quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Ulrich-Haberland, 15 de Março de 1994

Depois do Verão Quente e de um início de campeonato com 3 empates, o Benfica chegava à Primavera liderando o Campeonato e nos 1/4 de final da extinta Taça das Taças (graças ao épico 5-2 do Jamor, poucos dias antes desse malfadado defeso).

O Leverkusen era o adversário. Naquela altura tínhamos equipa para nos batermos de igual para igual com os melhores (na época passada caíramos injustamente frente à Juve de Trap), portanto o nome Leverkusen não me apoquentou. Mas era criança e desconhecia o futebol alemão.

O 1-1 da Luz mostrou-me que não ia ser fácil. Jogámos mal e empatámos, salvo erro com um golo do Isaías muito perto do final. Chegávamos à Alemanha em desvantagem na eliminatória.

O Benfica entrou personalizado e a jogar (bem) ao ataque, sucediam-se as oportunidades e brilhava um tal de Dirk Heinen (que creio que nem era o GR titular) que parecia defender tudo. Marca o Leverkusen. Continuamos a jogar bem, bem melhor, e continuamos a falhar (ou Heinen a defender). Apesar do bom futebol, os alemães fazem o 2-0 com uma boa desmarcação do "monstro" Bernd Schuster.

Na altura lembro-me de ler uma crónica que não esqueci até hoje, dizia essa crónica «vi o jogo no lobby do hotel, com um estrangeiro, com o 2º golo dos alemães, ele soltou um "pronto, foi o fim do Leverkusen". E teve razão. A partir desse momento o Benfica deixou de ter "amarras" e partiu na busca da felicidade». Para um miúdo como eu, aquilo não era de imediata compreensão, mas a verdade é que fez todo o sentido.

O Benfica não foi jogar à maluca, o adversário impunha respeito e havia empatado na Luz, logo, e apesar do bom futebol tínhamos algumas cautelas. Mesmo depois do primeiro golo sabíamos que marcando a eliminatória ficava empatada, é o golo de Schuster que retira qualquer hipótese de prolongamento e solta as amarras mentais dos nossos futebolistas. A partir dali já não havia nada a perder.

E o Benfica entusiasmou-se, fez jus ao seu historial de equipa mítica e foi à procura de ser feliz. E essa felicidade começa onde menos se esperaria: o lateral-direito Abel Xavier. Rui Costa conta que quando recebeu a bola tinha outra ideia, mas que desde o primeiro segundo, Abel Xavier lhe gritava «passa! passa!». O Rui passou. De calcanhar. Um tiraço de Abel Xavier batia finalmente Heinen e devolvia o Benfica à discussão da eliminatória.

Num ritmo frenético, o Benfica não abrandou e chegou ao empate num cabeceamento de JVP (que deu cabo da cabeça ao Schuster, que inclusivé teve algumas entradas muito feias sobre ele) após canto de Rui Costa. Estávamos na frente, o 2-2 apurava-nos. Mas aquele Benfica queria mais, e num fabuloso contra-ataque Kulkov faria o 2-3. Era o delírio, o Benfica havia virado um jogo de 2-0 para 2-3, na Alemanha onde nunca havia vencido.

Com pouco tempo para jogar a eliminatória parecia resolvida, eram precisos 2 golos alemães para sermos eliminados. Surgiu então uma das pechas desse ano: os pontapés de canto (como noutro jogo mítico dessa época: o 3-6 de Alvalade). Havia tal tremideira da equipa (especialmente de Neno) nos cantos que a percentagem de golos sofridos dessa forma seria enorme.

Pois bem, em poucos minutos sofremos 2 golos e estávamos fora. O 4-3 deixou-nos atordoados a todos, depois de tal jogatana íamos ser eliminados. Mas a Mística Benfiquista marcou presença no Ulrich-Haberland naquela noite de 15 de Março e os nossos heróis marcariam o golo do apuramento. O russo Kulkov encarregar-se-ia de culminar uma excelente jogada e levar à loucura os benfiquistas (houve muita gente que se sentiu mal nesse jogo, muita gente que acabou a festejar no hospital) e explicou o que significa impróprio para cardíacos.

Havíamos eliminado o Leverkusen numa das mais belas páginas da nossa história. Quem viu esse jogo, quem viveu aquela batalha em directo nunca mais a esqueceu, que grande Benfica !!

Que os heróis daquela noite de 15 de Março sirvam de inspiração para os de 14 de Fevereiro. Daqui a duas horas há Benfica, façam-nos sonhar. De preferência num jogo próprio para cardíacos. E com vitória!

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