adversários pareciam crianças a defrontar um adulto, sozinho encheu campos e campos por essa Europa fora, um fenómeno. E depois tem atitude, tem aquele feitio argentino que faz dele um jogador de fibra (como Maxi), um médio que tem hoje a Luz a seus pés. Depois de Matic é o jogador mais fundamental na próxima época, e é com jogadores desta estirpe que eu quero que se construa o Benfica, são jogadores assim que se tornarão Lendas na História do Sport Lisboa e Benfica. 17/20

ANDRÉ GOMES - era Capitão dos Juniores e chegou ao plantel principal após alguns jogos na Equipa B. Jogador maduro, tranquilo (foi titular em Camp Nou e Alvalade e parecia um veterano) e que faz da simplicidade de processos a sua maior qualidade. É muito forte fisicamente, protege bem a bola e ainda tem "chegada" à área. Bem trabalhado pode ser um caso sério no futebol português, espera-se que a próxima seja a época de afirmação, entra no "meu" plantel para 13/14. 13/20

PABLO AIMAR - jogou pouquíssimo, foi fustigado por uma longa lesão (antes dele, e com poucas jornadas já liderava o ranking das assistências) e depois disso nunca teve tempo ou espaço para realmente mostrar o seu nível (gostei da sua exibição na Pedreira, para a TL). A verdade é que o nosso futebol ganhava outra dimensão com ele em campo, o jogo passava a ser mais cerebral e mais fluído. Arrisco a dizer que, com o melhor Aimar, este ano tínhamos "dado de calcanhar" em todas as competições. Aquele gerir o jogo de El Mago, as pausas, as triangulações teriam sido o maior aliado de Enzo e Matic (que trio de luxo tinha sido...) formando um centro do terreno fabuloso. Foi pena não poder desfrutar mais de Pablito este ano e "oferecer-lhe" os merecidos títulos nesta sua última campanha entre nós. 11/20

SALVIO - para mim é o jogador que, ofensivamente, mais desequilibra os nossos adversários, porque alia à potência e técnica individual um sentido táctico e colectivo muito importante. E além de criar inúmeras situações de golo, concretiza ele próprio muitas. Depois de Artur e Maxi foi o jogador com mais minutos do plantel e só por aí se vê a importância dele no Benfica actual. Jogador de fino recorte técnico, tem ainda uma capacidade física impressionante, que muitas vezes transportou a equipa às costas para grandes exibições. De Salvio apetece dizer que o melhor ainda está para vir, fará parte dos eleitos da Argentina no Mundial de 2014. 16/20

URRETAVIZCAYA - primeira parte da época em branco (inexplicavelmente não foi inscrito - ou não quis ser - nem na equipa B) e segunda metade com bons jogos na B e curtíssimas aparições na equipa principal (onde fez um golaço de livre na Madeira, frente ao Nacional). Rapidíssimo, sempre pareceu ter potencial a rodos mas sucessivos falhanços nos empréstimos ameçam fazer dele eterna promessa. Quando jogou mostrou vontade e atitude em ajudar mas acabou por não ter continuidade. JJ teve-o sempre por perto (maioritariamente no banco, é verdade) no último trecho do Campeonato, o que me faz pensar que o uruguaio "conta" para a próxima época, mas dos nomes que se falam como possíveis contratações do Benfica, vários seriam concorrentes dele... 12/20

OLA JOHN - é uma pérola, um jogador com um potencial ofensivo fabuloso, tecnicamente quase perfeito mas muito imaturo tacticamente. Jesus traalhou-o no primeiro terço da época para que depois se pudesse apresentar a um bom nível. Internacional A pela Holanda, o jovem nascido na Libéria foi sempre um quebra-cabeças para os laterais adversários, mas espero dele que arrisque mais no 1x1 e que procure o golo mais vezes. Foi a época de ambientação ao futebol português, porque Ola John tem muito mais para dar, é um gajo que, à maneira da escola holandesa, não treme com a bola no pé, sabe sempre o que fazer com ela (mas espero mais verticalidade na próxima época), tem um pique e velocidade muito bons e quando tiver mais confiança será um caso sério e um titular indiscutível. Apesar do primeiro impacto não ter sido negativo, longe disso, Ola John deixou-nos com água na boca acerca do craque que se poderá tornar ao serviço do Sport Lisboa e Benfica. 15/20

