quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Agnórise...

A Tragédia Clássica vai encontrando paralelismos na vida real, e para o caso, no futebol também. No percurso da Tragédia encontramos a hybris (desafio do protagonista aos deuses) bem espelhada na fantástica campanha do Benfica na época 12/13, onde parecia querer rebentar com toda a ordem estabelecida e superiorizar-se a toda a gente. Um clube mítico, mas não fazendo parte da elite dos mais poderosos, ousou bater o pé a quem lhe aparecesse à frente e recusava-se a perder.

Depois da hybris vem a páthos (sofrimento intenso como como consequência do desafio e capaz de despertar a compaixão do espectador). As imagens do Dragão e da Amsterdam Arena encaixam na perfeição, depois de toda a garra e brio tudo ruiu de forma insuportavelmente dolorosa. A dor usou as lágrimas de milhões de benfiquistas para se tornar visível e lancinante.

A agnórise é o elemento seguinte, trata-se do reconhecimento de um facto inesperado e que irá desencadear o climax (elemento seguinte da Tragédia). E o facto a que me refiro é o empate caseiro com o Olympiakos. Há muitas condicionantes no jogo de ontem, mas a verdade é que duvido que houvesse um único benfiquista que não esperasse a vitória.... A jogar em casa contra uma equipa grega (seja ela qual for) tem que resultar em 3 pontos para nós.

A entrar em Novembro, o Benfica não fez ainda uma única grande exibição (goleadas então parecem coisas de um passado longínquo..) e acumula partidas fracas e mal jogadas umas atrás de outras. Na principal prova, o Campeonato, já tem 5 pontos de atraso, e embora sejam perfeitamente recuperáveis, foram ridiculamente perdidos. Na Europa, onde temos feito algumas das melhores exibições dos últimos anos, o rendimento está a léguas do exigível.

Jorge Jesus não é o mesmo, este ano parece-me receoso (trocar extremo por extremo sem qualquer alteração táctica na equipa e fazer as outras 2 substituições a menos de 10 minutos do fim é de quem está tudo menos confiante e galvanizador) e preocupadíssimo em não perder. Ora isso não só vai contra tudo aquilo que ele pensa sobre futebol e o seu modelo de jogo, como vai contra as raízes do Benfica: nunca desistir e lutar sempre pela vitória.

Talvez a agnórise nem seja afinal o empate grego, talvez o acontecimento mais inesperado seja mesmo a cautela de Jesus. Um treinador que ambicionava trucidar oponentes não pode agora regozijar-se com um quanto baste. A pressão (ou o páthos) fez mossa em Jesus, que além de desorientado, parece já não ter capacidade de se motivar, de motivar os atletas e por conseguinte todos nós. Ele que tinha sido o (único) catalisador dos últimos anos benfiquistas, que fez regressar o espectáculo à Luz e ombreou - desafiando - com os mais potentes clubes da Europa, aparece cada vez mais abandonado, porque a estrutura é inexistente. A "estrutura" do Benfica dos últimos 4 anos resume-se a Jorge Jesus, todos navegaram no seu sucesso e agora todos parecem escudar-se nos seus dias negros. É verdade que Luis Filipe Vieira foi coerente e lhe proporcionou o melhor plantel que há memória mas falta outra figura, com mais presença e preparada para dar o corpo às balas com maior frequência, porque se Jesus cair...todo o castelo ruirá com ele.

O climax - crescendo trágico até à peripécia - é a antecâmara da catástrofe na Tragédia Clássica, naqueles que são os seus principais elementos. O que implica que o pior ainda estará por vir....isto se esta for mesmo uma época de tragédia. O Nacional está aí à porta e não vencer seria trágico, mas como não sou pessimista - nem nunca o serei com o Benfica - penso que é altura de se rasgarem guiões trágicos e datados e se olhar para o Futuro com vontade de o devorar. O futebol, e o Benfica sobretudo, vive de paixões, do 8 ao 80 num segundo, portanto não se pode deitar a toalha ao chão prematuramente, e depois do final da época passada (haverá tragédia maior ??), se continuamos aqui é porque acreditamos na redenção que tanto merecemos.


