domingo, 22 de setembro de 2013

E o Benfica 13/14 ?

Na última época estivemos às portas do Céu e caímos de forma imparável no Inferno. Uma longa época brilhante, cheia de vitórias e futebol espectacular terminou no pior cenário possível, as poucas derrotas de 11 meses chegaram para zero títulos conquistados. Apesar da brilhantez exibida, nunca no consulado de Jesus o Benfica havia terminado sem a conquista de qualquer título.

A paixão das últimas semanas da época tornaram as derrotas num pesadelo inimaginável, em pouco mais de 15 dias passou-se de uma tripla conquista a uma infinita desilusão. Com o "requinte" da época acabar com uma deselegância feia de Óscar Cardozo (amado e odiado) com o treinador (ainda mais amado e odiado). Não podia ter sido pior.

A pré-época foi a mais sensaborona e indiferente para as bandas da Luz que eu guardo memória. A ferida estava longe de estar cicatrizada e havia pouca vontade de sonhar depois da dura - e fresca - realidade se ter abatido sobre nós. Todos.

O Benfica de Jesus teve um hit na época 09/10 e tentou fazer 3 remakes consecutivos. Já se sabe que, por norma, os remakes ficam aquém do original...e apesar da 3ª versão ter tido mais "receitas" que o primeiro filme, o final deixou a desejar e nenhum grande filme se pode dar ao luxo de não ter um final em grande. Para não abandonar os termos cinematográficos, nesta época, era necessário um reboot, Jesus não pode esperar os mesmos resultados se não têm os mesmos actores (Ramires, Saviola ou Aimar) ou o mesmo argumento. Portanto - e partindo com as expectativas mais baixas de sempre e a pressão mais elevada que nunca - Jesus tem actores e argumento não para um remake mas sim um reboot de uma película vencedora.

O Benfica 13/14 tem o melhor plantel dos últimos 30 anos (pelo menos), só me lembro de um plantel que podia rivalizar, o de 92/93 (com Futre, JVP, Rui Costa, Paulo Sousa, Mozer, Paneira, etc., etc.) e mesmo que esse tivesse mais estrelas não era, de todo, tão completo como este. Na minha opinião, este Benfica actual tem todo o tipo de soluções e abundância para todas as posições, e consegue contar com uma boa meia-dúzia de foras-de-série (Salvio, Markovic, Djuricic, Gaitán, Luisão, Matic e Enzo), todos jogadores de primeira água e que fazem a diferença. Este plantel está apetrechado e repleto de bons valores qualquer que seja a estratégia.

JJ tem então ao seu dispor uma galeria de eleitos como nunca até aqui, tem quantidade e qualidade ímpar para vencer tudo o que disputar em Portugal e ombrear com os maios fortes da Europa. Mas o que está no papel, a teoria não é suficiente para vencer jogos e a disposição psicológica da equipa no início desta época estava longe de ser a ideal. Primeiro porque não se esquece um pesadelo como o da época passada de um dia para o outro, e segundo a instabilidade latente na preparação da equipa (o caso-Cardozo, as saídas de atletas) que ajudou a uma indefinição tremenda para todas as partes. Jesus porque não sabia com quem contar para agilizar e mecanizar processos e vários jogadores que estiveram com a cabeça fora até ao dia 2 de Setembro.

É muito difícil evitar que isto afecte o rendimento, é preciso muito carácter e profissionalismo para continuar a render e a servir o Benfica. Muita gente não o teve. E chegámos à competição oficial com um ar de pachorra e pouca vontade que o Marítimo (com pouco mais que garra e atitude) aproveitou fatalmente. 3 pontos ao ar e finalmente uma wake-up-call que ninguém parecia ter vontade de encarar. É nesta altura que LFV dá uma grande entrevista (terá sido tardia ?) e coloca os pontos nos iis. Esclareceu uma série de situações e redobrou o apoio à equipa técnica e jogadores, apelando a todos os benfiquistas que fizessem o mesmo. Gostei bastante da entrevista, mas se teríamos vencido o Marítimo se ela tivesse sido dada antes ? Ou melhor, haveria entrevista se não tivéssemos perdido ??

São "coisinhas" destas que nos afastam da perfeição (ou de uma estrutura poderosa, vá), porque parece que no Benfica só se chama a polícia depois da bomba rebentar, vão-se usando paninhos quentes no paciente e só se opera quando o osso fica exposto. Há que saber "ler" e agir em antecipação, às vezes estes pormenores também valem pontos... Se calhar tinham valido 3...

No jogo seguinte vencemos o Gil com Alma, porque futebol foi pouco (como se esperava, ninguém passa a jogar maravilhas em 8 dias) mas valeu a atitude demonstrada, a tal raça e querer. Aquilo que faltou e muito na Madeira. Houve ainda dois episódios de realce: Jesus a confortar Maxi Pereira (cujo erro amador ia custando pontos) e Luisão na defesa do grupo perante o gang-do-assobio.

