sexta-feira, 14 de março de 2014

Xerife de Sherwood volta a ser enganado. Três vezes!



Na história de Robin Hood, este roubava aos ricos para dar aos pobres, e tudo nas barbas do pobre Xerife da floresta de Sherwood, que ficava completamente desnorteado e irritado. Hoje Jesus deu uma de Robin Hood e voltou a repetir as maldades ao ricalhaço (o Tottenham foi a equipa que mais dinheiro gastou este Verão em toda a Europa - e no Mundo, já agora - na compra de jogadores de futebol) do...Sherwood.

Haverá muita gente a apontar o dedo (curioso não ?) à atitude de Jorge Jesus. Eu não. Já quando mostrou 4 ao Machado delirei, vê-lo repetir a bicada hoje fez-me sorrir de novo. É falta de classe ? Ok. E a classe que a equipa dele mostrou lá dentro ? Jesus deu uma "tareia" ao Sherwood dentro do campo, foi um k.o. impiedoso (ou melhor, ainda houve misericórdia para se desperdiçar o quarto no finalzinho do jogo...) de um português que não é muito bem falante mas que não pede meças a nenhum estrangeiro quando se trata de preparar as suas equipas dentro do terreno.

Gosto dos ingleses, admiro o seu fair-play, mas também sou um fã acérrimo do seu humor, e o gesto de Jesus (por classless que seja) também fez gargalhar muito inglês hoje (sobretudo os rivais do Tottenham). Durante um jogo de futebol as emoções estão ao rubro (quem nunca viu treinadores a comunicar de diferentes formas com o público adversário, o treinador rival ou até jogadores adversários ?) e saber utilizá-las a nosso favor também é uma arte. O pobre do Sherwood ainda disse que adorava devolver o gesto no final da 2ª mão (afinal a fleuma britânica não dá a outra face...) mas disse-o sem qualquer ponta de convicção que o possa fazer, e se nem ele acredita....comeu e calou.

Não acho que o gesto de Jesus tenha sido uma falta de vergonha, já disse que gostei, admito que seja latino demais para os bem-falantes e bem-pensantes que falam de tudo, criticando tudo sem nunca terem experienciado o futebol na realidade, por dentro. Já viram que para um programa de futebol convida-se tudo ? Advogados, jornalistas, médicos, cantores, etc. Num programa de culinária só falam chefs. Num de direito teremos advogados, juízes e juristas. Mas no futebol toda a gente manda o seu bitaite, toda a gente quer dar opinião, por vezes totalmente infundada... Mas adiante. Assino a afronta de Jesus porque aquilo que o Benfica fez hoje foi histórico e os 3 dedos só acentuaram esta noite europeia. O Tottenham nem tem como chorar ou barafustar com esse episódio tal o banho de bola que levou dentro de campo, o gesto de Jorge Jesus foi apenas um torcer de navalha nas três feridas inglesas. É preciso saber ganhar ? Ter respeito pelos vencidos ? Claro que sim, mas isto é um desporto de emoções, muitas à flor da pele e também é necessário extravasar alegrias grandes de vez em quando, sem insultar ninguém (e JJ não insultou).

Podíamos ser todos mais polidos, dar a outra face, elogiar toda a gente e viver num Convento de Humildade ad eternum ? Podíamos, mas era uma chatice descomunal. Eu quero esfregar 3, 4 ou 5 dedos na cara de um bom adversário quando sou superior, sujeito-me a que me façam o mesmo um dia mas trabalharei para que no fim seja eu quem o possa fazer. E se um dia me fizerem o mesmo por ter perdido...só tenho que aceitar, obviamente. O futebol é isto. Nos jogos de maior rivalidade (pela proximidade regional entre as equipas, por exemplo) que disputava, se uma das equipas goleasse a outra (imaginemos um 4-0, por exemplo) passávamos a apertar a mão dos adversários sempre com 4 dedos apenas (até ao próximo jogo...).

Quem se sente melindrado com isto está muito longe de saber o que é a sensação, a adrenalina do futebol. E meus amigos, para poder "espetar" 3 dedos nas fuças do inglês é preciso jogar «muita futabole» onde as coisas realmente se decidem: dentro das 4 linhas. E aí o Benfica "abusou" do Tottenham e derrotou-o onde nenhuma equipa portuguesa havia ganho (nem o mítico Benfica da década de 60): White Hart Lane. O resto são mesmo peanuts.