A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à redenção pelo sofrimento. - Guerra Junqueiro

Quem aplica um castigo quando está irritado, não corrige, vinga-se.  - Montaigne.

sábado, 5 de outubro de 2013

Ai Jesus

Depois de duas más exibições (Belenenses e PSG) com dois péssimos resultados, o Benfica vive dias tensos. Mas pior que isso foram algumas declarações de Jorge Jesus. Entregar a vitória no grupo da Champions à 2ª jornada com 4 jogos para disputar (a 3 pontos do primeiro classificado, que ainda tem que vir à Luz) é tudo menos inteligente ou motivante.

JJ tem sempre o coração ao pé da boca e parece ser incapaz de dominar a arte da comunicação, longe vão os tempos das suas profecias em 09/10, onde concretizava muito do que dizia. Hoje por hoje parece ter perdido a capacidade de "abanar" a equipa e fazê-los jogar bom futebol. E marcar golos já agora.

A imagem da entrada de Rodrigo em campo (a passo, sem nervo, sem dinâmica) quando a equipa estava empatada frente ao Belenenses, para mim é sintomática. Parece que deixou de ferver o sangue aos jogadores e, pior que tudo, à equipa técnica também. O Benfica parece viver num perigoso limbo que pode hipotecar prematuramente uma época que TEM que ser vitoriosa.

Comum plantel de luxo (reitero que é o melhor que já vi), de longe o melhor dos últimos 20 anos, a equipa joga um futebol triste e sem rasgos de genialidade. Mesmo tendo perdido o maior desequilibrador do plantel (Salvio) exige-se muito mais a estes jogadores, e claro, ao treinador também. Já passou um mês desde o fecho do mercado e a equipa parece muito longe de estar estável ou em crescimento.

Nuvens negras pairam sobre o Benfica agora que se aproxima o jogo frente ao Estoril. Não tenho dúvidas que vamos vencer, mas duvido imenso que se faça um grande jogo. Espero ver sobretudo uma exibição de raça e fibra, caso contrário o futuro será mesmo negro. Só por uma vez achei que os jogadores quiseram fazer a cama ao Jesus, foi em Israel, na derrota frente ao Hapoel. O desempenho dos atletas depois disso mostrou empenho e que estavam unidos, não sei se será o caso deste grupo actual, mas quero acreditar que sim, e que o seu profissionalismo não permitirá beliscar o prestígio do Benfica, mas cabe a Jesus também, fazer das tripas coração para o bem comum. Porque a sua aparente descontração com aquilo a que temos assistido...preocupa-me.

JJ costuma responder no campo, mas este ano nem resultados nem nota artística, terá sofrido erosão ele também ?? A única hipótese de diminuir a pressão e construir confiança é fazer uma longa série de vitórias consecutivas, mas já era assim depois de Guimarães e começa a ficar tarde para uma "remontada" no destino do Clube.

E uma vitória na Amoreira significará pouco, segue-se uma pausa para selecções que impedirá que se capitalize esse bom resultado. A pressão manter-se-á, pode é ser menor durante aqueles 15 dias vencendo amanhã. E não sei até que ponto uma diminuição dessa mesma 'pressão' será boa para o grupo, relaxados já eles se têm apresentado consecutivamente.

Ou a coisa entra nos eixos ou pode haver um descarrilamento tremendo. De qualquer forma tem a palavra Jesus, porque não acredito que o despeçam no decorrer da época e muito menos que ele coloque o cargo à disposição (é demasiado orgulhoso para isso).

O futuro do Benfica parece estar a ser carregado nas costas de um só homem, não sei é se ele terá força para suportar essa cruz e ressuscitar, ou se terminará crucificado. A bem do Benfica, espero que JJ vença, era sinal que seríamos Campeões já, porque muito dificilmente uma chicotada psicológica durante esta época teria efeitos proveitosos.