terça-feira, 4 de junho de 2013

A decisão que tardou mas finalmente chegou

Jorge Jesus renovou oficialmente o contrato com o Sport Lisboa e Benfica por 2 épocas. Na minha perspectiva é a melhor decisão para o nosso Clube, porque me parece que JJ tem muito mais virtudes que defeitos. O upgrade que o futebol benfiquista conseguiu nestes 4 anos (veja-se o registo no ranking da UEFA, onde, estamos perto de ser a 5ª melhor equipa neste período) é para mim responsabilidade (quase total) do treinador.

Não chegou para vencer títulos, é verdade, e o Benfica existe para vencer TÍTULOS, mas não me parece nada que a míngua de conquistas seja obra do treinador. Conto pelos dedos das mãos as más prestações desta época, aqueles jogos em que o treinador agiu/reagiu mal (de cor, lembro-me de Moscovo, Istambul, Bordéus em casa, os 2 jogos com o Beira-Mar, a final da TP). Não acho que tenha sido má a opção da meia-final da TL, em Braga, onde o Benfica (com mais de meia equipa titular de "fora") realizou uma boa partida e só foi eliminado nas grandes penalidades (depois de um 0-0) porque o árbitro não viu uma penalidade gigante sobre Gaitán perto do fim. E se havia que gerir a equipa (uma das grandes críticas ao JJ de outras épocas) estabelecendo prioridades, fazê-lo ali, na Pedreira, e daquela forma, pareceu-me legítimo e acertado.

O jogo com o Barcelona na Luz terá sido o único em que "vendemos" a nossa identidade e quisemos ser nós a adaptar-nos ao adversário. Correu mal. Mas houve ali uns 20 minutos iniciais (Lima isolado frente a Valdés) que poderiam ter escrito outra história. Jesus vergou-se ao poderio daquele Barcelona ainda antes do jogo e decidiu lutar "inferiorizado" perante, provavelmente, a melhor equipa da História do futebol moderno. Curiosamente, quando nada tinha a perder na Catalunha, decidiu jogar "tu-a-tu" e vulgarizou esse mesmo Barcelona (com vários titulares ausentes, é verdade, mas a nossa disposição táctica foi de tal forma agressiva e assertiva que os catalães passaram largos minutos sem pisar o meio-campo ofensivo). Mas também não venceu.

Lembro-me do Benfica de Koeman ter empatado 0-0 na Luz frente ao Barcelona (que viria a sagrar-se Campeão Europeu nesse ano) e a exibição ter sido bem mais "envergonhada" e triste que a do 0-2 desta época. Mas para a História quase nunca ficam as exibições, mas sim os números que reflectem o placard final.

No "jogo do título", na 29ª jornada, não acho nada que também aí tenhamos "vendido a alma ao diabo". Entrámos personalizados, muito compactos e unidos, e até marcámos primeiro. Defensivamente estivemos sempre com o jogo controlado, não se viram sufocos nem aflições. E isso acontece porque a estratégia dessa noite passava por sermos uma EQUIPA, por tentar ser mais fortes e disciplinados tacticamente. O Benfica foi unido e entregou o controlo do jogo ao adversário, que, sendo aquele o 'jogo do ano' para eles, nunca consegui ser fulgurante ou avassalador. E não o conseguiu por mérito da garra e valentia dos nossos.

A ideia não era jogar ao ataque ali, a ideia era ser compacto e tentar ser eficiente no contra-golpe, jogar com o desespero (que se viu) do adversário. A nossa exiição, no meu entender, foi boa, mas foi tendo aqui e ali (como em todos os jogos e com todas as equipas) algumas pequenas falhas. Falhas essas (posicionais ou de julgamento) que só se tornam evidentes quando acabam em golos sofridos. O Porto faz 2 golos fortuitos, sendo que o último é um claro "chuto no destino" de uma equipa que estava amordaçada de todas as formas pelo Benfica. Reparem nos últimos 15 minutos desse desafio e vejam como a nossa classe e tranquilidade havia tonado impotentes os adversários. Os adversários e o público (que saiu mais cedo e assobiou a entrada de... Kelvin).

Na época passada, no clássico da Luz, houve "inteligências" que questionaram a substituição de Aimar (lesionado) por Rodrigo. Os mesmos que, provavelmente questionaram a ida de Roderick a jogo no Dragão...  Mas é preciso contextualizar ambas as situações.

Na Luz o Benfica havia "virado" um 0-1 para 2-1 e dominava de forma conclusiva o jogo. O Porto estava completamente aos papéis e adivinhava-se (já com Rodrigo em campo) o terceiro golo benfiquista tantas eram as nossas cavalgadas em direcção à baliza adversária. Portanto, o que JJ faz com a entrada de Rodrigo (jogador móvel, rápido, potente) para segundo avançado é manter o esquema táctico e procurar que este seja mais incisivo na área que Aimar, mesmo jogando mais recuado que Cardozo. O Benfica não mudou para 2 avançados, iniciou com um 1+1 (1 segundo avançado/médio ofensivo + 1 ponta de lança) e manteve o mesmo desenho táctico.

