quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Filipe Vieira, o político

Na última entrevista do Presidente do Benfica havia ficado - e bem - o soundbyte 'Luís Filipe do Bairro das Furnas'. Hoje pouco vimos do Luís Filipe do Bairro das Furnas, entrou em campo 'Filipe Vieira, o político'. Falou muito para dizer pouco e respondeu o mesmo a diferentes questões.

Há um ponto certo em relação à problemática financeira: se o Benfica sempre foi um excelente parceiro para a banca, se sempre foi cumpridor e deu muito dinheiro a ganhar às instituições bancárias (Vieira mencionou 200M de juros pagos em 10 anos), não faz qualquer sentido que a marca BENFICA deixe de ser patrocinada e/ou deixe de dar dinheiro a ganhar aos seus parceiros económicos.

Essa parte parece-me básica e lógica, o Benfica está longe de ser um activo tóxico. Ainda assim, Vieira não quis aprofundar muito o tema, ou por não ter ainda projectado o futuro próximo com o Novo Banco ou por não vislumbrar razões para que a torneira feche para o seu lado. Mas notou-se ali um desconforto, até pela linguagem corporal (risos forçados) de Vieira, acerca do caos Espírito Santo.

Naquilo em que Vieira se mostrou assertivo foi em garantir total cumprimento das obrigações do Benfica e em negar qualquer problema de tesouraria do Clube. E acredito que haja exagerada especulação nas ligações do futebol à banca (porque ninguém conhece todos os dados) e uma - aí bem mais suspeita... - histeria em associar o Benfica à queda do BES.

E essa "teoria" de afundar o Benfica no Grupo Espírito Santo, ganha contornos maiores se repararmos na aparente fixação de alguns agentes desportivos em descapitalizar o plantel do Benfica como se não houvesse mais alvos ou outros grandes jogadores de futebol nesse mundo fora. Não acredito em coincidências, portanto há (ou houve) gente interessada em criar um reboliço de proporções calamitosas a todo o custo. E para isso usou a seu belo prazer uma CS sedenta de sangue mas cada vez menos fidedignamente informada, são as "canetas de aluguer".

Vieira deu até um belo exemplo: Danilo Pereira. O jogador faz capa hoje pela suposta transação iminente para o Benfica (que Vieira negou categoricamente). Se a CS tivesse memória, recordar-se-ia que o jogador saiu do Clube em conflito e que terá confidenciado então que queria sair porque Jesus não ia apostar nele e ele queria jogar. Com Jorge Jesus ainda no banco encarnado, como podem os mesmos jornais desportivos escrever agora que JJ aprecia o jogador ?

Mas a questão Danilo vai mais longe que isso, remete para um conflito com o Clube (o jogador terá pedido valores incomportáveis para um júnior depois de já se ter comprometido com o Parma, tendo fechado as portas de um regresso logo ali). Por aqui podemos compreender melhor como a CS vive sei rei nem roque e entregue a interesses tudo menos isentos ou equidistantes, porque não se leu nada ou quase nada acerca das relações de outros clubes portugueses com a banca. Clubes com prejuízos recentes incomparáveis com o lucro que se regista no Estádio da Luz.

Se na parte financeira ainda pairam algumas dúvidas que só o Novo Banco poderá esclarecer, na vertente desportiva Vieira foi mais longe e respondeu de forma mais clara. Começou por distinguir Garay e Cardozo das restantes vendas porque essas duas foram "opcionais", ou melhor, tiveram o anuimento  do Benfica. O argentino terá tido uma oferta "das arábias" do Zenit que se tornou irrecusável face ao vencimento na Luz (e que já era muito pesado para os nossos cofres, Ezequiel Garay era o atleta mais bem pago do plantel) e estando no último ano de contrato, o Benfica teve pouca margem de manobra. O que me continua a fazer "espécie" é não terem aparecido outros interessados. Os agentes que se desdobram a oferecer propostas e clubes, não conseguiram neste caso arranjar um clube top que oferecesse 7M (no mínimo) ? Ou o salário de Garay na Rússia é de tal forma elevado que só uma mão cheia de clubes conseguiriam igualar (e estes não teriam então interesse no Garay) ? Só assim consigo perceber esta venda.