NICOLÁS GAITÁN - respira futebol por todos os poros, é um puro sangue, um craque da cabeça aos pés, tivesse ele maior regularidade e consistência e seria top-mundial, aqui e em qualquer sítio. Gaitán joga no Estádio como se estivesse nas ruas da Argentina, procura um futebol espectáculo, de finta, de passe curto e de jogadas espectaculares. Tem um pique excelente e a forma como consegue embalar com a bola controlada é empolgante e dificílima de parar. Começou mal a época (ou algum companheiro estava a trabalhar melhor) mas terminou muito bem, ainda a tempo de participar nalguns golaços (o calcanhar no Estoril e a jogada do derby no golo de Lima). É capaz de fazer jogadas ao alcance de muito poucos jogadores, de trazer classe e perfume a cada toque na bola, mas depois fica largos minutos sem um lance de destaque ou, pior, com consecutivas más decisões. Gostava que ficasse, porque apesar de tacticamente ainda ser um rebelde, é capaz de oferecer coisas que nenhum outro jogador no plantel consegue. 15/20

LIMA - o joker. O avançado mais versátil, mais lutador e que mais constante foi no seu rendimento. Fazer 30 golos numa primeira época, onde se estreou apenas em Coimbra (saltando do banco para marcar uma "bomba" fora da área) é digno de registo e sinal da sua fantástica temporada. Lutador, pressionante, comativo e sobretudo colectivo, Lima foi preponderante no bom rendimento de todo o ataque benfiquista. Jogando como único avançado ou em dupla, o seu rendimento raramente oscilou, o que demonstra bem a sua produtividade e a importância táctica que ele ganhou. Espero mais e melhor na próxima época. 17/20

RODRIGO - tal como Artur teve uma época passada muito boa e as expectativas acerca dele eram enormes este ano. Infelizmente as coisas não lhe saíram bem e digo-o porque de Rodrigo só esperam grandes feitos, grandes golos e grandes jogos, e este ano ele ficou aquém. Pode ser um avançado que vá marcar a próxima década no futebol europeu, esperemos que seja connosco. 13/20

OSCAR CARDOZO - golo. Falar de Cardozo é isso, falar de golos. Voltou a marcar uma "carrada" deles, para todos os gostos e feitios (parecia mesmo que a chegada de Lima tinha também melhorado o seu futebol), a verdade é que Cardozo decide mesmo. A última imagem é a que fica e é verdade que o comportamento de Cardozo no Jamor é indigno e ultraja o benfiquismo, mas não posso julga-lo apenas pelo seu pior momento com o Manto Sagrado, Cardozo tem milhentas boas memórias que, não apagando o mau gesto, permitem que se demonstre reconhecimento pelo excelente jogador que sempre é dentro das quatro linhas. Na hora da verdade, as nossas preces iam sempre ter com o Tacuara, e a verdade é que ele raramente falhava. Não sei se continua a haver espaço para ele no Benfica, mas se sair vai ser muito, muito, muito difícil substituí-lo, demorará anos até que voltemos a ter alguém que marque tantos golos e de forma tão frequente como Oscar Cardozo. 16/20

Esta é a minha análise a alguns dos jogadores na época 12/13, não todos, mas é o meu registo pessoal à época que terminou.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Acabou-se a MAGIA

Pablo César Aimar Giordano foi um dos maiores jogadores que tive o prazer de ver jogar com o Manto Sagrado. No restrito clube de génios só Valdo, Rui Costa e João Vieira Pinto me encheram as medidas como o Pablito.

De Aimar disse um dia Diego Armando Maradona (o melhor de sempre): «é o único jogador por quem pagaria o bilhete só para o ver jogar». A admiração por Pablo Aimar não se esgota no seu virtuosismo técnico, além do "monstro" de jogador, era um profissional exemplar. Fustigado por lesões, não atingiu tudo o que o seu potencial augurava, tivesse a "sorte" das lesões não o molestarem e teria sido, várias vezes, indigitado para uma Bola de Ouro.

