Pablo César Aimar Giordano foi um dos maiores jogadores que tive o prazer de ver jogar com o Manto Sagrado. No restrito clube de génios só Valdo, Rui Costa e João Vieira Pinto me encheram as medidas como o Pablito.
De Aimar disse um dia Diego Armando Maradona (o melhor de sempre):
«é o único jogador por quem pagaria o bilhete só para o ver jogar». A admiração por Pablo Aimar não se esgota no seu virtuosismo técnico, além do "monstro" de jogador, era um profissional exemplar. Fustigado por lesões, não atingiu tudo o que o seu potencial augurava, tivesse a "sorte" das lesões não o molestarem e teria sido, várias vezes, indigitado para uma Bola de Ouro.
Valdano (das pessoas que melhor escreve sobre futebol no Mundo!) sintetizou assim:
«Aimar es un jugador de dibujitos animados, de fantasia (...) com una sensibilidade futbolistica extraordinária y un talento exquisito», mas acaba dizendo que jogar com continuidade é um registo supremo, não podes ser o melhor do Mundo se de 4 em 4 meses estás lesionado ou na fisioterapia.
Pego precisamente noutra citação soberba de Valdano (
Ganar queremos todos, pero solo los medíocres no aspiran a la belleza) para associar Aimar à ideia do futebol bonito, da nota artística. Os génios são, não raras vezes, incompreendidos e por vezes faltaram companheiros ao futebol de luxo de Pablo Aimar. Não é novidade para ninguém que foi Javier Saviola (outro craque) quem melhor percebeu o futebol do
Mago argentino. E a verdade é que as combinações entre os dois raramente tinham defesa, porque quando duas mentes pensam o mesmo e o executam sem falar...estamos muito próximos da beleza máxima do futebol.
O argentino, apesar de raçudo e extremamente competitivo, tem uma debilidade com a
gambeta (drible) e sobretudo com o
caño (cueca/túnel), basta recordar as palavras de Maradona após a sua estreia na 1ª divisão argentina (a 10 dias de fazer 16 anos): «perdimos pero hice un caño». Cabrera, o jogador que "sofreu" o primeiro túnel de Maradona na 1ª divisão ficou famoso por isso mesmo, e apesar da derrota, Dieguito estava eufórico com o
caño e disse que naquele dia começou a tocar o Céu. Esta simples história é bem exemplificativa de como os argentinos adoram a arte, a tal "belleza" do futebol que falava Valdano.
E só a título de curiosidade, na última chamada de Aimar à Selecção Argentina (treinada então por...Maradona), num treino onde o Mago defrontava os presumíveis titulares, foi um
caño deste a Fernando Gago que fez o Pelusa gritar:
«Caños No!!» Talvez a mudança radical daquele pibe de 15 anos para o treinador explique alguma coisa nos fracos resultados da
albiceleste, ou então demonstre que um treinador não pode perder a fantasia dos tempos de jogador em virtude do resultadismo...
Entre as imagens míticas de Aimar com o Manto Sagrado há também um
caño, a Andrea Pirlo do AC Milan (eu não sou argentino, mas confesso que é o gesto técnico que mais me agrada no futebol, e apesar de parecer simples, tem toda uma arte na sua execução) numa edição da Eusébio Cup; há aquele passe de
rabona a isolar Suazo para um golaço em Guimarães; o golo na Luz frente ao Paços onde recebe a bola no nosso meio-campo e dribla, sozinho, meia equipa adversária antes de rematar colocado para o fundo das redes; o golo do derby, onde deita Rui Patrício e, debaixo de chuva e com pouco ângulo, coloca a bola, com classe à Aimar, na baliza adversária; a
delicatessen frente ao V.Setúbal numa noite gloriosa de golos; e sobretudo o beijo ao escudo benfiquista naquela noite dos 4-1 ao PSV, é precisamente aquele frame de raiva, orgulho e delírio que guardo como A imagem de Aimar.
Costumo dizer que para se apreciar Aimar não bastam vídeos de youtube, é preciso ver um jogo dele ao vivo, apreciar tudo o que representava
El Mago. Pablito nunca foi um portento físico, sempre foi um jogador franzino, mas aprendeu a contornar esse handicap no futebol de alta competição com um controlo de bola, uma técnica refinada para esconder o esférico do adversário, que lhe proporcionava poucas perdas de bola no despique directo e muitas faltas sofridas. Depois eram as mudanças de velocidade que eram sublimes. Se no Benfica não tivemos a velocidade do
pibe do River e dos primeiros anos de Valencia, continuámos a assistir àquelas mudanças de velocidade que ultrapassavam adversários atrás de adversários. E essa sempre foi uma marca registada do futebol de Aimar. Isso e a capacidade de assistir os companheiros, de os deixar
na cara do golo. A visão de jogo, o critério no passe, o "inventar" linhas de passe eram tudo atributos do génio de Aimar, apetece-me dizer que jogar com Aimar é fácil e que quem joga com ele torna-se melhor futebolista.
Foi um orgulho imenso ver um jogador da craveira de Pablo Aimar no Benfica - o ídolo de Lionel Messi - foram 5 épocas que souberam a pouco mas que o tornaram Imortal no meu coração. Gostava de escrever algo mais que OBRIGADO PABLITO, mas acabo com uma citação daquele que um dia o argentino apelidou de
«melhor treinador que já tive»:
O Aimar é um génio para quem aprecia o futebol como arte. O futebol tem duas componentes, que são a científica e a arte, e o Aimar tem arte e tem paixão. - Jorge Jesus