O caso de Óscar Cardozo foi bem mais simples, o Benfica estava interessado em vender, o paraguaio faz o último grande contrato da carreira (3M líquidos por época) e deixa algum dinheiro nos cofres depois de ter perdido bastante espaço de manobra dentro dos relvados.

Também gostei de saber que Cancelo, Cavaleiro e Bernardo Silva não foram vendidos e são jogadores do Benfica. E para mim faz todo o sentido empresta-los a clubes de alguma nomeada na Europa, por comparação a Paços, Belenenses ou Braga. Estes clubes dificilmente poderiam suportar grandes salários e nunca pagariam pelos empréstimos, logo, na vertente económica é muito mais proveitoso. E se podem jogar menos "lá fora", há também o risco bom de evoluírem mais nesses campeonatos do que em equipas menores por cá. Mas o que me deixou realmente satisfeito foi perceber que os empréstimos não possuem opção de compra e que o Benfica conta com eles (esperemos que também Jesus se aperceba disso).

Siqueira. Eram 7M por 50% do passe, o que a juntar ao milhão pago pelo empréstimo levava o custo do antigo defesa esquerdo encarnado para 8M por metade do passe. Para o Benfica lucrar um milhãozinho que fosse, com uma futura venda, teria que o transacionar por 18M (muito difícil senão impossível). A questão é que o Benfica procurava "fechar" primeiro com o Siqueira, para depois renegociar valores com o Granada, e é aqui que o jogador "foge", provavelmente seduzido com outras propostas financeiramente mais interessantes para ele.

Depois há Oblak que fica muito mal na fotografia (Vieira confirmou o que já havia escrito: o Benfica nem sonhava com a sua saída) e demonstrou ser tão bom GR como fraco homem. As portas do Clube, para ele, fecharam-se. E bem! Tendo ficado no ar a ideia que o At.Madrid o terá oferecido "de volta" mais alguns milhões numa oferta por...Gaitán.

Tal como Oblak (16M), Markovic (25M) saiu pela cláusula, mas também o Benfica não contava com a saída do Sérvio D'Ouro. Talvez por se terem apercebido da felicidade e da boa ambientação de Markec ao clube e à cidade. É pena ter sido só um ano, Markovic vai marcar uma era no futebol europeu. E mais estranho ainda o Chelsea ter opção de compra (porquê ??) e não a ter exercido...

Outro aspecto onde Vieira esteve claro e conciso foi na questão Enzo & Gaitán. El Principito só sai por 30M. Não fiquei mais seguro na sua permanência (ainda assim deve fazer domingo o jogo 100 pelo Benfica, contrariando muitas previsões, incluindo a minha), mas, a sair neste defeso, só mesmo por 30M. E de Gaitán a mesma coisa, embora a cláusula deste seja de 45M, logo bem mais difícil de atingir.

Quanto a reforços, parece-me que vai entrar um GR e um '6'. Na baliza Karnezis é o eleito (...de tantos nomes falados está longe de ser o meu preferido mas...) e para "trinco" havia 2 nomes na mesa, tendo falhado a primeira opção (Guilavogui) está-se a tentar a segunda. A minha ténue esperança é que essa "segunda via" seja Jordy Clasie, mas é mais wishful thinking que outra coisa qualquer...

Avançado já não deve vir, mas Nélson Oliveira, Jara, Derlei e Lima parecem-me curtos, sobretudo quando só Lima é um valor indiscutível. A ver vamos. Dava jeito um matador tipo Mitrovic do Anderlecht. E que o "outro trinco" não fosse Rabiu..

Não achei que fosse uma grande entrevista, teve pouco sal e pouco entusiasmo, já vi Vieira fazer bem melhor. Mas esperemos por 31 de Agosto para se poder fazer um balanço mais adequado.

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