Valdano (das pessoas que melhor escreve sobre futebol no Mundo!) sintetizou assim: «Aimar es un jugador de dibujitos animados, de fantasia (...) com una sensibilidade futbolistica extraordinária y un talento exquisito», mas acaba dizendo que jogar com continuidade é um registo supremo, não podes ser o melhor do Mundo se de 4 em 4 meses estás lesionado ou na fisioterapia.

Pego precisamente noutra citação soberba de Valdano (Ganar queremos todos, pero solo los medíocres no aspiran a la belleza) para associar Aimar à ideia do futebol bonito, da nota artística. Os génios são, não raras vezes, incompreendidos e por vezes faltaram companheiros ao futebol de luxo de Pablo Aimar. Não é novidade para ninguém que foi Javier Saviola (outro craque) quem melhor percebeu o futebol do Mago argentino. E a verdade é que as combinações entre os dois raramente tinham defesa, porque quando duas mentes pensam o mesmo e o executam sem falar...estamos muito próximos da beleza máxima do futebol.

O argentino, apesar de raçudo e extremamente competitivo, tem uma debilidade com a gambeta (drible) e sobretudo com o caño (cueca/túnel), basta recordar as palavras de Maradona após a sua estreia na 1ª divisão argentina (a 10 dias de fazer 16 anos): «perdimos pero hice un caño». Cabrera, o jogador que "sofreu" o primeiro túnel de Maradona na 1ª divisão ficou famoso por isso mesmo, e apesar da derrota, Dieguito estava eufórico com o caño e disse que naquele dia começou a tocar o Céu. Esta simples história é bem exemplificativa de como os argentinos adoram a arte, a tal "belleza" do futebol que falava Valdano.

E só a título de curiosidade, na última chamada de Aimar à Selecção Argentina (treinada então por...Maradona), num treino onde o Mago defrontava os presumíveis titulares, foi um caño deste a Fernando Gago que fez o Pelusa gritar: «Caños No!!» Talvez a mudança radical daquele pibe de 15 anos para o treinador explique alguma coisa nos fracos resultados da albiceleste, ou então demonstre que um treinador não pode perder a fantasia dos tempos de jogador em virtude do resultadismo...

Entre as imagens míticas de Aimar com o Manto Sagrado há também um caño, a Andrea Pirlo do AC Milan (eu não sou argentino, mas confesso que é o gesto técnico que mais me agrada no futebol, e apesar de parecer simples, tem toda uma arte na sua execução) numa edição da Eusébio Cup; há aquele passe de rabona a isolar Suazo para um golaço em Guimarães; o golo na Luz frente ao Paços onde recebe a bola no nosso meio-campo e dribla, sozinho, meia equipa adversária antes de rematar colocado para o fundo das redes; o golo do derby, onde deita Rui Patrício e, debaixo de chuva e com pouco ângulo, coloca a bola, com classe à Aimar, na baliza adversária; a delicatessen frente ao V.Setúbal numa noite gloriosa de golos; e sobretudo o beijo ao escudo benfiquista naquela noite dos 4-1 ao PSV, é precisamente aquele frame de raiva, orgulho e delírio que guardo como A imagem de Aimar.

Costumo dizer que para se apreciar Aimar não bastam vídeos de youtube, é preciso ver um jogo dele ao vivo, apreciar tudo o que representava El Mago. Pablito nunca foi um portento físico, sempre foi um jogador franzino, mas aprendeu a contornar esse handicap no futebol de alta competição com um controlo de bola, uma técnica refinada para esconder o esférico do adversário, que lhe proporcionava poucas perdas de bola no despique directo e muitas faltas sofridas. Depois eram as mudanças de velocidade que eram sublimes. Se no Benfica não tivemos a velocidade do pibe do River e dos primeiros anos de Valencia, continuámos a assistir àquelas mudanças de velocidade que ultrapassavam adversários atrás de adversários. E essa sempre foi uma marca registada do futebol de Aimar. Isso e a capacidade de assistir os companheiros, de os deixar na cara do golo. A visão de jogo, o critério no passe, o "inventar" linhas de passe eram tudo atributos do génio de Aimar, apetece-me dizer que jogar com Aimar é fácil e que quem joga com ele torna-se melhor futebolista.