Entrámos algo receosos, havia uma falha de ligação entre a defesa e o meio-campo, não conseguíamos ter bola entre linhas (clamava-se por Enzo, que encontra sempre uma solução) e Fejsa parecia afectado (passes de risco, passes falhados) enquanto Amorim pedia mais apoio numa zona onde parecia isolado. Curiosamente os dois haveriam de assinar tremendas prestações. Sulejmani era quem parecia mais à vontade neste ambiente: queria ter a bola, pedia-a sempre e estava disposto a fazer tremer os ingleses.

O Tottenham entrou à equipa inglesa: muito lance aéreo e muito kick & rush. O Benfica parecia algo desconfortável com este início britânico e faltava alguém que pusesse gelo no jogo (como diz o Freitas Lobo). Quem começou a tirar o receio à equipa foi mesmo Sulejmani (uma das 4 novidades em relação ao último jogo do Campeonato; Sílvio, Cardozo e Amorim foram as outras), mandou-se para cima dos ingleses, correu que se fartou e fez a equipa acreditar.

Subimos um pouco as linhas, começámos finalmente a ter posse com critério e agora só esperávamos o momento certo para dar a nossa estocada. E foi num genial passe de R.Amorim que esse momento surgiu, bola lançada em profundidade ainda no nosso meio-campo a rasgar a defesa adversária e um Rodrigo embalado a isolar-se e a fazer o primeiro. Na nossa primeira oportunidade facturámos. O Tottenham teve que esperar até ao segundo tempo para dispor da sua primeira chance. E isso diz muito do que na verdade foi a primeira parte do jogo.

Essa oportunidade do Tottenham surgiu num remate de Adebayor ao lado, pouco depois dos 50'. Depois disso o Benfica voltou lá à frente, grande recuperação de Ruben Amorim que acaba a rematar em boa posição (mas com o pé esquerdo) para defesa de Lloris. Canto. Amorim vai bater o canto (de forma perfeita) e o capitão Luisão cabeceia lá para dentro. 2-0. Sem hipótese. Há muito trabalho táctico neste segundo golo, Luisão não apareceu ali solto casualmente, nem o canto é batido para uma zona morta, tudo é planeado. E a genialidade do lance começa em Fejsa, reparem na sua movimentação, segue numa direcção "arrastando" dois defesas contrários e impedindo que algum vá na direcção de Luisão, que deste modo está sozinho. Depois é "só" meter a bola no sítio combinado que o capitão irá saltar sem oposição para o golo. Laboratório benfiquista a dar cartas em Londres.

O Tottenham reduziria pouco depois num bom livre de Eriksen (o que faria Jesus deste craque se estivesse no Benfica...) mas onde a falta de Sílvio que o origina é desnecessária e Oblak deixa a sensação de poder ter feito algo mais, o livre é forte mas não é colocadíssimo.

O Benfica chegaria ao terceiro com Luisão (outra vez ele) a fuzilar o desamparado Lloris, já dentro da área, com um tiraço à ponta de lança. Podíamos ter chegado ao quarto mais que uma vez, mas os 3 dedos já haviam sido lançados... Apesar disso, os 3000 benfiquistas "abafaram" completamente White Hart Lane e foram os únicos a ser ouvidos durante 90 minutos, mostrando também a qualidade das nossas bancadas a toda a Europa. Foi uma noite europeia em grande, vamos a notas:

OBLAK - teve um início onde pareceu acusar a pressão demonstrando um nervoso miudinho em muitos lances. Vejo-o chutar com força de pé esquerdo, de pé direito e não falha, mas faz-me muita impressão que nalguns lances ele não domine primeiro e chute depois. No golo talvez se pudesse ter lançado pelo menos (mesmo que não chegasse lá) mas talvez aquela bola não fosse defensável da posição em que ele estava. Voltámos a sofrer um golo depois de Barcelos (a 1 de Fevereiro) mas desta feita o esloveno não tem culpas no cartório. Continou - na senda dos últimos, longos, jogos - a ter pouco trabalho. 2

SÍLVIO - fez um jogo certinho na lateral direita, desta feita não subiu amiúde com havia feito nos outros jogos europeus, mas defensivamente não comprometeu. Levou um amarelo que o deixa fora da 2ª mão (na falta que originaria o golo inglês). 3

LUISÃO - outra vez o homem do jogo. Cortou tudo e mais alguma coisa e ainda foi lá à frente marcar dois golaços. Tremendo. 5

GARAY - muito concentrado, não permitiu veleidades aos adversários. Um jogo tranquilo do mais-que-provável-titular da Argentina no Campeonato do Mundo. 3

SIQUEIRA - é um lateral de clube grande, defende bem e ataca melhor. Tinha o veloz Lennon pela frente e nunca se intimidou assinando outra exibição positiva. Um outro erro, na minha opinião, por não gostar de jogar feio mas nada que manche a sua prestação. 3