Rodrigo não tem a gestão de bola de Aimar, o gerir os tempos de ataque do mago argentino, mas trazia maior explosão à zona de decisão, e numa altura em que o Benfica está por cima, tentou a machadada final com a velocidade do hispano-brasileiro. E repare-se que o tandem defensivo (J.Garcia-Witsel) permaneceu inalterado. Ainda assim, houve quem falasse em Matic em vez de Rodrigo, o que, jogando em casa e na disposição táctica que se vivia naquele momento, me pareceria um erro táctico, ou melhor, seria retirar preocupação defensiva ao Porto (que estava à beira do knockout) e incitá-los a subir linhas (Cardozo seria a única unidade atacante para a marcação).

A verdade é que o resultado final (2-3) não é, claramente, consequência destas alterações. É sim resultado directo de alguns erros graves e inexplicáveis daquela aritragem: expulsão de Emerson DEPOIS de perdoar o vermelho a Djalma com muito maiores razões objectivas; não assinalar um toque evidente em Witsel, passando um livre perigosíssimo e consequente sanção disciplinar para um contra-ataque que acabaria no 2-2; e, a cereja no topo do bolo, validar um golo tão irregular como óbvia foi a irregularidade no final da partida. O Benfica é roubado nesse jogo, não o perde por culpa própria e/ou do Jesus.

Já a substituição de Roderick por Gaitán, este ano no Dragão, tem condicionantes bem diferentes. Primeiro o desgaste de Gaitán (que jogou no meio, tendo duas funções: apoiar Lima no ataque e procurar dar alguma cobertura tamém a Enzo e Matic). Depois estava a jogar fora com o resultado a seu favor, logo não me parecia inteligente arriscar ofensivamente naquele momento. O que JJ procura com Roderick (que, sejamos justos, foi valente e não jogou mal) é libertar mais Enzo (o MVP) colocando-o ao lado de Matic.

A estratégia mantinha-se a mesma, 3 homens na zona central, mas agora a comatividade e corpulência de Roderick face à inferioridade física de Gaitán. JJ não recuou linhas aqui, aliás, os melhores minutos nossos na partida acontecem depois desta substituição porque soubemos controlar mais facilmente o ímpeto (reduzido) do adversário.

Na Luz ele não "alargou" ou partiu a equipa com Rodrigo, manteve a mesma táctica procurando ser mais contundente no ataque. E ali jogava (bem!) em casa, onde a vitória era o único resultado satisfatório, portanto mostrou não ter medo ou vontade de defender o resultado. No Dragão o Benfica não precisava ganhar, estava naquela altura com um resultado que interessava, mas tamém ali não fez a equipa recuar, refrescou-a, deu-lhe mais poder de choque, mas não recuou linhas.

 Haverá ainda quem fale também no jogo com o Estoril na Luz. Se tivesse que apontar o dedo a alguém nessa noite não posso esquecer-me das perdidas de Lima e da dupla irresponsabilidade de Martins. Onde errou JJ nessa noite ? Era o 3º jogo numa semana (Marítimo, Fenerbahçe, Estoril) e devia ter "rodado", poupado jogadores ?? Numa 28ª jornada têm que jogar os melhores, por muito cansados que estejam. Naquela altura do Campeonato já não há gestão ou "rodagem" de atletas, ali é para ir a jogo com os melhores disponíveis.

E digo mais, o Benfica não ganha esse jogo porque Enzo sai lesionado. Até aos 19 minutos (altura da substituição) o Benfica havia jogado de forma avassaladora (uma cópia da 5ª feira anterior, frente aos turcos) e desperdiçado já umas 3 ocasiões claras. E para finalizar...o golo que impede a nossa vitória foi em offside...

JJ tem falhas, claro que sim, só não concordo é com muitas das que lhe apontam. Eu acho que ele tem muitas falhas no discurso, podia ser mais agragador com os nossos e implacável com os nossos rivais, podia ter menos o coração ao pé da boca e optar por alguma reserva em determinadas situações. Ainda não aprendeu quando deve "explodir" e pressionar outros e quando deve "mimar" a própria casa. E ás vezes estes "grãoszinhos de areia" causam muita mossa...

Agora tacticamente é do melhor que passou pelo Benfica. Direi mesmo que só assisti a um melhor desde que vejo o Benfica: o sueco Sven-Goran Eriksson. A forma como ele faz render a equipa, como joga de igual para igual em todos os estádios da Europa e como fez regressar um Benfica temível é notória.

É verdade que estas virtudes e qualidades tendem a esbater-se perante a ausência de títulos importantes, mas para mim o rumo certo é com Jorge Jesus. E repito, se não ganhamos mais e com maior frequência, não é decididamente por causa do nosso treinador. Que não sendo o melhor do mundo, é muito, muito, muito bom tacticamente.

Terá ele arcaboiço para levar o Benfica para o próximo nível ? A resposta segue dentro de 2 meses...

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