Foi um orgulho imenso ver um jogador da craveira de Pablo Aimar no Benfica - o ídolo de Lionel Messi - foram 5 épocas que souberam a pouco mas que o tornaram Imortal no meu coração. Gostava de escrever algo mais que OBRIGADO PABLITO, mas acabo com uma citação daquele que um dia o argentino apelidou de «melhor treinador que já tive»:

O Aimar é um génio para quem aprecia o futebol como arte. O futebol tem duas componentes, que são a científica e a arte, e o Aimar tem arte e tem paixão. - Jorge Jesus

terça-feira, 4 de junho de 2013

A decisão que tardou mas finalmente chegou

Jorge Jesus renovou oficialmente o contrato com o Sport Lisboa e Benfica por 2 épocas. Na minha perspectiva é a melhor decisão para o nosso Clube, porque me parece que JJ tem muito mais virtudes que defeitos. O upgrade que o futebol benfiquista conseguiu nestes 4 anos (veja-se o registo no ranking da UEFA, onde, estamos perto de ser a 5ª melhor equipa neste período) é para mim responsabilidade (quase total) do treinador.

Não chegou para vencer títulos, é verdade, e o Benfica existe para vencer TÍTULOS, mas não me parece nada que a míngua de conquistas seja obra do treinador. Conto pelos dedos das mãos as más prestações desta época, aqueles jogos em que o treinador agiu/reagiu mal (de cor, lembro-me de Moscovo, Istambul, Bordéus em casa, os 2 jogos com o Beira-Mar, a final da TP). Não acho que tenha sido má a opção da meia-final da TL, em Braga, onde o Benfica (com mais de meia equipa titular de "fora") realizou uma boa partida e só foi eliminado nas grandes penalidades (depois de um 0-0) porque o árbitro não viu uma penalidade gigante sobre Gaitán perto do fim. E se havia que gerir a equipa (uma das grandes críticas ao JJ de outras épocas) estabelecendo prioridades, fazê-lo ali, na Pedreira, e daquela forma, pareceu-me legítimo e acertado.

O jogo com o Barcelona na Luz terá sido o único em que "vendemos" a nossa identidade e quisemos ser nós a adaptar-nos ao adversário. Correu mal. Mas houve ali uns 20 minutos iniciais (Lima isolado frente a Valdés) que poderiam ter escrito outra história. Jesus vergou-se ao poderio daquele Barcelona ainda antes do jogo e decidiu lutar "inferiorizado" perante, provavelmente, a melhor equipa da História do futebol moderno. Curiosamente, quando nada tinha a perder na Catalunha, decidiu jogar "tu-a-tu" e vulgarizou esse mesmo Barcelona (com vários titulares ausentes, é verdade, mas a nossa disposição táctica foi de tal forma agressiva e assertiva que os catalães passaram largos minutos sem pisar o meio-campo ofensivo). Mas também não venceu.

Lembro-me do Benfica de Koeman ter empatado 0-0 na Luz frente ao Barcelona (que viria a sagrar-se Campeão Europeu nesse ano) e a exibição ter sido bem mais "envergonhada" e triste que a do 0-2 desta época. Mas para a História quase nunca ficam as exibições, mas sim os números que reflectem o placard final.

No "jogo do título", na 29ª jornada, não acho nada que também aí tenhamos "vendido a alma ao diabo". Entrámos personalizados, muito compactos e unidos, e até marcámos primeiro. Defensivamente estivemos sempre com o jogo controlado, não se viram sufocos nem aflições. E isso acontece porque a estratégia dessa noite passava por sermos uma EQUIPA, por tentar ser mais fortes e disciplinados tacticamente. O Benfica foi unido e entregou o controlo do jogo ao adversário, que, sendo aquele o 'jogo do ano' para eles, nunca consegui ser fulgurante ou avassalador. E não o conseguiu por mérito da garra e valentia dos nossos.

