quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

E depois do adeus...

...haverá Revolução no Benfica ?

O último jogo na fase de grupos da Champions desta época mostrou um Benfica de segundas linhas (só o Enorme André Almeida tinha sido titular no jogo anterior - 3-0 - frente ao Belenenses). Com 10 "suplentes" temeu-se o pior frente a um Leverkusen fortíssimo ofensivamente e que havia vulgarizado o Benfica na Alemanha (3-1).

Mas a "revolução" mostrou as reais capacidades dum plantel que tem sido constantemente alvo de críticas e considerado muito inferior face a outros candidatos neste cantinho à beira-mar plantado. Pois bem, uma equipa que nunca havia jogado junta, não só segurou o Bayer Leverkusen, como demonstrou excelente nível.

Vamos por partes. Artur mostrou-se seguríssimo e revelou tranquilidade sempre que interviu (e bem). Os centrais foram excelentes na entreajuda e, para surpresa minha, não demonstraram nervosismo. Destaco César porque acho que foi melhor, vi-o com uma excelente capacidade técnica, muito bom com a bola no pé e a sair a jogar. Arrisco dizer que é neste momento o 3º central da equipa, na frente de Lisandro. O argentino não complicou, mas foi menos exuberante que o seu companheiro de sector. Lisandro tem mais minutos e experiência que César neste Benfica e talvez isso tenha ajudado na performance tranquila. Pessoalmente fiquei muito melhor impressionado com César, parece-me mais rápido e mais contundente que Lisandro López, mas ambos tiveram bons desempenhos.

Nas laterais, havia algum "burburinho" com Benito que não tem demonstrado grandes capacidades para ser titular e que no último jogo havia feito um atraso inenarrável para Júlio César que só se vê nos distritais... O mesmo Benito que nos poucos minutos desse último jogo parecia ter tremido como varas verdes, apresentou-se motivado e cresceu muito durante o jogo. Foi acertando as decisões (sobretudo os passes e as movimentações ofensivas) e ganhou confiança num jogo com opositores tudo menos fáceis. Fisicamente é muito forte e talvez por isso tenha subido mais no terreno que André Almeida, mas fiquei agradado com o ritmo do suíço e com a desfaçatez com que se incorporou na manobra ofensiva.

De regresso à lateral direita (tem jogado como defesa esquerdo desde a lesão de Eliseu) esteve o senhor André Almeida. Há algum tempo que tenho pensado em escrever um post sobre André Almeida, que, nos dias de hoje, me parece um dos maiores representantes da Mística. E acredito que tem cada vez mais peso naquele balneário. Jogador de uma grande humildade, joga 5 ou 90 minutos sempre "a tope", apoia todos os companheiros dentro ou fora de campo e nunca demonstra um pingo de insatisfação ou tristeza. Muito pelo contrário, jogue em que posição jogar, Almeida é competente e um valor seguríssimo neste plantel. A mim não me surpreendeu a braçadeira no seu braço, foi um prémio justíssimo para um homem e um jogador enorme. Neste jogo voltámos a ter a fiabilidade defensiva do costume (esteve intratável perante Hulk em S.Petersburgo) e o carácter de sempre. André Almeida é - justamente - um dos nomes grandes deste Benfica contemporâneo.

Como pivot defensivo surgiu Cristante. O jovem italiano tem uma capacidade de passe, sobretudo longo, exímio, mas não é tão agressivo na reacção à perda como aquele lugar exige (recordemos Javi Garcia, Fejsa ou Matic nesse aspecto) e a velocidade não é um dos seus fortes. Se juntarmos a isso o facto de ter uma equipa adversária potente e rápida e não ter nenhum "titular" a ajudar o seu trabalho, a sua tarefa parecia muito complicada. Mas Cristante foi à luta, literalmente, e além da sua capacidade de passe e gerir ritmos, conseguiu destruir e recuperar muito jogo. Encheu o campo com pormenores deliciosos e provou que temos aqui um jogador com um potencial superior, assim ele continue a trabalhar e a crescer.