Sobre Jesus e Maxi é aquilo que um líder deve fazer, não se esquecer do Homem Maxi nas horas más e motivá-lo porque ele é fundamental neste grupo e nesta equipa. Quanto a Luisão remeto-me para a semana seguinte em Alvalade. Ele e Markovic foram gigantes. O sérvio porque é o mais parecido com um génio que vi vestir o manto sagrado desde João Vieira Pinto (e tem tanta coisa do menino d'Ouro...até o fazer golões em Alvalade) e Luisão porque é o Capitão com mais carisma do Benfica desde os saudosos tempos de Veloso ou Ricardo Gomes. A forma como ele comanda toda a defesa, como nunca se esconde nos grandes jogos e ainda como é de facto imperial no jogo aéreo defensivo. Não há nenhum defesa tão importante no Benfica actual como Luisão, um veterano com 10 anos de casa e constantemente fidedigno, é muito fácil jogar com Luisão ao lado, ele torna os companheiros melhores defesas e mantém a equipa alerta a todo o instante. É a voz do treinador e é já um símbolo do Benfica, por muito que alguns assobiem as próprias cores.

Markovic é um menino a jogar futebol nas ruas da Sérvia, só que leva o 50 nas costas e o símbolo do Benfica no peito. A forma simples, despreocupada e genial como tira adversários do caminho quase sem uma gota de suor tem muito de JVP, as recepções de costas, orientadas, também, só na velocidade o sérvio ganha (na mesma ordem em que perde para o português no jogo de cabeça). O que ele fez em Alvalade dá a ideia de que assim que dominou a bola só viu o Rui Patrício (nas 2 vezes) e foi direito a ele, ignorando a distância e os adversários que ingloriamente o tentaram parar. Podia ter feito 2 golos do outro mundo, fez um. Nada mau para quem tem 19 anos e jogava o primeiro derby na casa do adversário.

Foi um jogo estranho. Um Sporting renascido depois de um 7º lugar e finalmente com um treinador que sabe organizar uma equipa e coloca-la a pressionar. Este Sporting trabalhou sem qualquer pressão na pré-época (já não faz parte do patamar de Benfica e Porto) e chegou com 2 vitórias ao derby, jogo que, por muito fracos que eles sejam, fazem das tripas coração para nos vencer (basta recordar que os festejos destes sportinguistas na época passada resumiram-se a um golo do Porto, precisamente no dia em que confirmavam a pior classificação da sua História....lagartices, como entender tamanho complexo de pequenez ?) aliás, vencer o Benfica (1 vitória e 2 empates é o melhor que conseguiram no consulado de Jesus) é o título que almejam realisticamente.

Portanto tínhamos uma equipa certinha, a correr muito e super motivada frente a um Benfica altivo e que sabia que era melhor. A maior vontade dos leões conseguiu-lhes um golo (irregular) e algum domínio aparente mas sem criar perigo. O Benfica foi medíocre na 1ª parte mas teve uma ocasião flagrante por Salvio. No segundo tempo, e com a genialidade de Markovic, só deu Benfica, depois do empate os da casa perderam-se completamente e o segundo golo do Benfica estava próximo. Via-se um Sporting partido, desesperado e sucessivas cavalgadas benfiquistas a rondarem a baliza adversária. O Benfica não soube ou não conseguiu (Cardozo inexistente ainda sofreu um penalty de catedral ignorado olimpicamente por um tal de Hugo Miguel) matar o jogo e o Sporting lá conseguiu equilibrar o jogo nos minutos finais.

Com o fim do derby chegou o fim do período de transferências e uma acalmia no plantel e no psicológico do grupo. Vinha aí a Champions e novos desafios. Nesta altura não espero nota artística, o Benfica tem de ganhar jogos mesmo que jogue de forma horrível (mas tem melhorado significativamente), porque as vitórias, nesta altura, serão o complemento ideal, servirão de cola para unir todo o grupo, deixemos as genialidades para depois.

Venceu-se o Paços, o Anderlecht (excelente equipa, para mim mais forte que o Olympiakos) e o Guimarães com 6 golos marcados e 1 sofrido, bom prenúncio para o que se segue. A equipa não dá show ainda mas está mais sólida e tem imenso para crescer, se conseguir fazer esse crescimento vencendo todos os jogos a ilusão voltará e com ela a confiança e autoestima dos jogadores. Esta equipa vai ser muito boa, mas só disputará títulos se não escorregar até Dezembro, se conseguirmos vencer jogos a nota artística e os muitos golos surgirão tranquilamente, mas de momento é hora de apostar na solidez, de arriscar menos e esperar pelo melhor momento de forma sem perder jogos nem pontos.

P.S. - grande Jesus no final do jogo em Guimarães. Vénia. Que aquelas acções demonstrem o seu comprometimento com o Clube.