A ideia não era jogar ao ataque ali, a ideia era ser compacto e tentar ser eficiente no contra-golpe, jogar com o desespero (que se viu) do adversário. A nossa exiição, no meu entender, foi boa, mas foi tendo aqui e ali (como em todos os jogos e com todas as equipas) algumas pequenas falhas. Falhas essas (posicionais ou de julgamento) que só se tornam evidentes quando acabam em golos sofridos. O Porto faz 2 golos fortuitos, sendo que o último é um claro "chuto no destino" de uma equipa que estava amordaçada de todas as formas pelo Benfica. Reparem nos últimos 15 minutos desse desafio e vejam como a nossa classe e tranquilidade havia tonado impotentes os adversários. Os adversários e o público (que saiu mais cedo e assobiou a entrada de... Kelvin).

Na época passada, no clássico da Luz, houve "inteligências" que questionaram a substituição de Aimar (lesionado) por Rodrigo. Os mesmos que, provavelmente questionaram a ida de Roderick a jogo no Dragão...  Mas é preciso contextualizar ambas as situações.

Na Luz o Benfica havia "virado" um 0-1 para 2-1 e dominava de forma conclusiva o jogo. O Porto estava completamente aos papéis e adivinhava-se (já com Rodrigo em campo) o terceiro golo benfiquista tantas eram as nossas cavalgadas em direcção à baliza adversária. Portanto, o que JJ faz com a entrada de Rodrigo (jogador móvel, rápido, potente) para segundo avançado é manter o esquema táctico e procurar que este seja mais incisivo na área que Aimar, mesmo jogando mais recuado que Cardozo. O Benfica não mudou para 2 avançados, iniciou com um 1+1 (1 segundo avançado/médio ofensivo + 1 ponta de lança) e manteve o mesmo desenho táctico.

Rodrigo não tem a gestão de bola de Aimar, o gerir os tempos de ataque do mago argentino, mas trazia maior explosão à zona de decisão, e numa altura em que o Benfica está por cima, tentou a machadada final com a velocidade do hispano-brasileiro. E repare-se que o tandem defensivo (J.Garcia-Witsel) permaneceu inalterado. Ainda assim, houve quem falasse em Matic em vez de Rodrigo, o que, jogando em casa e na disposição táctica que se vivia naquele momento, me pareceria um erro táctico, ou melhor, seria retirar preocupação defensiva ao Porto (que estava à beira do knockout) e incitá-los a subir linhas (Cardozo seria a única unidade atacante para a marcação).

A verdade é que o resultado final (2-3) não é, claramente, consequência destas alterações. É sim resultado directo de alguns erros graves e inexplicáveis daquela aritragem: expulsão de Emerson DEPOIS de perdoar o vermelho a Djalma com muito maiores razões objectivas; não assinalar um toque evidente em Witsel, passando um livre perigosíssimo e consequente sanção disciplinar para um contra-ataque que acabaria no 2-2; e, a cereja no topo do bolo, validar um golo tão irregular como óbvia foi a irregularidade no final da partida. O Benfica é roubado nesse jogo, não o perde por culpa própria e/ou do Jesus.

Já a substituição de Roderick por Gaitán, este ano no Dragão, tem condicionantes bem diferentes. Primeiro o desgaste de Gaitán (que jogou no meio, tendo duas funções: apoiar Lima no ataque e procurar dar alguma cobertura tamém a Enzo e Matic). Depois estava a jogar fora com o resultado a seu favor, logo não me parecia inteligente arriscar ofensivamente naquele momento. O que JJ procura com Roderick (que, sejamos justos, foi valente e não jogou mal) é libertar mais Enzo (o MVP) colocando-o ao lado de Matic.

A estratégia mantinha-se a mesma, 3 homens na zona central, mas agora a comatividade e corpulência de Roderick face à inferioridade física de Gaitán. JJ não recuou linhas aqui, aliás, os melhores minutos nossos na partida acontecem depois desta substituição porque soubemos controlar mais facilmente o ímpeto (reduzido) do adversário.