No centro do terreno, junto a Cristante apareceu...Pizzi. Pizzi "fez de Enzo" (médio de ligação, defender e atacar, box-to-box) e cotou-se só como o MVP. Um jogo brutal de Pizzi pela qualidade elevadíssima do seu desempenho. Não só fazia jogar toda a equipa como recuperava bolas com o físico, corria quilómetros e raramente falhou um passe, dono de uma capacidade técnica assinalável, Pizzi colocou a cabeça em água aos alemães. Pizzi é tão bom como Enzo ? É difícil responder, Enzo faz muitas coisas e todas bem, Enzo não sabe jogar mal, mas neste jogo Pizzi foi tão bom como Enzo Pérez, sobretudo na elevada rotação que imprimiu ao seu jogo. Mas Pizzi só fez um jogo "à Enzo", poderá ele ter o rendimento constante do argentino naquela posição ? Veremos, mas a exibição da última terça-feira roçou o óptimo.

Nas alas tivemos Ola John e Bébé (ou Tiago). Ola John voltou a mostrar que tem um nível muito alto, falta-lhe continuidade e capacidade para se auto-motivar. Tecnicamente o holandês é um privilegiado e se aliarmos essa capacidade técnica à potência física, ele tem tudo para ser um extremo de nível mundial. Mas mentalmente estará muito longe dos requisitos necessários para se atingir esse patamar de eleição, se conseguir alterar isso, Ola John será das armas ofensivas mais perigosas do Benfica.

Se à esquerda esteve Ola John, na direita jogou Tiago. O português esteve melor do que esperava mas demonstrou tudo o que eu acho dele, o bom e o mau, a saber: muito possante e rápido mas fraco e pouco inteligente na tomada de decisão. Um jogador com a capacidade física dele precisa ser mais maduro na hora de passar, rematar ou cruzar. Nesse aspecto, Tiago é um jogador muito infantil e precipitado, é preciso trabalhar a tomada de decisão, sobretudo num jogador com a sua potência física e que tem tanta facilidade para se "ir embora" do seu marcador directo.

Derley e Lima formaram a dupla de avançados. Lima voltou a esforçar-se mas falhou um golo cantado de forma incrível e pareceu não ter conseguido apagar esse momento da sua memória. Se noutros jogos esta época, mesmo não marcando, Lima exibiu-se a muito bom nível, frente ao Leverkusen esteve abaixo do seu real valor. Já Derley demonstra a cada dia que está a crescer, que é um excelente pivot ofensivo, na forma como segura a bola, como faz paredes com os colegas e na forma como luta por todas as bolas. Ou muito me engano ou Derley terá um papel importante nesta época.

Do banco vieram os outros dois destaques: João Teixeira e Nélson Oliveira. O "miúdo" João Teixeira estreou-se de forma oficial nos seniores e em pouco mais de 5 minutos conseguiu expulsar um adversário e mostrou ser um jogador bastante rotativo (apesar de algo ingénuo também), depois da fantástica pré-época, há que contar com ele.

Nélson Oliveira provou, em apenas 15 minutos, que merece mais tempo de jogo (nem pensem em empresta-lo em Janeiro) e que é um avançado de elite: fino, técnica apuradíssima e um brilhante jogador de equipa. Se Jesus quiser reactivar o sistema de 2 avançados que tão bom resultado deu na última época com Lima & Rodrigo, Nélson tem que jogar, e parece-me perfeito para fazer o papel do hispano-brasileiro. Oxalá Nélson se tenha motivado (ele que aparentou uma cara "triste" desde que entrou em campo) e saiba capitalizar estes escassos mas brilhantes 15 minutos. E oxalá Jesus perceba que Nélson Oliveira tem muito a acrescentar a este Benfica, nem Lima nem Derley têm a sua capacidade técnica e nem Jonas tem a potência e velocidade do jovem formado nas nossas escolas. 2015 pode ser o ano de Nélson Oliveira. Disse-se muitas vezes que só lhe faltava um clique para explodir definitivamente, eu acho que esse clique não passa pela obtenção de um golo mas sim por uma mudança de chip na forma como o próprio Nélson abordará a questão. É ele quem tem que primeiramente mudar a sua atitude para se tornar um titular absoluto. A amostra foi boa e JJ não a pode ter ignorado.

O que ficou provado é que este plantel não é, de todo, tão fraco como se apregoava e que Jorge Jesus tem trabalhado bem. Porque uma coisa é incluir 2, 3 ou 4 jogadores numa equipa com rotinas e dinâmicas, outra bem diferente é colocar uma equipa nova e que ela demonstre os princípios de jogo da titular, a isso chama-se qualidade de treino. E se esta exibição não trouxer uma revolução no 11 (porque é difícil que jogadores como Enzo, Salvio e Gaitán, ou até Luisão não sejam titulares), já trouxe certamente uma esperança num futuro risonho.

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