FEJSA - começou tremido, foi-se acalmando e no final era tudo dele. Outro jogaço do patinho feio da equipa. Não tem a técnica ou o requinte de um predestinado mas é um jogador nuclear já (fará falta na Choupana) nesta equipa. Correu para todo o lado e contribuiu muito para que Amorim se destacasse no jogo. Fejsa é hoje um guarda-costas que todo e qualquer médio do Benfica quer ter a seu lado. É o maior "achado" da prospecção benfiquista esta época e ainda vai crescer muito. 4

R.AMORIM - um jogão do Rúben a encher o campo todo. Duas assistências, um sem número de lances bem elaborados e várias bolas roubadas foram alguns dos destaques deste médio todo-o-terreno. Sempre humilde e trabalhador, não se intimidou com o maior poderio físico dos adversários e tornou-se um pesadelo para o inglês que o tivesse por perto. Já o havia dito, hoje por hoje é o 12º jogador da equipa. 4

SULEJMANI - começou on-fire e foi o primeiro benfiquista a gritar «presente!» em Inglaterra. Fartou-se de correr, criou sempre linhas de passe ofensivas e pareceu-me até mais leve que o costume. Gostei muito do Sulejmani desta noite. Apesar de ter jogado pouco esta época, admiro o seu profissionalismo e o comportamento em prol do grupo, e se o jogo de hoje servir de amostra, talvez Sulejmani ainda tenha vários truques para tirar da cartola esta época. 4

MARKOVIC - o problema com Lazar é que a fasquia já está muita alta, jogo em que não faz uma obra-prima não é jogo conseguido. Tacticamente foi irrepreensível e teve algumas acelerações brutais que podiam ter criado muito mais perigo (passes cortados in extremis, solicitações muito longas ou até mesmo más recepções orientadas). Já não é tacticamente anarquista, está um jogador de equipa na sua plenitude, mas Markets dá para na segunda mão fazeres das tuas ? 3

RODRIGO - já o vi falhar aquele lance - que hoje deu golo - várias vezes (Nou Camp, por exemplo), até a forma como colocou o corpo e o pé foi semelhante, mas hoje o nosso Fenômeno não perdoou. Aceleração brutal, defesa esquerdo nas covas e o passe de Amorim deixa-o na cara de Lloris, remate bem colocado e estava concretizado um belo (e importante) golo. No resto do jogo fartou-se de correr lá na frente e trabalhou muito, Lloris ainda lhe roubou um golo quase feito ao recuperar um mau posicionamento inicial. 4

CARDOZO - o nosso Tacuara voltou à titularidade e teve um jogo difícil como se previa. Correu enquanto fisicamente teve pernas, ganhou alguns lances pelo ar (nem sempre aproveitados pelos colegas) mas não teve oportunidade de experimentar o seu letal pé esquerdo. Foi bom para a melhoria física e também pela participação numa jornada histórica. Comecem a chorar, o Cardozo está a voltar. 2

GAITÁN - entrou bem na partida, com excelentes pormenores (assistência de luxo no último suspiro do jogo, que Siqueira desperdiçou) a darem continuidade ao seu bom momento de forma. Nico Gaitán vai ser chave na Choupana. 3

ENZO PÉREZ - não entrou tão bem no jogo como Gaitán mas ainda foi a tempo de juntar o seu grãozinho de areia à vitória da equipa. Boa técnica e visão de jogo mas menos disponibilidade que o costume, num jogo tão intenso talvez Enzo tivesse demorado a entrar no ritmo, ou simplesmente quis evitar um amarelo que o afastaria da 2ª mão. 2

LIMA - menos de 5 minutos em campo. -


Man of the match: Luisão.



Custa ver jogadores excepcionais como Paulinho e Eriksen serem tão mal aproveitados (as maravilhas que Jesus faria com eles) mas o que ficou provado é que um grande treinador não tem preço. O Tottenham tem um plantel riquíssimo, com mais e melhores soluções que o nosso, mas dentro de campo e a jogar futebol...o Benfica deu de calcanhar.

Não sei como acabará esta Liga Europa, mas também não sei como alguém baterá este personalizadíssimo Benfica em duas mãos, hoje por hoje parece-me irreal. Há uma única equipa nesta Liga Europa que me faz franzir o sobrolho: Juventus. Porque são italianos, porque jogam bem, porque são muito difíceis de contrariar, porque têm dos melhores jogadores do Mundo (Pogba - vai marcar uma era -, Pirlo, Vidal, Giovinco, uff..) e porque a final da competição será em sua casa.

Mas para se ser o melhor há que bater os melhores, se não se puder evitar a Juve....venham eles que a coisa também não será facile per lui.

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