Na Luz ele não "alargou" ou partiu a equipa com Rodrigo, manteve a mesma táctica procurando ser mais contundente no ataque. E ali jogava (bem!) em casa, onde a vitória era o único resultado satisfatório, portanto mostrou não ter medo ou vontade de defender o resultado. No Dragão o Benfica não precisava ganhar, estava naquela altura com um resultado que interessava, mas tamém ali não fez a equipa recuar, refrescou-a, deu-lhe mais poder de choque, mas não recuou linhas.

 Haverá ainda quem fale também no jogo com o Estoril na Luz. Se tivesse que apontar o dedo a alguém nessa noite não posso esquecer-me das perdidas de Lima e da dupla irresponsabilidade de Martins. Onde errou JJ nessa noite ? Era o 3º jogo numa semana (Marítimo, Fenerbahçe, Estoril) e devia ter "rodado", poupado jogadores ?? Numa 28ª jornada têm que jogar os melhores, por muito cansados que estejam. Naquela altura do Campeonato já não há gestão ou "rodagem" de atletas, ali é para ir a jogo com os melhores disponíveis.

E digo mais, o Benfica não ganha esse jogo porque Enzo sai lesionado. Até aos 19 minutos (altura da substituição) o Benfica havia jogado de forma avassaladora (uma cópia da 5ª feira anterior, frente aos turcos) e desperdiçado já umas 3 ocasiões claras. E para finalizar...o golo que impede a nossa vitória foi em offside...

JJ tem falhas, claro que sim, só não concordo é com muitas das que lhe apontam. Eu acho que ele tem muitas falhas no discurso, podia ser mais agragador com os nossos e implacável com os nossos rivais, podia ter menos o coração ao pé da boca e optar por alguma reserva em determinadas situações. Ainda não aprendeu quando deve "explodir" e pressionar outros e quando deve "mimar" a própria casa. E ás vezes estes "grãoszinhos de areia" causam muita mossa...

Agora tacticamente é do melhor que passou pelo Benfica. Direi mesmo que só assisti a um melhor desde que vejo o Benfica: o sueco Sven-Goran Eriksson. A forma como ele faz render a equipa, como joga de igual para igual em todos os estádios da Europa e como fez regressar um Benfica temível é notória.

É verdade que estas virtudes e qualidades tendem a esbater-se perante a ausência de títulos importantes, mas para mim o rumo certo é com Jorge Jesus. E repito, se não ganhamos mais e com maior frequência, não é decididamente por causa do nosso treinador. Que não sendo o melhor do mundo, é muito, muito, muito bom tacticamente.

Terá ele arcaboiço para levar o Benfica para o próximo nível ? A resposta segue dentro de 2 meses...

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Karma começa a pagar a dívida

O Benfica é CAMPEÃO EUROPEU de Hóquei em patins !! Ganhámos a Champions de hóquei pela primeira vez! E ganhámo-la eliminando a maior potência mundial na modalidade (FC Barcelona) na semi-final e o anfitrião (FC Porto) na final. Com 2 jogos de luxo e a mostrar a fibra do Benfica, conquistámos a mais importante prova de clubes do Mundo, feito inédito num Benfica que, ainda assim apresenta títulos europeus em 4 disciplinas (futeol, futsal, hóquei e atletismo).

Se pudessemos escolher a forma mais difícil de se conquistar um título diria que era esta: defrontar Barcelona e Porto, e fazê-lo no sítio mais agreste/complicado/hostil/violento/asqueroso/tendencioso (riscar o que não interessa) possível. Muitos benfiquistos já se lamuriavam ontem e chamavam cabeçudos aos heróis benfiquistas de patins nos pés e stick nas mãos (com "adeptos" destes...).

