Foi assim o derby de ontem para o Benfica. Desperdiçámos demasiadas oportunidades e, como se fosse pouco ainda oferecemos um golo ao Sporting. E oferecer talvez seja pouco para descrever aquilo que Artur fez naquele lance. Vi aquilo e senti a mesma estupefação que se um jogador nosso tivesse chutado a bola intencionalmente para a nossa baliza. Inenarrável.
Avancem para o minuto 0:48. Eliseu atrasa para Artur, e até lhe coloca a bola no pé "bom" (se é que Artur tem isso...), o direito. O GR está no lado esquerdo (mais congestionado) da área e tem muito espaço à sua direita. Tem duas opções lógicas e simples: a primeira é chutar com força de primeira (mesmo que para fora), a segunda é dominar e girar o seu corpo para a direita para mais facilmente chutar "para dentro do campo" (se é que não quer fazer o típico charuto para fora.
0:49. Artur, com uma calma/lentidão arrepiante, domina a bola e demostra uma "moleza" premonitória face a dois sportinguistas que se aproximam dele a grande velocidade e lhe diminuem o espaço. Marco Silva diria, no final, que a estratégia do Sporting passava por pressionar alto, homem a homem, o Benfica, para evitar que este saísse a jogar desde a defesa. Este lance é apenas um exemplo prático dessa intenção.
0:50. Inexplicavelmente, Artur, em vez de fazer o "campo grande" virando-se para a sua direita, faz o "campo pequeno" virando-se para à esquerda. Esquerda onde tem pouquíssimo espaço e onde Carrillo está a pouco mais de 1/2 metros dele.
0:51. O absurdo acontece. Artur tenta colocar a bola no sítio mais difícil e perigoso (!!), em Eliseu, com - pasme-se - um chapéu a Carrillo. Àquela distância, arrisco dizer que não era um passe nada fácil de executar (o adversário está perto demais) e era mal jogado, porque Eliseu estava sozinho e há um sportinguista (André Martins ?) que, muito provavelmente chegaria primeiro à bola que o ex-Málaga.
Para completar a sucessão de acontecimentos bizarros, Artur consegue escorregar/gatinhar depois do seu passe ter sido interceptado. Se isto não tivesse acontecido, Artur poderia ter facilmente chegado à bola antes de Slimani fazer o golo. Mas o que se viu uma dureza de rins, uma incapacidade embaraçante de demonstrar agilidade ou, vá, velocidade de processos.
Artur é finito.
Dir-se-á que Artur borrou a pintura redimindo-se no remate de Slimani perto do final da partida. Eu digo que não e deixo duas notas. A primeira é que eu não acho que tenha sido grande defesa, a bola continua o seu percurso e não é outro frango por alguma sorte, grande defesa seria ele blocar a bola para a lateral (esquerda neste caso) ou agarrá-la. Neste lance ele tem sorte de a bola ter batido nele e não ter entrado, não vi nada de extraordinário no lance e na sua deficiente abordagem. Depois, Artur trouxe-me à memória a época de 93/94. Nessa época do 3-6, houve outro jogo mítico em Leverkusen (4-4) e recordo-me particularmente dessa altura. Durante um mês ou mais (aconteceu no 4-4 e no 3-6, para mencionar só dois casos) os cantos contra o Benfica eram quase penaltys, tal a tremideira e o burburinho que se sentia no campo e no Estádio a cada pontapé do quarto de círculo. Neno era o GR da altura que parecia incapaz de socar uma bola (já não digo agarrar) vinda de um canto. Então, tal como hoje, tínhamos um grande central (Mozer), mas o nervosismo daqueles lances, e de Neno em particular, acabava por afectar toda a gente na defesa.
Aquela equipa haveria de dar a volta a essa situação porque ofensivamente era portentosa (JVP e Rui Costa entre muitos outros), a equipa de hoje tem que retirar Artur da baliza sob pena do vírus dos cantos afectar toda a equipa e adeptos.
Já o escrevi e repito: Artur é um ex-futebolista de elite mas ainda ninguém o avisou.
Este lance, além de nos ter retirado 2 pontos, haveria de marcar o subconsciente de toda a equipa até ao intervalo. O Benfica que entrara muito bem e chegara à vantagem, sentiu o "suicídio futebolístico" de Artur como um soco demasiado forte no estômago. Era óbvio que nas mentes de alguns jogadores passou a estar a incredibilidade da ação de Artur, e isso não só desconcentra como retira motivação.
O Sporting equilibraria o jogo até ao intervalo, mas mais fruto de contenção e posse do que perigo efectivo. Aliás, gostei mais do Estoril de Marco Silva o ano passado na Luz do que deste Sporting.
No segundo tempo começámos com 2 falhanços: chapéu de Gaitán e remate de Salvio (a cruzamento de Nico Gaitán) rente ao poste. Aliás, Salvio haveria de falhar mais 2 chances, uma delas flagrante, no centro da área e sem oposição.
André Almeida também esteve perto de se estrear a marcar num derby num bom cabeceamento para grande defesa de Patrício (que quanto a mim também não ficou muito bem na fotografia do nosso golo, apesar da magistral jogada colectiva; aliás Patrício já frangara na última época num cabeceamento de Luisão, mas o erro de Artur até essa "comédia" supera).
Podíamos e devíamos ter vencido ontem, e o sentimento de frustração é enorme por causa disso. Disso e da falha grotesca de Artur. Nem o mal-amado Roberto terá feito uma daquelas...
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