Perante todas as adversidades, o Benfica foi a jogo e deu uma lição para a História do hóquei ao seu rival. E friso rival, porque para nós eles não passam disso, rivais, (e isso também lhes mói o juízo) por muito que alguns "jornalistas" (aspas bem acentuadas) se esqueçam:

-perguntava um desses artistas no fim do jogo, a Diogo Rafael «vencer na casa do inimigo é melhor?» E o miúdo (dos melhores hoquistas do Mundo) foi exemplar na resposta: «inimigo não, é rival, adversário»

São exemplos destes que nos tornam enormes, são jogadores da estirpe do Diogo Rafael que simbolizam o ADN Benfica. Porque aquela espécie de jornalista da RTP Norte é apenas mais um superdragão a soldo e esqueceu-se momentaneamente do que estava a fazer (se le vio el plumero como dizem os espanhóis). Mas o Diogo Rafael não ficou por aqui, terminou com outra tirada de mestre:

«Eles podem ganhar outras Taças Europeias, nós podemos ganhar, mas vencer aqui, desta forma, ninguém nos tira e não se esquecerá»

Nos últimos 2 anos apenas, esta equipa de hóquei (e uma palavra muito especial para o treinador - que eu espero que continue connosco para o ano - Luis Sénica) ganhou todas as competições possíveis de ganhar, a saber:

- Campeonato, Taça, Supertaça, Taça CERS, Intercontinental e Liga dos Campeões

Em 2 anos apenas fizeram história e atingiram algo que nem as mais brilhantes equipas da nossa História (Panchito, Luis Ferreira, Fortunato, Livramento, Dantas, Lopes e tantos, tantos outros ilustres) haviam conseguido. E fizeram-no, mais uma vez, contra tudo e contra todos, num antro que no dia anterior havia enxovalhado e agredido seres humanos pelo simples facto de serem do Maior Clube do Mundo!

Além de jogadores, dirigentes e equipa técnica, são os benfiquistas (e uma palavra para os heróis que foram ao pavilhão apoiar as nossas cores) que mais merecem esta conquista fabulosa e inédita. Muitos afiaram as facas toda a noite e todo o dia, mas a verdade é que foi ESTE Benfica e ESTA direcção que ficaram na História do nosso Clube. A termos perdido, os insultos e piadas soezes estariam agora espalhadas na blogosfera, portanto é de bom tom elogiar quem conquistou este feito, desde presidente a roupeiro (esperemos sentados).

Mas por falar em Presidente, há uma crítica que lhe faço: porque não esteve presente no Pavilhão ?? Espero ouvir da boca dele uma explicação e gostava mesmo que essa explicação fizesse sentido... Se eu fosse Presidente do Benfica não sei se estaria naquele antro, mas estaria com os jogadores e técnicos todo o tempo (nem que fosse no balneário). Compreendo também que era uma Final e que institucionalmente é de bom tom ter a figura presidencial na Tribuna, mesmo que essa seja uma Tribuna que incessantemente tenta conspurcar o nosso bom nome. Sinceramente gostava de saber porque "furámos" o protocolo...se foi como forma de protesto ou desleixo indesculpável.

Mas a Champions do hóquei não foi o único título conquistado ontem pelo Benfica. Os juvenis (futebol) deslocaram-se também à cidade do Porto e sagraram-se Campeões Nacionais. E fizeram-no com requintes muito particulares:

- no último minuto, com um livre frontal à sua baliza, o guarda-redes do Porto apontava de forma saloia para o escudo de Campeão da sua camisola (o Porto vencia 1-0 nesse momento) tentando demonstrar um certo complexo. Gonçalo Guedes pegou na bola e fuzilou o saloio dando-nos o título. Não só o "chico-esperto" foi mal batido (a bola entra no seu "canto") como o Karma devolveu algum do bem que nos tirou esta época.

Depois dos juniores, são agora os juvenis a sagrarem-se Campeões Nacionais de Futebol, o que vem materializar o belíssimo trabalho que o CFC vem realizando na sua curta duração. O Benfica foi, na época passada, o Clube que mais atletas disponibilizou, na formação, às Selecções Nacionais, este ano, conta já com 2 títulos nas faixas etárias mais adultas, o que é sem dúvida sinal de bom trabalho.

O Benfica ainda tem um crédito enorme, ou melhor, o Karma ainda nos deve muito depois do que foi esta época desportiva no futebol senior, mas as conquistas (e soretudo a forma) do dia de ontem começaram a mudar um bocadinho a História, a Justiça foi verdadeiramente cega e decidiu bem.

Assim nos acompanhe no próximo ano desportivo.